À espera de ano eleitoral, setor atacadista adia investimentos e deve mudar estratégias com Selic alta

A manutenção de uma taxa básica de juros (Selic) elevada por muito tempo e a perspectiva de que ela continuará alta nos próximos meses pressionam as empresas do setor atacadista distribuidor a postergar possíveis expansões para um momento em que as condições estarão mais favoráveis, aponta Associação Brasileira de Atacadistas e Distribuidores (Abad).
Atualmente, a taxa de juros da economia está em 15% ao ano, o maior patamar desde julho de 2006, alcançado durante o primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O atual ciclo de alta dos juros foi iniciado pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central em setembro do ano passado e contou com sete elevações consecutivas. O Copom realizou o último aumento na quarta-feira (18).
As empresas do setor adotam estratégias de austeridade financeira para lidar com esta realidade, explicou o presidente da Abad, Leonardo Miguel Severini, em entrevista ao Diário do Comércio, durante a 44ª Convenção Nacional e Anual do Canal Indireto, realizada pela entidade em Atibaia (SP).
Entre as medidas, estão a extensão do prazo de pagamento para fornecedores, vendas a clientes com um prazo de pagamento reduzido e uma política de estoque mais enxuta. Uma Selic alta, destaca Severini, inibe qualquer iniciativa que demande recursos de terceiros e, consequentemente, desfavorece a implementação de um ritmo de crescimento para um negócio cuja operação é apertada entre custo e margem, com percentual de resultado baixo.
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“Qualquer planejamento de expansão, você acaba revendo, postergando para um momento em que a taxa de juros estiver num patamar mais condizente”, destacou o presidente da Abad.
O “freio” da Selic na expansão do setor atacadista distribuidor acontece em um momento em que as empresas têm notado uma expansão do mercado, segundo Severini, dado o bom momento que o País vive em termos de balança comercial, com entrada de recursos estrangeiros que impulsionam a economia.
“Com essas taxas e dado o resultado da nossa operação, que é característico da operação de varejo, cujo resultado é um pouco mais baixo do que outras operações e demanda um pouco mais de investimento, as taxas acabam sendo proibitivas e faz com que a gente adote outras medidas, que possam fazer com que nosso resultado seja de uma melhor perspectiva”, disse.
Com a realidade de uma Selic restrita para expansões, o setor atacadista distribuidor deposita certo otimismo com a demanda do segundo semestre. Tradicionalmente, o consumo das famílias e empresas na segunda metade do ano é mais aquecido do que nos primeiros seis meses, por questões sazonais, como as festividades de final de ano.
Além disso, o setor atacadista distribuidor aguarda para o próximo ano uma injeção de capital na sociedade, em virtude das eleições gerais de 2026, que deve aquecer a demanda nacional e é considerada importante tanto para as empresas do atacado, quanto da distribuição.
A ressalva, destaca Severini, fica por conta do mercado de casas de apostas on-line (bets), considerado pelo setor atacadista distribuidor o maior desafio a ser superado neste momento, mesmo em tempos de Selic em patamares historicamente elevados.
As apostas nas bets têm redirecionado um grande volume de recursos na economia, que antes eram destinados para o consumo da população.
“Esse é um problema sério na percepção do brasileiro. Ele acha que pode gerar uma receita extra (com as bets). E essa possível receita extra acaba virando uma despesa que não estava programada no orçamento dele. Isso entra num ciclo vicioso, que faz com que as pessoas acabem se endividando e gerando um problema econômico sério para o País”, argumenta.
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