Comércio e serviços são mais impactados pela crise sanitária
O ano de 2020 vai chegando ao fim, marcado por incertezas, perdas, inovações e revoluções. Diferentes setores experimentaram diferentes impactos da crise imposta pela pandemia de Covid-19. Comércio e serviços talvez tenham sido os mais impactos. Para 2021, o desejo de dias melhores, mais saúde e economia pujante.
O parágrafo acima poderia ser o relato de um brasileiro qualquer, seja ele consumidor, lojista, empregado ou empreendedor. Mas é mais do que isso. Representa os experimentos e os sentimentos de porta-vozes de dois importantes setores da economia brasileira que, juntos, representam mais de 85% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional.
Em Minas Gerais, essa participação ultrapassa os 70%. Segundo o economista-chefe da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Minas Gerais (Fecomércio-MG), Guilherme Almeida, desde março de 2020, quando os impactos econômicos da Covid-19 chegaram, de fato, ao Brasil, o setor terciário vem enfrentando dificuldades a partir das medidas de distanciamento social, que geraram impacto direto no fluxo de caixa dos mais diversos estabelecimentos.
“Além disso, comércio e serviços são setores sensíveis a indicadores macroeconômicos de emprego e renda, que também foram fortemente afetados pela pandemia, e influenciam diretamente na decisão de consumo familiar. Esses efeitos conjugados afetaram diferentes segmentos e empresas de todos os portes”, explicou.
Neste sentido, Almeida ressaltou que as micro e pequenas empresas acabaram sofrendo os maiores impactos, pelo próprio perfil do negócio: falta de capacidade de respostas imediatas, menor estrutura, menos capital e menores possibilidades de novas estratégias. “As grandes empresas, por exemplo, já tinham alguma operação de e-commerce ou uma estrutura mínima de entrega. Estas sofreram impacto, mas em menor magnitude”, completou.
Segmentos – Na divisão por segmento, algumas atividades de serviços foram as mais afetadas, tais como bares, restaurantes e hotéis, justamente pelo componente de distanciamento social e a redução do fluxo de clientes. Já os menos impactados ou até mesmo impulsionados foi o varejo de alimentos, com destaque para os supermercados.
Covid-19 forçou sete meses de fechamento em BH
Igualmente em Belo Horizonte, comércio e serviços fazem, juntos, a roda da economia girar, uma vez que respondem por 70% do PIB da Capital. Mas não foi isso que aconteceu neste fatídico ano em que as restrições impostas pela Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), desde o dia 18 de março, com a publicação do primeiro decreto que autorizava apenas o funcionamento de atividades essenciais, paralisaram essa engrenagem. Com isso, dos 12 meses transcorridos, estes setores puderam funcionar em apenas cinco.
A justificativa, repetida inúmeras vezes pelo prefeito Alexandre Kalil (PSD) e sua equipe integrante do Comitê de Enfrentamento à Pandemia, é que esta era a melhor forma de conter a disseminação do vírus SARS-CoV-2 entre a população. Questionado inúmeras vezes pelo DIÁRIO DO COMÉRCIO sobre os cuidados para com a economia, o prefeito disse em todas elas que “cuidaria disso depois”.
Na noite de 15 de novembro, após ser reeleito com 63,36% dos votos dos belo-horizontinos, Kalil finalmente acenou para os empresários da cidade e disse em seu pronunciamento que, em 2021, a Prefeitura iria ajudá-los em uma união de esforços com entidades de classe, especialmente do comércio.
“Medidas estão sendo estudadas e esse é o nosso plano para o próximo mandato. Agora é a hora do comércio. Teve a hora do sacrifício, a hora da paulada na cabeça do prefeito e agora é hora de ajudar esse povo que quase quebrou”, declarou na ocasião.
Já em coletiva de imprensa realizada em 18 de dezembro, perguntado mais uma vez pela reportagem sobre essas ajudas, ele elevou o tom, dizendo que a economia já está sendo cuidada.
“Estamos com a cidade praticamente aberta e temos que ter o juízo de não acabar de matar a economia. Nada está fechado e o que está proibido é aglomeração, shows e eventos. É só ver o que está acontecendo no mundo. Quem abriu irresponsavelmente fechou tudo de novo. E estamos falando dos europeus, que tanto respeitamos. Se estamos abrindo e estamos conseguindo ampliar, não somos nós que temos que aprender com eles, eles que precisam vir aprender conosco”, respondeu.
De maneira complementar, na mesma entrevista, o secretário de Desenvolvimento Econômico, Cláudio Beato, falou que projetos de retomada econômica estão sendo desenvolvidos em diferentes frentes, como economia criativa, com destaque para a gastronomia, pequenos negócios e obras públicas e construção civil.
Já o secretário municipal de Planejamento, Orçamento e Gestão, André Reis, destacou que a Secretaria da Fazenda está fazendo estudos no campo tributário e conversando com os setores para conhecer as necessidades de cada área.
Postos de trabalho foram extintos com as medidas de isolamento

Souza e Silva lembra que o Brasil estava saindo de uma crise longa e crescendo aos poucos | Crédito: Divulgação/CDL/BH
Dados da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL-BH) indicam perdas de 7% nas vendas do comércio em 2020. No entanto, conforme o presidente da entidade, Marcelo Souza e Silva, alguns setores estão sofrendo ainda mais e a extinção de empregos na capital mineira tem sido exorbitante, uma vez que comércio e serviços respondem por 80% do mercado de trabalho da cidade.
Entre liberações e restrições, as de comércio e serviços da cidade precisaram se reinventar. Houve quem conseguiu e fez do “limão uma limonada”, renovando processos, ampliando horizontes e expandindo os negócios como nunca. Mas também tiveram aqueles que não sobreviveram. Aliás, o mais esperado diante de tantas mudanças.
“Estávamos saindo de uma crise longa, com a economia, aos poucos, conseguindo evoluir. Os índices cresciam a patamares baixos, mas evoluíam, e a pandemia arrebatou esse crescimento, afetou a geração de riqueza, de emprego e renda na cidade”, resumiu o presidente da CDL-BH.
Sobre o impacto nas empresas, informações da Junta Comercial do Estado de Minas Gerais (Jucemg) dão conta de 37.657 empresas extintas em Minas Gerais ao longo de 2020, mais 136.825 que realizaram alguma alteração, incluindo diferentes modalidades e fusão de pequenos negócios – movimento natural e esperado em épocas de crise.
Especificamente na capital mineira, conforme presidente do Sindicato de Lojistas de Belo Horizonte (Sindilojas-BH), Nadim Donato, a expectativa é que 7,7 mil estabelecimentos da Capital tenham fechado suas portas de vez, o que equivale a 22% de um total de 35 mil unidades de negócios. Em termos de empregos, isso poderá representar a extinção de 20 mil postos de trabalho em um único exercício.
“Foi um ano duro. Somando o desempenho de todo 2020, vemos a venda reduzida a cerca de um terço do valor anterior. Teremos empresas que vão faturar 30% do que faturaram em 2019 e empresas que apresentarão resultados melhores. De toda maneira, os custos não foram reduzidos na mesma proporção. Houve medidas governamentais que auxiliaram, mas a conta não fecha”, avaliou.
Em relação a 2021, os representantes das entidades são unânimes na preocupação com o consumo, que deverá ser fortemente impactado pelo fim do Auxílio Emergencial pago pelo governo federal ao longo dos últimos oito meses. O benefício socorreu 68 milhões de cidadãos diretamente, totalizando um gasto público sem precedentes de mais R$ 300 bilhões em pagamentos.
Até o momento não há qualquer indicação de que haverá um novo benefício em 2021 ou lançamento de um novo programa social pelo governo Bolsonaro. Parlamentares seguem defendendo a prorrogação do auxílio por dois ou três meses, por meio da ampliação do estado de calamidade pública, mas o ministro da Economia, Paulo Guedes, tem reafirmado que o programa chegou ao fim.
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