Setor de bares e restaurantes mantém otimismo em Belo Horizonte

O movimento em dezembro surpreendeu positivamente os donos de bares e restaurantes. Um levantamento da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), referente ao segundo semestre do ano passado, mostra que 33% dos negócios de alimentação fora de casa afirmam ter superado o movimento de antes das restrições sanitárias contra a Covid.
Mesmo que, segundo a mesma pesquisa, 42% dos estabelecimentos do setor ainda estejam faturando menos que no pré-pandemia e 14% avaliem que estão empatando com 2019, o momento é de otimismo. E é certo que o movimento surpreendente no final do ano contribuiu para a percepção de tempos melhores no setor.
“Os números do setor se assemelham aos patamares de 2019. Se formos comparar dezembro de 2021 com o mesmo mês de 2020, o aumento foi de 90%, porque fomos sacrificados por uma lei seca que derrubou o faturamento dos bares e restaurantes”, afirma o presidente da Abrasel-MG, Matheus Daniel.
“Pode ser que, em 2022, eles cresçam um pouco, em torno de 5%, porque ainda temos algumas restrições para funcionar. Acreditamos que sejam similares aos de 2019, mas não com a mesma rentabilidade por causa da inflação, que é maior nos alimentos”, completa.
Exemplo de otimismo no setor está no tradicional restaurante de gastronomia mineira Dona Lucinha. A proprietária do estabelecimento, Márcia Nunes, comemora um incremento de 40% no faturamento de dezembro, quando comparado com o mesmo mês de 2019 – já que, em 2020, a casa trabalhou praticamente só com o sistema de delivery.
“Este foi um dos melhores finais de ano que tivemos desde a Copa de 2014, que, para nós, foi um divisor de águas. De lá para cá, foram muitas idas e vindas, muita dificuldade para uma verdadeira retomada; aí veio a pandemia e foi pior ainda”, relata a empresária.
O Dona Lucinha, desde que foi inaugurado em Belo Horizonte, há mais de 30 anos, se notabilizou pelo sistema de bufê, com um verdadeiro festival de delícias da gastronomia mineira pontificando no fogão de lenha. Na reabertura, porém, o sistema foi proibido.
“Nós não tínhamos know-how dessa linguagem do a la carte. Nem a cozinha, nem a equipe, nem eu no comando da casa. Tivemos que achar o tempero desse sistema com novos equipamentos e muito treinamento. Para nós, foi um renascimento”, revela Márcia Nunes.
Diante da variante Ômicron, ela acredita que o momento é de cautela, mas não de recuo. “Vamos agarrar o momento, mas com cuidado redobrado. Cuidar, cuidar, cuidar; voltar é não relaxar”, define. “O dia de amanhã é um enigma, a pandemia colocou um ponto de interrogação nas nossas atividades. Mas o otimismo é uma herança materna e tenho esperança de que as coisas vão melhorar”, diz Márcia Nunes.
Para Matheus Daniel, da Abrasel-MG, a variante é um sinal de alerta, mas não de sobressalto. “A gente não acredita em novo fechamento, porque ela é altamente contaminante, mas não gera gravidade nas internações. É bom lembrar que foram fechados 1.698 leitos de enfermaria e 948 de UTI desde o auge da Covid no ano passado, mas o número de pessoas internadas é baixo. Então, não tem nada que justifique uma regressão na flexibilização de bares e restaurantes”, afirma o dirigente.
Ele cita ainda os índices de contaminação pela Covid-19 divulgados pela Prefeitura de Belo Horizonte, que apontam um RT de 1.14 no dia 7, enquanto em 30 de dezembro era de 1.18. “Estamos num patamar alto, mas a tendência é de queda”, diz Daniel.
O empresário Antonio Augusto Marcellini, do grupo Chalezinho, é mais precavido. Ele acredita que, com o aumento da contaminação, o setor enfrentará alguma retração no movimento dos próximos três meses. “Além do receio das pessoas saírem por medo da gripe e da Covid, teremos outras restrições como a exigência de um passaporte de vacina, por exemplo”, aposta.
Até lá, ele espera que as coisas voltem aos eixos. “Tem que melhorar, já ficamos muito tempo parados”, diz Marcellini. “A economia está retraída, mas eu sou otimista em relação a 2022. As eleições, por exemplo, já criam um clima de coisas novas, de esperança, que podem se refletir na retomada econômica”, completa o empresário.
O Vila Chalezinho, restaurante de Marcellini no Vila da Serra, em Nova Lima, comemora um movimento de cerca de mil pessoas, que passaram por lá em dezembro. 350 delas em eventos, inclusive o Réveillon, o que se refletiu em um acréscimo de 30% no faturamento, em relação a 2019. “O avanço da vacinação deixou as pessoas mais seguras. Já percebíamos um crescimento desde outubro, que se intensificou nos meses seguintes”, observa o gerente administrativo-financeiro da casa, Leonardo Rodrigues.
Retomada
O levantamento da Abrasel nacional confirma que a retomada no setor ganhou força mesmo foi em dezembro. Sinal disso é que 27% dos estabelecimentos disseram ter contratado funcionários no último mês do ano. Outros 22% esperam seguir contratando no início de 2022. 16% reduziram o quadro de funcionários em dezembro e 60% esperam manter a quantidade de funcionários no primeiro semestre de 2022.
“Nós temos empresários que ficaram fechados por quase dois anos e estão voltando com os mesmos negócios, outros criaram negócios diferentes, mas no mesmo setor. Ou seja, eles estão retornando ao mercado com sua experiência e garantindo que Belo Horizonte não vai perder o título de capital dos bares e de cidade criativa da gastronomia”, afirma Matheus Daniel.
Ouça a rádio de Minas