Economia

Setor calçadista de Nova Serrana espera queda de 2% no faturamento em 2025

Taxação de 50% sobre os produtos brasileiros exportados para os Estados Unidos intensifica a concorrência no mercado interno
Setor calçadista de Nova Serrana espera queda de 2% no faturamento em 2025
O faturamento dos fabricantes de calçados de Nova Serrana deve fechar o ano com uma queda de 2%, prevê o Sindinova | Foto: Divulgação Marina Mello

As consequências do impacto indireto do tarifaço dos Estados Unidos, imposto em agosto aos produtos brasileiros, repercutiram no polo industrial calçadista de Nova Serrana, na região Centro-Oeste do Estado, conforme informou o presidente do Sindicato Intermunicipal das Indústrias de Calçados de Nova Serrana (Sindinova), Rodrigo Martins.

Desde agosto, os calçados brasileiros passaram a sofrer uma taxação de 50% nos produtos exportados para os Estados Unidos. Apesar de as empresas associadas não exportarem para o país norte-americano, o medo do aumento da concorrência interna se concretizou.

Segundo Martins, as empresas não foram impactadas diretamente, mas têm sentido o fluxo da concorrência aumentar e devem fechar o ano com queda no faturamento se comparado com os resultados dos últimos dois anos. “Não temos os Estados Unidos como mercado alvo de exportação, por isso, não fomos impactados diretamente. Porém, o que percebemos é o que esperávamos. As empresas mais impactadas direcionaram suas produções para o mercado interno, ampliando a concorrência”, explica.

Conforme Martins, os efeitos chegaram a atingir mais duramente outros polos, mas não o mineiro. “O aumento desse fluxo acabou fazendo com que algumas empresas que dependiam muito do mercado americano até encerrassem suas atividades. Não tivemos encerramento por aqui, mas o setor foi impactado”, ressalta.

Além do tarifaço, o presidente do Sindinova ressalta que o consumo interno caiu nos últimos meses, o que impacta ainda mais os negócios do polo de Nova Serrana. Segundo Matias, a tendência é de queda no consumo, o que deve refletir nas vendas do Natal, e consequentemente, no encerramento do ano. “Se comparado com os últimos anos, devemos ter uma queda de 2% no faturamento”, prevê.

O presidente do Sindicato das Indústrias de Calçados, Bolsas e Cintos de Minas Gerais (Sindicalçados-MG), Luiz Barcelos, afirma que ainda não é possível mensurar as consequências. “Não tenho essas informações ainda”, destaca. Em outra oportunidade, ele já havia dito ao Diário do Comércio que o setor sentiria os impactos a médio e longo prazo.

A gerente-executiva do Sindicalçados-MG, Patrícia Rajão, comenta que o que percebeu dos produtores mineiros na feira é que eles têm conseguido conquistar novos mercados. “Temos o exemplo de um associado que, para substituir o mercado americano, conquistou uma rede de lojas canadense com cerca de 60 lojas”, assinala. Ela está participando de uma das maiores feiras de calçados da América Latina, a BF Show, em São Paulo.

O presidente-executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), Haroldo Ferreira, comenta, também na BF Show, que o tarifaço causou uma perda de rentabilidade no setor. “Apesar de termos tido uma alta de 7,5% de exportação em pares de calçados, infelizmente tivemos uma queda de 1% nas exportações em dólares. O que significa uma perda de rentabilidade nesses dez primeiros meses do ano, muito em função do efeito do tarifaço”, diz.

No entanto, as perspectivas para o setor continuam com boa previsibilidade, uma vez que as exportações estavam em ascensão. “Nós acreditamos que com todos os esforços que estamos fazendo, nós devemos ter um crescimento neste ano nas exportações entre 0,2% e 3,1%. Perdemos alguns mercados, mas temos ampliado as exportações para a América do Sul”, observa.

Ferreira chama atenção, no entanto, sobre o risco das importações. “As importações também impactam nossas indústrias quanto a possibilidade de crescimento. Elas cresceram 23,8% em dólares e 22,9% em pares. É um crescimento quase 20% superior à indústria nacional”, alerta.

Segundo Ferreira, com o tarifaço, aumentaram as exportações da Ásia para novos mercados e o Brasil está sofrendo estes impactos. “Devemos encerrar o ano com um crescimento próximo de zero, porém não vamos perder, apesar do efeito de queda da exportação”, avalia.

Se cenário não mudar, previsão é de queda nas exportações em 2026

Para 2026, as expectativas variam de acordo com os rumos das questões de exportações para os Estados Unidos. “Os números poderão mudar para cima ou para baixo dependendo do desenrolar das tarifas. Cenário pior do que está acontecendo hoje em nível de importação é difícil de acontecer. Então, nossa projeção é de até 2% de crescimento para este ano”, estima Ferreira.

No entanto, para o ano que vem, o presidente da Abicalçados projeta uma mudança de cenário. A expectativa, segundo Ferreira, é que 91% da produção de calçados sejam destinados ao mercado interno. “Historicamente, exportávamos 15% da produção brasileira. Ano que vem estamos projetando o percentual de 9%. Se o cenário norte-americano não mudar, as nossas exportações do próximo ano serão profundamente impactadas, e devemos ter uma queda de 13% no volume das exportações”, prevê.

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