Tarifa média sobre as exportações de Minas Gerais para os EUA é de 37,1%, mostra FGV

A tarifa média ponderada a ser paga por Minas Gerais para acessar o mercado dos Estados Unidos (EUA) é de 37,1% após o anúncio da tarifa de 50% sobre produtos brasileiros imposta pelo o governo norte-americano no final de julho deste ano. Essa taxa é 4,1 pontos percentuais (p.p.) acima da média nacional (33%).
Os dados são do levantamento feito pelo Centro de Estudos de Negócios Globais da Fundação Getulio Vargas (FGV Global Business) da Escola de Economia de São Paulo da FGV (FGV EESP). A estimativa é baseada em dados oficiais de importações americanas e exportações estaduais brasileiras realizadas no ano passado.
O economista do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre) André Furtado Braz destaca que o café está entre os setores da economia mineira mais impactados pela taxa de 50% nas exportações. Segundo ele, o café é o principal item exportado pelo Estado para os EUA sem isenção.
Outro setor impactado em Minas é a siderurgia, que possui alguns itens atingidos (tubos de aço, fio-máquina e laminados) e outros que ficaram isentos (pig iron e ferronióbio). Braz ainda menciona os casos da carne bovina e de alguns equipamentos elétricos como os transformadores, que também entram na lista de maior risco tarifário em Minas Gerais.

O especialista destaca que Minas pode sofrer mais que os outros por exportar proporcionalmente mais itens tarifados (café e parte da siderurgia) e menos itens isentos dessas taxas como os derivados de petróleo, celulose e aeronaves.
Com base nos dados apresentados, o especialista avalia que há três mecanismos que explicam a diferença entre a taxa média estadual e a nacional. A primeira é a composição da cesta de itens exportados pelo Estado, com o café representando cerca de um terço das exportações mineiras aos Estados Unidos. “Isso puxa a alíquota efetiva para cima”, diz.
A baixa cobertura das isenções em Minas Gerais também pode explicar essa disparidade entre os resultados do Estado e a média nacional. De acordo com o economista, aproximadamente 37% da pauta mineira foi isenta, contra algo próximo a 45% no Brasil. Ele ressalta que o setor de siderurgia possui apenas algumas isenções parciais.
“Alguns itens foram isentos mas tubos, fio-máquina, laminados seguem tarifados. Como a cadeia tem peso relevante na pauta mineira, a média fica mais alta”, relata.
Impacto do tarifaço na economia brasileira
A pesquisa do FGV Global Business demonstra que a cobertura das exceções anunciadas pelo governo norte-americano alcança 46,1% das exportações brasileiras, considerando os valores exportados do Brasil para os EUA em 2024.
Porém, apesar das exceções, o tarifaço ainda é considerado uma ameaça ao setor produtivo nacional, principalmente para a indústria de transformação. A entidade avalia como fundamental que o governo brasileiro siga com os esforços para solucionar este imbróglio diplomático e comercial.

A tarifa média ponderada que o País deverá pagar para enviar os produtos brasileiros ao mercado dos EUA subiu de 2,2%, antes do anúncio das chamadas tarifas recíprocas no dia 2 de abril, para 33% a partir do anúncio do aumento dessas taxas no dia 30 de julho.
De acordo com a equipe responsável pelo estudo, é natural que as exportações brasileiras sujeitas ao valor de 50% caiam significativamente a partir da vigência do aumento tarifário, dada a sensibilidade dos fluxos comerciais e o aumento em si. Esse cenário pode acarretar em uma redução da média ponderada nos próximos meses.
No entanto, o Centro de Estudos de Negócios Globais da FGV EESP ressalta que isso não será representativo da real barreira tarifária enfrentada pelos produtos brasileiros no mercado norte-americano. Se considerar a média simples das tarifas, para todas as linhas tarifárias exportadas pelo Brasil aos EUA no ano passado – sem a influência da variação dos fluxos comerciais -, é possível observar uma subida de 3,9%, antes do dia 2 de abril, para 49% atualmente.
O economista da FGV Ibre avalia que as perspectivas para os próximos meses serão de desvio de comércio e postergações. Ele relata que tradings e indústrias dos EUA já estão postergando os embarques, com parte da produção de café sendo redirecionada para a União Europeia e países asiáticos, com desconto de preço.
Braz também apresenta como está o cenário no mercado interno, com o governo federal realizando algumas ações para mitigar os efeitos do tarifaço. “O governo federal lançou pacote de crédito e alívio tributário para os setores atingidos, o que mitiga, mas não elimina, o choque no curto prazo”, relata.
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