Setor de autopeças pode rever investimentos com guerra comercial

O setor de autopeças de Minas Gerais pode adiar ou até mesmo suspender investimentos previstos para este ano por conta da guerra comercial provocada pelo tarifaço do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirma o diretor regional do Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores (Sindipeças), Fábio Sacioto.
Depois da Argentina, a maior economia do mundo é o maior mercado para as exportações dos componentes automotivos fabricados em todo o território nacional.
O Sindipeças estimava investimentos da ordem de R$ 700 milhões do setor de autopeças no Estado neste ano. Mesmo superior ao aportado em Minas no ano passado, de cerca de R$ 650 milhões, a cifra era considerada inferior ao necessário para o setor reverter uma tendência negativa na balança comercial.
Somente com os Estados Unidos, o diretor regional do Sindipeças destaca que o País obteve um déficit de US$ 872 milhões no comércio de autopeças em 2024. A guerra comercial do tarifaço pode deteriorar ainda mais a situação, ao ameaçar a realização dos investimentos do setor.
“Tem esse risco, sim. Provavelmente adiamentos ou suspensão de investimentos para ver até onde vai essa guerra comercial”, disse o diretor do Sindipeças. “Tudo isso gera inflação, gera mudança de cadeia produtiva, então, sem dúvida, os investimentos que estavam previstos vão ser revistos. Pode ser que sejam mantidos ou adiados”, completa.
Segundo estimativas do Sindipeças e da Associação Brasileira da Indústria de Autopeças (Abipeças), a tarifa adicional de 25% para a importação de veículos e componentes automotivos deverá gerar um aumento de US$ 275 milhões no imposto pago pelos norte-americanos para as importações de autopeças fabricadas em território nacional.
O Sindipeças afirma ainda que a guerra comercial das tarifas de Trump pode gerar uma possível desaceleração do comércio mundial, o que pode afetar as vendas externas do setor de autopeças em geral. Além disso, as medidas protecionistas devem gerar mais inflação em todo o mundo, o que tende a frear o processo de redução da taxa de juros, praticado tanto pelo Banco Central norte-americano (FED), como pelo Banco Central do Brasil.
Por fim, as associações destacam que um crescimento moderado da China, com uma previsão de 5% para esse ano, também resulta em um menor consumo de produtos brasileiros.
Sacioto ressalta que os investimentos no mercado de autopeças já são impactados pelo patamar elevado da taxa básica de juros (Selic), quando o empresariado adia os aportes nas fábricas em troca das aplicações financeiras em busca de um rendimento maior com a Selic alta.
Ele aponta que todo empreendedor do setor de autopeças está preocupado com a guerra comercial do tarifaço, tanto pelo lado do aumento do custo para os norte-americanos, que pode retrair a demanda, como pela possibilidade de retaliação do Brasil, que impactaria o custo de importações necessárias do setor.
Outra preocupação do empresariado automotivo é com os carros chineses importados para os Estados Unidos. Com as tarifas de Trump, os veículos oriundos da potência asiática podem se tornar inviáveis no mercado norte-americano, o que resultaria em um redirecionamento desses veículos – e de suas peças – para países onde os carros da China enfrentam poucas barreiras tarifárias.
“China, Índia, nos preocupam todos esses países que exportam muito para os Estados Unidos, que podem ficar com sobra de capacidade industrial e acabar direcionando para países que não têm essa restrição para importação, como é o caso do Brasil”, finaliza Sacioto.
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