Economia

Setor de mineração discute práticas de governança

Evento na Capital traz debates sobre importância do esforço coletivo para melhor relação com todos os atores
Setor de mineração discute práticas de governança
Executivos de importantes players do setor minerário discutiram temáticas que incluíram reputação, mineração artesanal, ciclo de vida das minas, dentre outros | Crédito: Mara Bianchetti

A importância da comunicação com os stakeholders e a sinergia entre agenda ESG e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU marcaram o primeiro dia do Congresso Mineração e Comunidades, realizado em Belo Horizonte. Especialistas da área e lideranças das principais empresas do setor debatem esses e outros temas caros à indústria extrativa nacional na sétima edição do evento.

Em 2022, o congresso traz uma programação diversa com temáticas que incluem ainda reputação, mineração artesanal, ciclo de vida das minas, Compensação Financeira pela Exploração Mineral (Cfem), disposição de rejeitos, engajamento social, entre outros. Representantes de importantes players do setor debateram sobre ”Engajamento e Governança Social” em seus negócios, em prol da maturidade do setor e sua relação com os atores envolvidos na atividade. 

O CEO da Anglo American Brasil, Wilfred Bruijn; o presidente das operações no Brasil da Kinross, Gilberto Azevedo; o CEO da Appian, Paulo Castellari Porchia; a vice-presidente de Recursos Humanos da Mosaic Fertilizantes, Adriana Alencar; e o professor da FDC, Rodrigo Lopes, sob a moderação da conselheira do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram) e diretora da Kinross, Ana Cunha, foram enfáticos acerca da necessidade da transparência do setor. Eles falaram sobre as expectativas que se impõem sobre a relação mineradoras e comunidades e do quanto ainda precisa ser feito para que ruídos e prejuízos sejam evitados.

Para Wilfred Bruijn, há 30 anos a mineração era um setor que não sentia grande necessidade de se comunicar com a sociedade e a sociedade, por sua vez, também não tinha grandes demandas ou cobranças sobre o setor. Viviam “harmoniosamente em silêncio”. Agora isso mudou, devido a incidentes recentes e outros acontecimentos que foram minando essa relação. “Sabemos de todas as vantagens que a indústria mineral proporciona, mas também reconhecemos que precisamos melhorar essa reputação e a única maneira eficaz é o diálogo. Cada empresa tem uma série de ações e atividades que são positivas, mas a atividade causa impactos. Por isso, essa relação precisa ser a mais honesta e transparente possível e o que menos ajuda nesse processo é a arrogância”, avaliou.

Gilberto Azevedo destacou que são inúmeros os desafios e que nem pessoas, empresas ou a sociedade conseguirão enfrentá-los sozinhos. Por isso, é necessário um esforço coletivo e práticas de governança. “Existe um debate de como a atividade deve ser exercida, cuidados que devem ser tomados. Tudo isso é muito válido e correto, mas por si só não endereça todas as questões da sociedade e a mineração se apresenta apenas como mais um ator”, alertou.Para o executivo, as mineradoras devem se associar a demais entidades e contribuir para somar, mas sem deixar de lado as responsabilidades do poder público. “É promover essa coalizão e criar um ambiente para a construção sob a liderança de um poder público capaz“, completou.

Já Paulo Castellari lembrou que existe uma dissonância de interesses e informação. E que a indústria precisa se mobilizar, formar e mostrar o que faz de bom. Segundo ele, existem desafios estruturais como o fato de o impacto da atividade ser concentrado e os benefícios dissipados, mas que uma comunicação eficiente já é uma solução. Mas questionou: “Quanto dos negócios ou das vendas as empresas estão dispostas a investir nessa alternativa?”.

Adriana Alencar reforçou que relacionamentos são conflituosos em qualquer instância e que, novamente, o diálogo e a comunicação são os melhores caminhos. “É entender o outro, estar aberto a ouvir. E a relação com a comunidade também é isso: ouvir, entender e atuar no que é básico e necessário naquele território. Alinhar e comunicar as ações sempre pautadas e preocupadas com o legado que se deixa”, completou.

Por fim, o professor Rodrigo Lopes afirmou que não é difícil entender porque as comunidades olham com tantas ressalvas para a atividade, uma vez que impacta diretamente a vida daquelas pessoas. “A atividade é essencial e acho que essas pessoas entendem isso. Porém, existem conflitos e o que se busca são formas de se contornar e pensar de forma coletiva como construir uma melhor relação”, concluiu.

ESG e ODS precisam estar alinhados

No início da tarde de ontem, um painel sobre a conciliação entre ESG e ODS para desenvolver territórios sustentáveis na mineração abriu o evento Mineração e Comunidades que, voltou ao formato presencial, após dois anos à distância devido às restrições impostas pela pandemia de Covid-19.

Coordenadora-geral do Departamento de Desenvolvimento Sustentável na Mineração do Ministério de Minas e Energia, Dione Macedo; Marcelo Dutra, da Bamin; Giovana Kill, da Galvani; Renato Ciminelli, da Mercado Mineral; e Thais Laguardia, da ERO Brasil, debateram o assunto e foram unânimes no argumento de que ODS e ESG são intrínsecos, complementares e indissociáveis. “Eles sinalizam para a sociedade os compromissos do setor na tomada de decisões para orientar investimentos, ações e projetos. É necessário que tenhamos iniciativas em vistas de atingir os ODS mais do que cumprir obrigações legais e técnicas, pois os objetivos são bons para pessoas, organizações e instituições”, definiu Dione.

Marcelo complementou que a sinergia entre ambos proporciona maior economia, velocidade e ao mesmo tempo contempla as prioridades das empresas, da sociedade e do território minerado. Mas ponderou que isso requer uma governança forte – que não significa que a empresa tenha de fazer tudo. “É importante investir em governança, sabendo lidar com as dificuldades“, sugeriu.

No mesmo sentido, Giovanna ressaltou que ter governança é deixar de pensar apenas nas instâncias e ir em direção aos stakeholders em diversos clusters. E Marcelo Dutra repetiu que, de fato, não há como desvincular um do outro. “A mineração é muito reativa e uma reflexão necessária é: quantas condicionantes temos e quais suas relações com os ODS? É a partir dessa resposta que vamos ver o quanto a gente faz de positivo para a sociedade“, resumiu.

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