Só 5% de CEOs no mundo são mulheres
A presidente da Schneider Electric na América Latina, Tânia Cosentino, é uma das exceções. E ela lembra que apenas 5% dos CEOs no mundo são mulheres. A atuação da companhia na busca por inclusão de mais mulheres em seu quadro e eliminação do pay gap – disparidade salarial entre homens e mulheres – mostra como as mudanças são mais efetivas quando há representatividade nos cargos de liderança.
“Segundo dados estatísticos, precisaríamos de 100 anos para que exista o mesmo número de homens e de mulheres em todos os níveis das companhias sem gap salarial. Então, a gente tem que fazer algo agora para acelerar isso. Há governos que estão mais avançados sobre esse tema e que impõem às empresas a eliminação do gap salarial e cotas, mas, no Brasil, a gente está bastante tímida em relação a isso. A Schneider é uma empresa de tecnologias, de engenheiros, e aí já há um desequilíbrio na própria formação de engenheiras. Mas a gente tem metas de contratação, de que no mínimo 40% das pessoas hoje entrando na companhia para trabalhar sejam mulheres. Além disso, até 2020, queremos que 30% das lideranças da empresa sejam mulheres e que 95% das subsidiárias do grupo estejam trabalhando com o plano de eliminação do pay gap. Na América do Sul, neste ano, eu já eliminei o pay gap”, comenta.
Segundo ela, a empresa acredita que a diversidade traz inovação. “Não só diversidade de gênero, mas também de orientação sexual, de raça, de cultura, inclusão de refugiados, de pessoas com deficiência. Trazer perspectivas diferentes é que nos ajuda a enxergar o que aquele grupo de iguais não enxergaria. Manter só grupos de iguais em uma empresa bem-sucedida como a Schneider a mataria em alguns anos”, conclui.
Conforme estudo do IBGC, feito em 2016, apenas 7,9% dos assentos nos conselhos de empresas brasileiras são ocupados por mulheres. À frente da Women Corporate Directors (WCD) no Brasil, Leila Abraham Loria, membro do Conselho de Administração do IBGC, conta que a fundação de origem norte-americana tem hoje 80 capítulos espalhados pelo mundo, sendo que o capítulo Brasil foi criado há cerca de 10 anos, quando ainda não havia nenhuma mulher conselheira no País.
Mais conselheiras – A fundação realiza cerca de oito eventos anuais, para discutir o tema junto a conselheiros para dar luz ao tema. “O objetivo principal é aumentar o número de conselheiras nas empresas. Esses eventos contam com cerca de 300 conselheiros e presidentes, porque é importante que eles também sejam os agentes desta mudança. A gente não quer que uma mulher seja escolhida para o conselho apenas por ser mulher. A gente quer que ela pelo menos tenha chance de participar desse processo”, explica.
O número de conselheiras não sofreu grandes alterações nos últimos anos, mas o de suplentes mulheres nos conselhos subiu cerca de dois pontos percentuais entre 2017 e este ano. No entanto, esse aumento não se mostra relevante, segundo Leila, porque a função de suplente no conselho não tem poder de voto nem remuneração equivalente.
Ela acredita que essa escassez no alto escalão das empresas se dá pelo próprio processo de entrada, que acontece por indicação. “Na base das empresas, o número de mulheres e homens é quase igual, mas a medida em que você vai subindo os cargos, isso vai se afunilando. Nas gerências médias, o número de mulheres cai uns 30%, na diretoria, cai ainda mais, no CEO, mais, e, por fim, no conselho. Enquanto nos cargos executivos há um processo de seleção, no conselho, é indicação. E os homens tendem a indicar os seus pares, geralmente, outros homens. Não que eles não sejam bons nisso, mas é que eles simplesmente não se lembram das mulheres”, considera.
Outro fator determinante para a rara presença de mulheres nos conselhos administrativos é pelo fato de as que pleiteiam esses cargos não se exporem tanto como os homens na mesma posição. “Nós não fazemos um marketing pessoal como os homens fazem, porque a mulher vai para a casa e ali começa sua segunda jornada, com filhos, com marido, então, não tem tanto tempo para investir em networking”, pondera.
A WCD atua também para oferecer mentoria gratuita às mulheres para terem mais oportunidades de figurar nos cargos máximos das empresas. “No programa de mentoria deste ano, nós tivemos 220 candidatas, mas apenas 26 vagas. O número de inscritas em um período mostra que as mulheres querem se preparar ainda mais para integrar os conselhos. No programa, elas são mentoradas por conselheiros de alta certificação e experiência, e esse trabalho também gera uma conscientização neles”, revela. (JB)
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