Economia

Sobretaxa de importação do aço gera controvérsia entre setores

Embora positiva para a indústria nacional, medida do governo desagrada compradores de aço, dizem especialistas
Sobretaxa de importação do aço gera controvérsia entre setores
Governo estabeleceu cotas de importação de aço mais imposto de 25% sobre o excedente | Crédito: Agência Brasil

Ao atender um antigo pleito da indústria siderúrgica nacional e estabelecer cotas de importação de aço mais imposto de 25% sobre o excedente, o governo federal possibilita que as usinas siderúrgicas tenham mais espaço para ajustar o preço do insumo no mercado, avaliam especialistas. Mas questão é apontada ainda como um “cabo de guerra” entre a siderurgia nacional e os setores que utilizam o aço como insumo principal dos seus produtos, que, por sua vez, protestam contra a alíquota.

O anúncio da sobretaxa, feito nessa terça-feira pelo governo federal, tem impactos positivos, no geral.

“Isso é um ‘cabo de guerra’, porque os grandes clientes das usinas siderúrgicas não querem que aumente a alíquota, porque eles podem comprar o aço importado ou o aço nacional mais barato”, explica o analista de investimentos Pedro Galdi. Ele aponta que outros países, como os Estados Unidos, já adotam a taxação contra o insumo originado na China.

Especialista no mercado de commodities, Galdi afirma que a importação do produto pelo país asiático inibe a indústria nacional de majorar o valor no mercado. “O aço chinês chega no Brasil a preço de custo, então a siderurgia brasileira tem que dar desconto para competir. Existe uma pressão das grandes consumidoras de aço de que essa alíquota não vigore”, comenta.

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Em nota, a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) declarou que o Comitê Executivo de Gestão da Câmara de Comércio Exterior (Gecex), colegiado do governo federal que reúne dez ministérios, buscou o equilíbrio e a tecnicidade para que a decisão fosse a melhor possível para o País e para a competitividade da indústria.

A entidade disse entender o problema do setor siderúrgico com a importação do aço, e que foi afirmado durante o debate que não haveria aumentos de preços. A associação afirma ainda que acompanhará de perto a aplicação das regras estabelecidas e sua repercussão, no mercado e nos preços da indústria, durante os próximos 12 meses.

A economista do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Diana Chaib, considera que a medida é uma preocupação do governo federal com o fortalecimento da indústria nacional e dos produtores locais de aço. “A tentativa do governo é estimular a produção nacional e evitar perdas de participação do mercado nacional, em função do aço importado a preços mais baixos, como se fosse evitar uma ‘concorrência desleal’”, disse.

Também pesquisadora do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep), ela acredita que o aumento nas tarifas de importação do aço poderá gerar impactos positivos para as siderúrgicas do País, ao estimular a demanda interna do produto.

“Isso vai ser viável, principalmente, porque essa medida não vai gerar impactos nos preços aos consumidores e nem em nenhum elo da cadeia produtiva. Isso porque os produtores nacionais vão ter uma maior flexibilidade e uma maior margem para os preços, uma vez que a concorrência externa deve diminuir”, aponta.

Impactos

De acordo com o governo federal, estudos técnicos mostraram que a medida não trará impacto nos preços ao consumidor ou a produtos de derivados da cadeia produtiva. Nos próximos 12 meses, o comportamento do mercado será monitorado e a expectativa oficial é que a medida contribua para reduzir a capacidade ociosa da indústria siderúrgica nacional.

Inclusive, nessa quarta-feira (23), a companhia Ternium disse que vê uma ligeira melhora no mercado de aço brasileiro, mas que o Brasil ainda enfrenta fluxo elevado da importação de aço a preços considerados pela empresa como injustos. A companhia acrescentou que seu alto-forno no País está passando por reparos, após uma interrupção temporária.

O CEO da Gerdau, Gustavo Werneck, em entrevista coletiva no final do ano passado, disse que a China “tem inundado o mundo com aço subsidiado” ao desabafar contra a importação. Ele considerou as importações chinesas como o maior problema enfrentado pela indústria nacional e que o País terá de escolher entre exportar minério e gerar empregos no país asiático, ou taxar o produto chinês e preservar postos de trabalho nas usinas siderúrgicas brasileiras.

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