Energia: gargalos geram alerta para ‘apagão de investimentos’ em Minas Gerais

Destaque nacional na geração de energia renovável, Minas Gerais atravessa um período de estabilidade na implantação de novos projetos. Em agosto, o Estado acumulou expansão de 553,2 megawatts em capacidade instalada em 2025, sustentado por empreendimentos construídos há mais de um ano.
As projeções, porém, apontam para um cenário de alerta: o encarecimento dos terrenos e a saturação da infraestrutura elétrica podem empurrar futuros investimentos para outras regiões do País. Os dados foram coletados pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), com análise da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg).
O consultor de mercado de energia da Fiemg, Sérgio Pataca, destaca que o Estado conquistou importantes projetos nos últimos anos e que 2025 inicia-se um período de estabilidade no setor. “Tivemos um importante crescimento e agora estamos mais constantes. Em julho, recebemos uma usina de grande porte em Pedro Leopoldo e, em outubro, estão previstas mais duas usinas, que devem injetar 1010 megawatts (MW) ao Estado”, pontua.
O resultado observado hoje, segundo ele, é fruto de projetos de anos anteriores, como 2022 e 2023, já que o planejamento de uma usina solar leva cerca de três a quatro anos. Em 2025, o especialista avalia que já se observa uma saturação das outorgas e uma redução na expansão frente aos avanços observados em outros estados.
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Um dos contextos que levam a esse cenário é o esgotamento de terras de baixo custo em Minas Gerais, o que elevou o orçamento para implantação de projetos de energia solar. Somado a isso, a capacidade de escoamento energético não teria acompanhado o crescimento do setor, inviabilizando determinados projetos.
Embora corresponda por 40% da produção solar nacional, Pataca explica que a saturação da infraestrutura e o custo de implementação podem levar o Estado a perder participação na matriz de energia brasileira: “Os melhores projetos aconteceram e a tendência é empreendimentos cada vez mais caros, focados em outros estados”.
Desafios podem afetar investimentos estratégicos em Minas Gerais
Além de reduzir o espaço na matriz elétrica brasileira, investimentos estratégicos em setores que dependem de fornecimento estável e em larga escala podem ser inviabilizados. Sem novos investimentos em infraestrutura, projetos de aportes bilionários, como datacenters e plantas de hidrogênio verde, que exigem fornecimento contínuo 24 horas por dia, podem encontrar dificuldades para se instalar no Estado.
Sem expansão da rede de transmissão e diversificação da base energética, empreendimentos robustos tendem a priorizar regiões onde há infraestrutura consolidada, ampla disponibilidade de terrenos e menor risco de gargalos. Estados como Rio de Janeiro e Bahia se destacam em competitividade e já se posicionam à frente de Minas Gerais na expansão da matriz elétrica em 2025, com 1.672,6 MW e 903,7 MW acumulados, respectivamente.
“Em ano de COP30, o Brasil está compensando intermitência com termelétricas”
Uma das alternativas defendidas pelo especialista, bem como pelo setor industrial mineiro, é o retorno de hidrelétricas com reservatório. A partir de tecnologias, como as hidrelétricas reversíveis, o setor acredita ser possível criar grandes sistemas de armazenamento, oferecendo a potência estável que falta às fontes intermitentes e garantindo maior segurança ao abastecimento.
No entanto, o País caminha para uma alternativa mais poluente e não renovável: as termelétricas, que, hoje, correspondem por 31,4% das usinas em construção neste ano. “Em ano de COP30, o Brasil está compensando intermitência com termelétricas. Estamos poluindo nossa matriz para avançarmos em energias como eólica e solar”, reforça Pataca.
E conclui o especialista: “Temos novas tecnologias de hidrelétricas que usam pouca área, quase um ciclo fechado de água e são grandes baterias renováveis de energia que não estão sendo discutidas no Brasil.”
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