Economia

Sem conseguir repassar custos, setor de transporte de cargas pode adiar renovação de frota em Minas

Atraso na manutenção dos veículos pesados pode arriscar a segurança das rodovias que cortam o Estado
Sem conseguir repassar custos, setor de transporte de cargas pode adiar renovação de frota em Minas
Foto: Alessandro Carvalho/Diário do Comércio

As empresas de transporte de cargas do Estado não têm conseguido repassar o aumento dos custos operacionais no preço do frete. Fatores como fim da desoneração da folha de pagamento, alteração da mistura de biodiesel no diesel e reajustes salariais geram diferentes impactos que comprimem as margens de lucro das transportadoras mineiras, aponta o Sindicato das Empresas de Transportes de Cargas e Logística de Minas Gerais (Setcemg).

A situação força as empresas do setor – principalmente as de pequeno porte, que possuem menor capacidade de investimento – a rever planos de manutenção dos veículos pesados e renovação de frota para conter os gastos, o que pode comprometer a segurança das rodovias que cortam o Estado, conforme avalia o presidente do Setcemg, Antonio Luis da Silva Junior.

A contenção de gastos, devido ao aumento de custos, pode forçar a transportadora a utilizar os pneus dos caminhões por mais tempo do que o previsto, ou até mesmo utilizar o próprio veículo por um período maior do que o planejado e adiar a troca por um modelo mais novo.

“A maioria das empresas de transporte de cargas absorve esse custo e isso cria um problema de falta de reserva. As empresas vão operando no vermelho”, afirma. “Uma hora chega para a inadimplência e provoca redução de custos onde não deveria ter: na manutenção, renovação de frota, a gente está preocupado com o futuro”, completa a liderança da entidade de Minas Gerais.

O Índice Nacional de Custos do Transporte de Cargas Fracionadas (INCTF) acumulou alta de 5,59% nos últimos 12 meses, em maio deste ano, segundo os dados mais recentes do indicador. Já o Índice Nacional de Custos do Transporte de Cargas Lotação (INCTL) acumulou uma elevação de 4,49% no mesmo período. Na composição do INCTF e do INCTL estão os impactos de custos diversos que sobem há meses.

Um estudo da NTC&Logística, que calcula os índices, mostra que o prazo de troca de filtros de combustível foi reduzido pela metade após o aumento da mistura obrigatória de biodiesel no diesel, de 12% para 14%, em março do ano passado, antes do aumento feito em junho, de 14% para 15%. O estudo aponta que o impacto da medida é superior a 0,5% no custo total das operações das transportadoras.

O presidente do Setcemg ressalta ainda que o fim da desoneração da folha de pagamento resultou em um aumento de 1,5% nos custos operacionais do setor de transporte de cargas. Essa alta deve chegar a quase 5% com o aumento progressivo da tributação da folha.

Já os reajustes nos salários de motoristas e trabalhadores da logística e das diárias de alimentação e pernoite, que, após negociações coletivas, subiram 9% e até 12,5%, respectivamente, geram impactos entre 2,7% a 3,6% nas despesas da operação de uma transportadora em Minas Gerais. A mão de obra representa quase um terço do custo do setor.

Empresas de transporte de cargas adotam tentativas equivocadas para recompor preços

As novas obrigações relacionadas ao seguro de carga também impactam as finanças das transportadoras, mas o presidente do Setcemg pontua que o efeito é analisado caso a caso, já que, além das obrigações com a legislação, há também as exigências impostas pelos clientes. Isso obriga as empresas de transporte de cargas a investirem mais em apólices específicas, monitoramento e gerenciamento de risco – o que também eleva o custo fixo de cada viagem em Minas Gerais.

Silva Junior declara que o setor de transporte de cargas de Minas Gerais precisa “ter coragem” para repassar os custos nos preços praticados nos fretes, para que as remunerações das viagens possibilitem que as transportadoras consigam ter lucro e capacidade de investir em renovação de frota, manutenção dos veículos pesados, treinamento da equipe, entre outros fatores.

Ele lamenta que, por falta de conhecimento, muitas transportadoras aceitam fretes com preços baixos, em um primeiro momento, depois não conseguem equilibrar o lucro e o custo, e partem para tentativas equivocadas de recomposição de preços, como aumentos do número de viagens e de carga transportada. A situação desgasta caminhões, motoristas, empresas e estradas em Minas, sem aumentar a rentabilidade operacional.

“Um frete incompatível com a realidade provoca uma distorção na nossa economia e isso nós não vamos ver agora, mas lá na frente, no futuro”, argumenta o presidente do Setcemg.

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