Setor calçadista mineiro teme não escoar coleção de inverno para os EUA

O setor calçadista de Minas Gerais é responsável por aproximadamente 4% das exportações de calçados de todo País. Desde o dia 6 de agosto, o setor passou a sofrer uma taxação de 50% nos produtos exportados para os Estados Unidos, imposta pela política comercial do presidente Donald Trump. Entretanto, os impactos ainda não foram sentidos plenamente. A expectativa do efeito está para as próximas coleções que serão negociadas em outubro, quando as vendas poderão ser impactadas mais diretamente.
Quem dá o panorama é a gerente-executiva do Sindicato das Indústrias de Calçados, Bolsas e Cintos de Minas Gerais (Sindicalçados-MG), Patrícia Rajão. Segundo ela, a maioria das coleções de verão já estavam negociadas e algumas até entregues. Para outras, as empresas correram para entregar antes da taxação. Agora, a expectativa é de como serão as negociações para as coleções de inverno de 2026, negociadas a partir do mês que vem.
O presidente do sindicato, Luiz Barcelos, espera que o impacto nas empresas de Minas seja pequeno e pontua que até agora não há como mensurar se a concorrência interna aumentou. “É um processo que leva mais tempo porque depende de pedido, desenvolvimento e adequação de produto. Não é uma coisa que a gente vai sentir no curto prazo, talvez a médio ou até longo, se a gente tiver algum impacto mais relevante”, afirmou o presidente do Sindicalçados.
Em Nova Serrana, na região Centro-Oeste, onde há um importante polo industrial do setor em Minas, o presidente do Sindicato Intermunicipal das Indústrias de Calçados de Nova Serrana (Sindinova), Rodrigo Martins, comenta que a situação é semelhante, mas nem todas as empresas já encerraram as vendas das coleções de verão. A maior preocupação por lá, entretanto, ainda é a possível chegada da concorrência interna, caso as empresas não consigam escoar para o exterior.
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“A briga comercial é mais a nível nacional e não no nosso polo. Mas já estamos vendo algumas empresas (no País) trabalharem com um perfil de negociação mais agressivo porque elas vão precisar de dar escoamento para as mercadorias. Já é um fato consolidado, mas não generalizado. Isso já produz relatos de grande preocupação de algumas empresas locais em termos de concorrência nacional, em um mercado que já estava sensível”, comenta Martins.
Por se tratar de empresas menores, Martins explica que outra preocupação é o agravamento da saúde financeira de empresas que já estavam prejudicadas pela alta da inflação e dos juros altos. “O mercado está instável, então, empresas que não possuem uma programação ou uma organização administrativa mais consolidada podem sofrer antes”, avalia.
Medidas do governo federal são insuficientes para presidente do Sindicalçados
Uma semana após entrar em vigor a aplicação, pelos Estados Unidos, da sobretaxa de 50% para produtos importados do Brasil, o governo federal anunciou a medida provisória que criou o plano “Brasil soberano”. Apesar da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), considerar as medidas emergenciais importantes para a preservação das empresas, o presidente do Sindicalçados em Minas, as considera insuficientes.
O presidente-executivo da Abicalçados, Haroldo Ferreira, avalia que o pacote contemplou, em parte, as solicitações da indústria calçadista nacional. Segundo ele, o setor reconhece medidas importantes, como a ampliação do Reintegra para 3% para todos os exportadores (para os pequenos a alíquota passa a ser de 6%), a suspensão, por um ano, do pagamento de tributos previstos no regime de drawback, e o crédito de R$ 30 bilhões para empresas exportadoras. “Além das medidas já anunciadas, tratando-se de um setor intensivo em mão de obra, seguimos na expectativa de novas medidas voltadas à manutenção dos empregos”, ressalta.
Entretanto, na opinião do presidente do sindicato em Minas, as medidas não são suficientes porque trata-se, basicamente, da oferta de crédito e só o crédito não resolve o problema. “Esse crédito vai ter que ser pago em algum momento lá na frente. Com as taxas de juros no patamar que está, fica inviável tomar (crédito). A gente precisa ter uma negociação com o governo americano para cortar as tarifas”, opina.
No campo social, de acordo com Barcelos, a perspectiva ainda é de perda de empregos, porém, não dá para atualizar os números ainda. “Temos uma perspectiva de que sejam abolidos 8 mil empregos, mas pode ser que a gente reveja estes números”, comentou.
Já em Nova Serrana, ainda não houve dispensa associada ao tarifaço, porém, a instabilidade econômica já dá sinais de piora no desempenho de algumas indústrias.
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