Selic alta reduz venda de veículos pesados em Minas

Uma taxa básica de juros (Selic) elevada por muito tempo, mais a perspectiva da manutenção deste patamar pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), fez a Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave) revisar para baixo as projeções de vendas de caminhões e implementos rodoviários neste ano. E os efeitos da consequente desaceleração econômica já são vistos no desempenho do segmento em Minas.
A Fenabrave estimou no início do ano um crescimento de 4,5% em 2025 na comercialização de veículos pesados no País. Hoje, a projeção da federação é que as vendas do segmento caiam 7%. Em implementos rodoviários, a estimativa era de um aumento de 5% nas vendas, expectativa trocada por uma forte queda de 20% esperada para o fechamento do ano.
O aumento dos custos de financiamento, com uma Selic alta, deve implicar em uma renovação de frota menor em Minas neste ano. O emplacamento de caminhões no Estado caiu 8,46% no acumulado do primeiro semestre de 2025, em comparação com o mesmo período de 2024. Já o tombo em implementos rodoviários nos primeiros seis meses do ano foi ainda maior. O segmento observou uma redução de 26,11% nas vendas na comparação ano a ano.
O BC aumentou a Selic por sete vezes consecutivas, desde setembro do ano passado até a última reunião do Copom, em junho, quando a taxa ficou definida em 15% ao ano. Este é o maior patamar da taxa básica de juros desde julho de 2006, ainda durante o primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A próxima reunião do Copom será na semana que vem e a expectativa do mercado financeiro é de manutenção do atual patamar da Selic.
O conteúdo continua após o "Você pode gostar".
O presidente do Sindicato dos Concessionários e Distribuidores de Veículos de Minas Gerais (Sincodiv-MG), Mauro Moraes, destaca que a desaceleração econômica, provocada principalmente pela política monetária restritiva do BC, deixou as concessionárias de caminhões no Estado com os estoques cheios e aumentou bastante a inadimplência no setor.
“Isso reflete o momento econômico, com os juros nessa altura toda. O principal vetor da economia é o caminhão. E com um juro alto, para mesmo”, lamenta Moraes.
Além do impacto da Selic no desempenho, o segmento de caminhões e implementos rodoviários encontrou mais uma pedra no caminho das vendas: o tarifaço do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, previsto para entrar em vigor no dia 1º de agosto deste ano.
O presidente do Sincodiv-MG ressalta que, caso não tenha alguma reversão nas tarifas de 50% para a importação de todos os produtos brasileiros nos EUA, o tarifaço deverá acentuar a desaceleração da economia brasileira, o que será mais um golpe para os pesos pesados do setor automotivo. “No primeiro semestre já caiu, o segundo normalmente é mais forte, mas as condições econômicas não estão ajudando, além da situação com os Estados Unidos. Se isso (tarifaço) se concretizar, a queda deve ser muito maior”, alerta.
A situação é inversa no segmento de ônibus, aponta a Fenabrave, devido ao Caminho da Escola, programa do governo federal que oferece ônibus, embarcações e bicicletas com fabricação especial para o tráfego em áreas rurais e ribeirinhas, que visa garantir o acesso dos estudantes dessas regiões às escolas públicas de educação básica de difícil acesso. A entidade destaca que os pedidos da União devem manter o setor aquecido até o final do ano.
Ouça a rádio de Minas