Economia

Setor elétrico vê avanços com desenho da reforma, mas indústria teme alta de custos

Reestruturação do setor elétrico traz, por exemplo, medidas de “justiça tarifária”
Setor elétrico vê avanços com desenho da reforma, mas indústria teme alta de custos
Crédito: Alisson J. Silva/Arquivo Diário do Comércio

São Paulo – A proposta de reforma do setor elétrico apresentada pelo Ministério de Minas e Energia foi bem recebida por diferentes agentes e especialistas da área, que disseram ver como positivos os avanços principalmente para a liberalização de mercado a todos os consumidores e redução de custos da energia para famílias de baixa renda.

No entanto, a proposta foi vista com cautela pela indústria, que teme potencial aumento de custos e prejuízo à sua competitividade, e também levantou preocupação geral com a tramitação no Congresso, podendo ser desfigurada pela inserção de emendas “jabutis”, como costuma ocorrer em projetos do setor.

Apresentada na véspera, a reestruturação do setor elétrico sugerida pelo Ministério de Minas e Energia traz medidas de “justiça tarifária”, como ampliação do programa Tarifa Social e isenção no pagamento da CDE, principal encargo setorial cobrado na conta de luz, para famílias de baixa renda.

O custo adicional dessas medidas, de R$4,5 bilhões para a CDE, seria compensado com uma limitação de descontos a consumidores do mercado livre de energia no uso da rede elétrica. A estimativa é de que esse corte de incentivos geraria R$10 bilhões em redução de CDE ao longo do tempo.

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O CEO da consultoria PSR, Luiz Barroso, elogiou o projeto do governo, avaliando que ele foca nos temas essenciais para a sustentabilidade e reequilíbrio do setor, buscando redividir custos e benefícios.

“A modernização da tarifa social, que está desatualizada mesmo, é importante, até para ajudar no combate ao furto de energia, que hoje custa mais de R$10 bilhões ao setor”, disse Barroso.

Ele lembrou ainda que muitos dos pontos abordados no projeto já são conhecidos do setor elétrico e discutidos há vários anos, como a abertura total do mercado livre. “As propostas são boas e permitem avanços em várias direções técnicas importantes”, observou.

A analista de energia do Itaú BBA, Marcelo Sá, apontou que os principais eixos da reforma estão alinhados às críticas que o governo tem feito sobre os custos elevados aos consumidores finais.

“Saudamos a liberalização total do mercado, pois ela permite maior concorrência para os consumidores e beneficiará a sociedade como um todo”, disse o analista em relatório, ponderando que há detalhes importantes que precisam ser observados nesse processo para não gerar desequilíbrios a outros agentes do setor, como as distribuidoras de energia.

A proposta de reforma prevê que, a partir de março de 2028, todos os consumidores de energia elétrica, inclusive residências, poderão contratar o insumo diretamente de um gerador ou comercializador, algo que hoje é restrito principalmente a empresas e indústrias.

A liberalização agradou a Associação Brasileira dos Comercializadores de Energia (Abraceel), que disse que o mercado livre de energia é “democrático e oferece um ambiente moderno e competitivo a todos”.

“A proposta apresentada equaliza direitos no setor elétrico e na sociedade em geral. Qual justificativa para, por exemplo, apenas uma parte da indústria ter acesso ao mercado livre?”, disse o presidente da Abraceel, Rodrigo Ferreira, acrescentando que consumidores podem ter economia de 30% com a migração ao mercado livre.

Uma das principais novidades introduzidas pela reforma proposta foi o fim do desconto de uso da rede elétrica de distribuição e transmissão para consumidores livres na compra de energia incentivada (eólica e solar).

“Essa medida implicaria que não haveria mais ‘spread’ para energia incentivada para consumidores finais em novos contratos. Esta é uma mudança significativa para o mercado e tem um impacto muito negativo em ativos renováveis com grandes volumes de energia incentivada não contratada”, avaliou o Itaú BBA.

Ferreira afirmou que a Abraceel ainda está analisando esse tema, que traz uma complexidade para consumidores de alta tensão, como indústria. No caso da baixa tensão, a entidade se posiciona favoravelmente ao fim desse desconto.

Reportagem distribuída pela Reuters

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