Taxa de juros alta afeta setor de serviços em Minas Gerais, que registra queda de 2%

O volume do setor de serviços em Minas Gerais recuou 2% em julho deste ano em relação ao mesmo mês do ano passado, abaixo do crescimento nacional, que foi de 2,8% na mesma base de comparação. Os dados são da Pesquisa Mensal de Serviços (PMS) e foram divulgados nesta sexta-feira (12) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A queda do mês foi impactada por quatro das cinco atividades pesquisadas, com destaque para os serviços de transporte, serviços auxiliares ao transporte e correio (-5,2%), em função do pior desempenho das empresas que atuam com transporte aéreo de passageiros, logística de cargas e operação de aeroportos. Os demais recuos vieram dos serviços prestados às famílias (-2,8%), seguidos dos serviços profissionais administrativos e complementares (-0,1%) e outros serviços (-2,6%).
Conforme os dados do IBGE, apenas os serviços de informação e comunicação cresceram no Estado em julho deste ano, com alta de 2,4%, puxados pelo aumento das receitas das empresas que atuam nos segmentos de portais, provedores de conteúdo e outros serviços de informação na Internet; desenvolvimento e licenciamento de softwares.
Ainda na comparação com igual mês do ano anterior, a retração do volume de serviços em Minas foi acompanhada por 12 unidades da federação, contribuindo negativamente para o índice nacional. Rio de Janeiro (-2,9%) liderou as perdas do mês, seguido por Minas Gerais (-2%), Distrito Federal (-2,8%) e Bahia (-2,6%).
Recuo no consumo e investimentos
Segundo a economista da Fecomércio-MG, Fernanda Gonçalves, a retração é consequência da alta taxa de juros, que arrefece a economia e o consumo das famílias. Segundo ela, há um recuo de investimentos, o que faz as empresas de transporte, por exemplo, serem menos demandadas tanto pelos empresários, quanto pelos consumidores. “Os investimentos financeiros acabam se tornando mais atrativos e os gastos ou consumo diminuem”, comenta.
Avaliação semelhante faz o economista-chefe da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), João Gabriel Pio. Além da manutenção da política monetária em patamar elevado, o que tende a elevar o custo do crédito e a frear a demanda por serviços, ele pontua a questão da inflação ainda acima do teto da meta como outro fator relevante. “Isso compromete o poder de compra das famílias, criando um ambiente menos propício à expansão do setor”, comenta.
O professor de Gestão do Centro Universitário Una Stênio Afonso também enfatiza que a incerteza econômica desestimula as famílias a consumir. “O poder de compra delas está menor do que há um ano. Isso reduz o consumo, interferindo no setor de transportes. Se você tem menos compra de produtos, isso interfere diretamente no transporte em circulação”.
Comparação com o mês anterior
Quando comparados os dados do setor de serviços de julho com junho deste ano em Minas Gerais, o desempenho também foi pior, com recuo de 0,7%. O analista do IBGE responsável pela pesquisa no Estado, Daniel Dutra, destaca que a taxa foi puxada principalmente pelo volume menor de demanda do transporte ferroviário de carga, seguido pelo transporte rodoviário de cargas e, por último, pelo transporte aéreo.
“Ano passado, o setor de transporte foi um setor que motivou Minas a estar bem à frente no setor de serviços no Brasil. Já neste ano está sendo o contrário. Há muito escoamento de carga agrícola e minerária no Estado e o cenário econômico pode estar impactando”, comenta.
Ele também destaca que o índice negativo é o segundo mensal consecutivo e o quarto do ano, em sete meses. “Em todos os comparativos, Minas apresenta números piores que os registrados no Brasil. Os resultados negativos estão mais acentuados que os positivos”, diz.
Juntamente com o resultado de Minas, o estado do Amazonas (-3,5%) exerceu as principais influências negativas no índice de julho no Brasil, que variou 0,3% positivamente na mesma base de comparação.
No acumulado do ano, entretanto, o setor de serviços ainda cresce no Estado. De janeiro a julho, houve leve expansão de 0,2%, porém já sinalizando menor potência e abaixo do crescimento nacional que foi de 2,6% no mesmo período.
Segundo o economista da Fiemg, os números mostram que o ritmo de contratação do setor perdeu intensidade. “Nesse contexto, as projeções para 2025 seguem apontando para uma desaceleração do setor”, avalia João Gabriel Pio.
Entretanto, pondera que a resiliência do mercado de trabalho e o pagamento expressivo de precatórios pelo Governo Federal devem dar fôlego adicional ao consumo, ajudando a evitar uma desaceleração mais acentuada e repentina do setor.
Nesse sentido, Fernanda Gonçalves lembra que o cenário ainda é de mercado aquecido, com aumento de ganho real na renda das famílias. “Além disso, temos boas expectativas para as datas comemorativas do segundo semestre, que são fatores que podem influenciar as atividades como logística e transporte positivamente”.
Turismo cresce 1,1% em julho em Minas Gerais
As atividades turísticas em Minas Gerais avançaram 1,1% em julho no comparativo com junho, em contraste com a retração do setor nacionalmente (-0,7%). Juntamente com São Paulo (0,6%) e Paraná (2%), os três estados foram as influências positivas mais relevantes para o índice do País.
A presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis de Minas Gerais, Flávia Araújo, comenta que o resultado positivo reflete a força e a diversidade do turismo mineiro. Ela atribui o crescimento ao período de férias escolares, à realização de festivais culturais e de inverno em diversas cidades, além do crescente interesse pela gastronomia mineira, que cada vez mais é reconhecida como uma das mais ricas do Brasil.
Entretanto, reconhece que o turismo, assim como toda a economia dá sinais de arrefecimento, principalmente em razão do cenário econômico desafiador, que inclui passagens aéreas caras e menor poder de compra das famílias.
“Ainda assim, acreditamos que Minas deve encerrar o ano com desempenho acima da média nacional, sustentado pela diversidade de destinos e pelo calendário de eventos que movimenta todas as regiões do Estado”.
Os dados comprovam. Na comparação interanual (jul/25 e jul/24), as atividades turísticas em Minas Gerais apresentaram queda de 8,1%, a maior retração do País nessa base de comparação. Já no acumulado também apresentaram queda de 2,7%.
“O transporte aéreo foi o principal segmento que impactou o turismo em julho, por conta da elevação das passagens aéreas. As pessoas estão optando por viajar de outros meios de transportes ou deixando de viajar em função do alto preço das passagens”, analisa o economista do IBGE.
Ouça a rádio de Minas