Economia

Ainda sem impacto, setor de ferro-gusa em Minas Gerais está apreensivo com tarifaço

Usinas ainda não registraram impacto da alíquota de 10%, mas temem que a medida impeça o avanço das exportações, que poderiam contribuir para a reversão das quedas recentes na produção
Ainda sem impacto, setor de ferro-gusa em Minas Gerais está apreensivo com tarifaço
Crédito: Ronaldo Guimarães

As usinas independentes de ferro-gusa de Minas Gerais estão preocupadas com o tarifaço imposto pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, mas, até o momento, ainda não registraram nenhuma redução representativa na produção industrial, afirma o presidente do Sindicato da Indústria do Ferro de Minas Gerais (Sindifer-MG), Fausto Varela.

As tarifas de Trump preocupam, já que os Estados Unidos são os maiores clientes do setor. Mas, até pelo fato de o insumo ter sido taxado em 10% e não 25%, como no caso do aço, as usinas mineiras avaliam o cenário com mais cautela em busca de uma negociação.

O presidente do Sindifer afirma que as usinas de ferro-gusa de Minas Gerais têm mantido conversas com seus consumidores norte-americanos para conseguir uma possível redução na alíquota de 10% ou até mesmo a sua extinção, já que o tarifaço também impacta nos custos dos produtos nos Estados Unidos.

“É uma situação que preocupa um pouco, porque até enquanto as coisas não se acomodarem, e elas ainda estão muito turbulentas, ainda carece de uma negociação e há espaço para negociação. Então tem a esperança e a expectativa de que isso possa minimizar o impacto ou até mesmo não ter mesmo o impacto”, diz Varela.

Ele aponta que a demanda do setor de ferro-gusa no Estado ainda está dentro do que era esperado para o ano, com uma boa carteira de vendas e uma produção nos próximos meses praticamente comprometida para exportação e mercado interno.

Ainda assim, Varela ressalta a apreensão das usinas de Minas Gerais com o tarifaço de Trump e que, caso não tenha nenhuma reversão no cenário, o setor buscará se adaptar à nova carga tributária. “Vamos tentar, com todos os argumentos possíveis, reduzir a tarifa ou retirar a tarifa. Caso não consiga, se a tarifa for para todos da mesma forma, então vamos nos adaptar à ela”, disse.

O tarifaço de Donald Trump vem em um momento um pouco delicado para o setor mineiro de ferro-gusa. Os avanços nas exportações poderiam contribuir para as usinas independentes do Estado tentarem reverter as quedas recentes na produção. Em decorrência de uma menor demanda no mercado nacional, a produção do insumo em Minas Gerais caiu nos últimos dois anos, após uma década de crescimento anual consecutivo.

Em torno de 70% da produção de ferro-gusa em Minas Gerais foi vendida ao exterior no ano passado, sendo os Estados Unidos (85%) e os Países Baixos (10%) os principais destinos.

Dependência norte-americana do ferro-gusa do exterior

Além disso, o setor enfrenta mais um desafio com a interrupção das atividades do terminal de Aroaba, próximo de Vitória, no Espírito Santo. Como a zona portuária capixaba não dispõe de uma retroárea, uma área externa ao porto para atividades logísticas e aduaneiras, o terminal multimodal de Aroaba era utilizado para armazenar o ferro-gusa produzido em Minas Gerais. De lá, era transportado para o porto de Paul, em Vila Velha, onde era embarcado.

Sem o terminal, as usinas têm de encontrar alternativas que na maioria das vezes elevam os custos, afetam a produtividade e refletem na produção. A produção de ferro-gusa das usinas independentes de Minas Gerais caiu 3,2% em 2024 em relação a 2023.

Frente a esse cenário, o relativo otimismo de Varela quanto à uma solução para o tarifaço, até mesmo com expectativa de uma possível retirada da tarifa adicional de 10%, é motivado pela realidade da maior economia do mundo no setor. Os Estados Unidos são totalmente dependentes da produção de ferro-gusa do exterior.

“Eles não têm como repor o ferro-gusa. O ferro-gusa dos Estados Unidos tem que vir de fora, é todo praticamente comprado no mercado externo, que é no Brasil, na Ucrânia, era na Rússia, agora tem essas sanções… são dependentes, eles não têm como reativar ou fazer uma indústria para produzir, e não sei se teriam custo para poder competir, mesmo com essa tarifa”, analisa.

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