Economia

Tarifaço coloca em risco investimentos de junior companies no Brasil, diz ABPM

A sobretaxa norte-americana diminui a atratividade das empresas que idenficam jazidas no País, segundo o presidente do Conselho Deliberativo da ABPM, Luis Azevedo
Tarifaço coloca em risco investimentos de junior companies no Brasil, diz ABPM
Foto: Stringer / Reuters

O “tarifaço” dos Estados Unidos (EUA), que elevou a alíquota de importação de produtos brasileiros de 10% para 50%, a partir de quarta-feira (6), terá impacto negativo, em curto e médio prazos, nos investimentos das junior companies no País. Isso refletirá numa redução da capacidade de identificação de jazidas e desenvolvimento de minas.

A avaliação é do presidente do Conselho Deliberativo da Associação Brasileira das Empresas de Pesquisa Mineral e Mineração (ABPM), Luis Mauricio Ferraiuoli Azevedo.

Para o executivo, embora alguns itens, como o minério de ferro, ouro e prata, tenham sido excluídos da medida, a taxação dos EUA prejudica bastante o Brasil quando se observa alguns dos produtos que receberão a sobretaxa adicional de 40%. Isso porque, entre eles, estão bens minerais considerados críticos para a transição energética e dos quais o território brasileiro tem uma fertilidade, como cobre, zinco, níquel, lítio e terras-raras.

Segundo Azevedo, com a exportação desses materiais tarifados, há uma redução do potencial de investimento das junior companies, que são as empresas que identificam jazidas que, posteriormente, vão gerar produção mineral. O motivo é que o grau de atratividade dessas companhias diminui, já que o capital da maioria delas é estrangeiro, sobretudo australiano e canadense, e os investidores não vão querer investir em algo taxado.

“Com a tarifa gerando um constrangimento para essas empresas, cria-se, na verdade, uma dificuldade para a captação de novos recursos”, enfatiza, dizendo ainda que a capacidade de investimentos brasileiros em pesquisa mineral é baixa diante de países como a Austrália e Canadá, que têm juros mais baixos e oferecem incentivos fiscais para quem investe em mineração. Ele afirma que o capital nacional é atraído para o mercado de renda fixa.

Impacto nos segmentos de lítio e terras-raras

De acordo o presidente do Conselho Deliberativo da ABPM, o tarifaço dos Estados Unidos afeta, especialmente, os segmentos de lítio e terras-raras. Conforme ele, o Brasil tem cerca de 130 empresas estrangeiras que investem em pesquisa mineral, das quais em torno de 90 são junior companies, sendo aproximadamente 70% voltadas para esses dois minerais.

Azevedo chama a atenção para o fato de ambos os materiais não terem sido mencionados na lista de exceções à sobretaxa. Ele ressalta que, diante do interesse do governo norte-americano nos minerais críticos brasileiros, tarifá-los expressa exatamente o contrário.

Nesse contexto, o diretor-presidente do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), Raul Jungmann, disse acreditar que alguns minerais não foram citados na lista de exceções porque não são exportados pelo País aos EUA. A fala aconteceu na terça-feira (5), durante coletiva da entidade para apresentação do balanço semestral do setor mineral.

Cabe dizer, neste caso, que o principal destino das exportações da Sigma Lithium é a China, e os principais clientes externos da Companhia Brasileira de Lítio (CBL) são China, Coréia e Alemanha. A Serra Verde, única empresa que produz terras-raras no Brasil atualmente, e que, inclusive, é de propriedade dos norte-americanos, vende toda a produção à China.

Executivo questiona interpretação sobre o interesse dos EUA

O presidente do Conselho Deliberativo da ABPM questiona se não ocorreu uma interpretação equivocada em relação ao real interesse do governo norte-americano nos minerais críticos brasileiros. Para Azevedo, se os EUA, de fato, estivessem muito interessados, esses materiais estariam no topo da lista de itens excluídos do tarifaço.

“Se eu quero comprar um produto, não quero taxá-lo, porque ele vai custar mais caro para mim e para a própria indústria norte-americana”, argumenta.

É válido pontuar que o interesse dos Estados Unidos foi revelado pelo Ibram. Em reunião com a entidade, o encarregado de Negócios e representante oficial da Embaixada dos Estados Unidos no Brasil, Gabriel Escobar, demonstrou interesse na Política Nacional de Minerais Críticos e Estratégicos em preparação pelo governo brasileiro, bem como ações parlamentares nesse mesmo contexto. O instituto repassou o tema para o Executivo federal.

Na coletiva de terça-feira, Jungmann afirmou que não há nenhum tipo de conversa entre as mineradoras e o governo brasileiro para que se coloquem os minerais críticos em uma negociação da sobretaxa com os EUA. Porém, em sua opinião, algo que poderia ser colocado na discussão entre os dois países, inicialmente, seria ampliar a lista de exceções, incluindo, por exemplo, cobre e vanádio, produtos importantes na relação comercial.

Posteriormente, de acordo com o diretor-presidente do Ibram, há três itens considerados que devem ser priorizados, na visão da entidade, em caso de uma possível parceria entre o Brasil e Estados Unidos relativo aos minerais críticos do País. São eles: transferência de tecnologia, atração de investimentos e diversificação da pauta mineral brasileira.

Rádio Itatiaia

Ouça a rádio de Minas