Setor de serviços em Minas mantém crescimento aquém da média nacional
Em um ano de altos e baixos, o volume de serviços em Minas Gerais mantém crescimento muito aquém da média nacional. Entre janeiro e outubro, o Estado oscilou 0,1%, enquanto no Brasil o avanço alcançou 2,8%. Os dados são da Pesquisa Mensal de Serviços (PMS), divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Em dez meses, o setor registrou cinco quedas e apenas um mês (setembro) apresentou avanço superior a 1%. No recorte dos últimos 12 meses, o setor de serviços em Minas Gerais recuou 0,05%, mantendo estabilidade, contrastando novamente com o resultado do Brasil, cujo avanço foi de 3,4%.
Em 2025, uma das principais pressões negativas veio do grupo transportes, serviços auxiliares aos
transportes e correio e serviços profissionais, administrativos e complementares, que apresentaram queda de 0,9%. No último levantamento, a categoria de transportes recuou de forma ainda mais intensa (-3,9%), contribuindo para a queda do setor em Minas Gerais.
O analista do IBGE responsável pela pesquisa em Minas Gerais, Daniel Dutra, ressalta que o crescimento inferior do Estado frente aos resultados nacionais surpreende. “Historicamente, o Estado vinha acompanhando o ritmo do País, chegando até a superá-lo em momentos recentes. Neste ano, no entanto, observamos uma desaceleração acentuada localmente, enquanto o Brasil mantém o fôlego”, observa.
Ao detalhar o desempenho por categorias, o analista aponta um contraste de tendências na comparação interanual. Enquanto no cenário nacional o crescimento é disseminado, com quatro atividades positivas e apenas uma em queda, em Minas Gerais o sinal negativo predomina, com retração em três segmentos e apenas um resultado positivo.
Economia mineira sentiu com mais intensidade perda de fôlego produtivo
Na avaliação do economista e professor da UniBH, Fernando Sette Júnior, o descolamento entre o desempenho do setor de serviços em Minas Gerais e o ritmo da economia brasileira não é episódico nem pode ser explicado apenas por oscilações de curto prazo.
Com esse cenário, o economista cita que o quadro reflete um componente de demanda interna mais frágil. Ele destaca que, devido a forte integração entre setores, qualquer desaceleração nesses acaba afetando rapidamente o desempenho do setor terciário.
“A economia mineira sentiu com mais intensidade a perda de fôlego da indústria e dos investimentos produtivos, o que afeta diretamente o consumo das famílias e a demanda por serviços ligados à atividade empresarial”, analisa.
Entretanto, ele reforça que esse contraste não se explica apenas pela demanda, e sim por um fator estrutural do setor de serviços em Minas Gerais. No Brasil, o avanço teria sido sustentado, em grande medida, por atividades de maior valor agregado, como serviços de informação e comunicação, tecnologia e serviços profissionais mais sofisticados. Em Minas, esses segmentos ainda não contam com peso suficiente para compensar o fraco desempenho de áreas tradicionais.
Para os próximos meses, o docente afirma que a expectativa é de alguma melhora pontual, especialmente em serviços voltados às famílias e em informação e comunicação, mas o cenário ainda é de crescimento modesto.
“Minas dificilmente deverá alcançar o ritmo médio nacional no curto prazo. Olhando para 2026, o desempenho do setor dependerá menos da conjuntura macroeconômica brasileira e mais da capacidade do Estado de avançar em reformas estruturais, estimular investimentos em serviços de maior valor agregado, melhorar o ambiente de negócios e investir em qualificação da mão de obra”, finaliza Sette Jr.
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