Siderúrgicas vivem “tempestade perfeita” no Brasil e clamam por soluções

Quedas de 5% na produção, 6% nas vendas internas, 2,3% no consumo aparente e 0,3% nas exportações. Por outro lado, alta de 40% nas importações. Essas são as previsões das siderúrgicas no Brasil para o fechamento de 2023, cenário que, somado à atual ociosidade de 40% da capacidade produtiva das usinas, é avaliado pelo setor como uma “tempestade perfeita”.
Um dos principais problemas causadores dessa situação se trata da significativa entrada de aço no País, provinda, principalmente, do mercado chinês. Somente em agosto deste ano, a China enviou quase 300 mil toneladas do produto siderúrgico para o Brasil, de um total de 496 mil toneladas importadas. Os chineses são acusados de práticas predatórias ao subsidiar os preços das mercadorias.
A evolução fica ainda mais evidente quando se avalia os primeiros oito meses de 2023 em comparação ao início dos anos 2000. No período, o volume de importações brasileiras de aço das siderúrgicas chinesas saltou de 1,4% para 54,2%. E a tendência é que a quantidade se estenda ainda mais, visto que o país asiático vem tentando escoar grande parte seu excesso produtivo à América do Sul.
Para tentar conter a “inundação” de aço e voltar a crescer, a indústria tem clamado por medidas emergenciais. Uma delas refere-se à solicitação feita ao governo federal para taxar a importação em 25%, o mesmo percentual praticado por 27 países da União Europeia, além dos Estados Unidos e México. A alíquota adotada hoje no Brasil é de 9,6%, exceto para alguns produtos.
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Conforme o presidente executivo do Instituto Aço Brasil, Marco Polo de Mello Lopes, é preciso cessar esse movimento que tem afetado todo o setor. De acordo com ele, se a “tempestade” demorar muito para passar, será grande o estrago ocasionado às siderúrgicas e à economia. Ainda segundo o dirigente, para tentar avançar sobre o debate tarifário, a entidade pediu uma audiência, em caráter de urgência, com o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
“Estamos com uma previsão de 4,8 milhões de toneladas de aço importado. Mais o que entra de importação indireta, são 9 milhões de toneladas. Isso representa 15 usinas mini-mills ou duas grandes usinas, e precisamos parar esse processo de maneira a preservar as nossas plantas (siderúrgicas), funcionando com a utilização adequada e mantendo empregos”, ressaltou Lopes à reportagem do DIÁRIO DO COMÉRCIO durante a 33ª edição do Congresso Aço Brasil.
CEOs analisam a situação da siderurgia e suas possíveis resoluções
A preocupante situação da siderurgia brasileira e as possíveis resoluções para os problemas também foram analisados por executivos de algumas das principais siderúrgicas do País. No último dia do evento, realizado entre terça-feira (26) e ontem (27), em São Paulo, os dirigentes participaram do painel “desafios e tendências da indústria do aço na visão dos CEOs”.
Para o presidente da ArcelorMittal Brasil e CEO da ArcelorMittal Aços Longos e Mineração Latam, Jefferson de Paula, o atual cenário é dramático e pode acabar gerando, inclusive, um problema social. Conforme ele, a empresa reviu suas projeções para este ano devido à situação adversa e vai produzir, no País, 1,3 milhão de toneladas de aço a menos do que previa antes.
Por sua vez, o CEO da Gerdau, Gustavo Werneck, disse que algumas usinas da empresa estão paralisadas em virtude das altas importações. Apesar disso, ele foi otimista em sua análise e frisou que já passou por “tempestades” como essa e que o setor tem oportunidades pela frente diante das transformações da sociedade, como a transição para uma economia de baixo carbono.
Enquanto isso, o diretor presidente da Aperam South America, Frederico Ayres Lima, ressaltou que a situação é estrutural e se repete pelo segundo ano seguido, sem perspectivas de que se amenize. E o diretor presidente da Villares Metals, Armin Andreas Wuzella, salientou que uma possível queima de estoque das siderúrgicas neste fim de ano pode atrapalhar ainda mais o setor.
Confira o alerta do presidente executivo do Aço Brasil, Marco Polo de Mello Lopes:
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