Economia

Prazo para emissão de alvarás de pesquisa mineral diminui, mas outros gargalos do setor continuam

O tempo médio para liberação do título, que era de cerca de 565 dias, caiu para 130 dias
Prazo para emissão de alvarás de pesquisa mineral diminui, mas outros gargalos do setor continuam
Foto: Diário do Comércio / Arquivo / Alexandre Guzanshe

O Requerimento Eletrônico de Autorização de Pesquisa Mineral (Repem), lançado pela Agência Nacional de Mineração (ANM) em 2020, significou um avanço para o setor de pesquisa mineral. Entretanto, os reais gargalos da atividade ainda permanecem. A avaliação é do presidente do Conselho Deliberativo da Associação Brasileira das Empresas de Pesquisa Mineral e Mineração (ABPM), Luis Mauricio Ferraiuoli Azevedo.

Neste mês, a ANM divulgou que diminuiu o prazo de emissão dos alvarás de pesquisa mineral. O tempo médio para liberação do título, que era de cerca de 565 dias, caiu para 130 dias, após a ferramenta entrar em funcionamento – o que representa uma redução de 77%. A mediana também registrou incremento, passando de 297 para 90 dias (-69,7%).

Segundo a agência, os dados, extraídos de bases públicas, foram analisados estatisticamente para avaliar a eficiência do sistema. Conforme o especialista em recursos minerais da autarquia, Yolacir Carlos de Souza Santos, a análise estatística comprova que o Repem encurtou de maneira expressiva o tempo de emissão dos alvarás, evolução que não apenas reduz a burocracia, mas também abre espaço para que novos projetos de pesquisa mineral avancem com mais agilidade, fortalecendo a inovação e a competitividade do setor.

A FFA, empresa que oferece soluções jurídicas para clientes da área de mineração, fez um levantamento sobre os alvarás de pesquisa da ANM e ratificou que o prazo para a liberação do título diminuiu. O estudo comparou o tempo entre o requerimento e a publicação do alvará em processos de diferentes substâncias e estados antes e depois da ferramenta.

Tempo médio antes do Repem x depois do Repem:

  • Fosfato (Minas Gerais): 325 dias x 50 dias
  • Ferro (Minas Gerais): 146 dias x 68 dias
  • Lítio (Minas Gerais): 462 dias x 39 dias
  • Cobre (Pará): 124 dias x 27 dias
  • Ouro (Pará): 202 dias x 33 dias
  • Nióbio (Rio Grande do Norte): 81 dias x 32 dias
  • Fosfato (Goiás): 91 dias x 32 dias
  • Manganês (Bahia): 308 dias x 38 dias

Demais processos seguem arcaicos e lentos, diz Azevedo

Para Azevedo, a ANM, de fato, está mais eficiente na outorga de títulos com o requerimento eletrônico, contudo, essa agilidade não significa um ganho completo para o setor de pesquisa mineral, porque outros processos dentro da agência ainda são arcaicos e lentos. O executivo ressalta que a ineficiência gera custos para os mineradores e que os demais gargalos precisam realmente ser atacados.

Entre os problemas existentes, ele cita, por exemplo, que o exame de alvará de relatório é manual e não faz sentido o laboratório parcial de pesquisa ficar parado na autarquia esperando uma análise. Azevedo também menciona que o número de áreas devolvidas e disponibilizadas novamente para interessados segue irrisório.

“É muito importante o que estamos conquistando agora, que é colocar os leilões (de áreas) na B3. No entanto, não adianta nada você mudar o nome do leiloeiro. O negócio é oferecer mais obras de arte para leilão, porque só o leiloeiro não vai fazer nada”, pondera.

Agilidade na concessão não resulta em mais títulos concedidos

A pesquisa da FFA também fez um recorte dos alvarás concedidos entre os meses de junho e agosto, considerando os três últimos anos. De acordo com os dados, foram publicados 1.782 títulos nesse intervalo em 2023; 1.990, em 2024; e 1.735, em 2025.

Para a advogada da empresa, Samantha Bittencourt, os números indicam que, apesar da ANM ter sido mais ágil para conceder os alvarás, em função da facilidade que o sistema impõe ao interessado, as concessões seguem em níveis semelhantes, demonstrando que a redução do tempo de análise não resulta em mais títulos publicados. Na análise dela, isso significa que algo continua errado, o que pode ter relação com a falta de leilões.

Rádio Itatiaia

Ouça a rádio de Minas