Economia

Tarifaço de Trump pode ser duro golpe para exportações de Contagem

Embarques de produtos fabricados no município da RMBH para os Estados Unidos cresceram 66% no primeiro semestre, chegando a US$ 129,7 milhões
Tarifaço de Trump pode ser duro golpe para exportações de Contagem
O superávit comercial de Contagem com EUA foi de US$ 59,6 mi em 2024 | Foto: Divulgação Claúdio Neves

O tarifaço do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, pode ser um duro golpe para a pauta exportadora de Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH). As exportações do município para os EUA estavam em franco crescimento neste ano. A cidade havia conseguido reverter os déficits dos últimos anos na balança comercial com os Estados Unidos, recentemente, quando registrou superávit de US$ 59,6 milhões no ano passado.

A prefeitura municipal acompanha a situação com cautela e espera uma saída diplomática nas negociações com o presidente norte-americano para que o conflito comercial não tome proporções ainda maiores e ameace estagnar alguns setores da economia da cidade.

No primeiro semestre deste ano, os embarques de Contagem para a maior economia do mundo somaram US$ 129,7 milhões, um crescimento de 66% em relação ao mesmo período de 2024, e representaram mais da metade da exportação da cidade ao exterior. O município obteve um superávit de US$ 69,4 milhões no comércio com os EUA no período, diferente do déficit de US$ 2,2 milhões registrado no mesmo período do ano passado.

Os Estados Unidos foram o destino de quatro dos cinco produtos mais exportados por Contagem nos primeiros seis meses de 2025. A cidade é, atualmente, o sexto município mineiro que mais exporta para os EUA. Na RMBH, está atrás somente de Belo Horizonte neste quesito – a capital mineira destinou 36% das suas exportações aos norte-americanos na primeira metade deste ano.

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O secretário municipal de Desenvolvimento Econômico de Contagem, Luciano José de Oliveira, lamenta que o tarifaço chegue em um momento em que as exportações da cidade para seu principal destino crescem vertiginosamente. A indústria de Contagem está em expansão, aponta, principalmente no setor de transformadores elétricos e de fontes de alimentação ininterrupta, conhecidas como nobreak ou UPS, na sigla em inglês, muito utilizada em data centers.

Ambos são o primeiro e o terceiro produtos mais exportados de Contagem, seguidos de materiais de pedra ou de outras matérias minerais, como fibra de carbono, e dos refratários. As exportações de todos esses produtos são direcionadas aos Estados Unidos. “Eu acho que (o tarifaço) vai ser muito danoso para a indústria aqui de Contagem. A gente espera que tenha uma saída diplomática”, disse Oliveira.

A preocupação, sobretudo com a indústria eletroeletrônica, deve-se ao fato de que, para este segmento, não é tão simples encontrar novos mercados, como acontece com muito mais facilidade para setor de commodities, como a agropecuária. “Se realmente for levado a cabo, nós vamos ter muita dificuldade de, pelo menos nos primeiros momentos, abrir outros mercados externos”, avalia o secretário de Contagem.

Por interdependência, Contagem espera ao menos uma saída comercial

Essa situação do segmento elétrico e eletrônico não abre muita margem para que o setor industrial de Contagem consiga redirecionar suas exportações para a China, por exemplo, explica o secretário municipal de Desenvolvimento Econômico. O gigante asiático, inclusive, está longe de ser o principal destino das exportações de Contagem, apesar de ter grande peso nas importações do município – é a principal origem.

Mas além dos mais de 200 anos de relações diplomáticas entre o Brasil e os Estados Unidos, o tarifaço de Trump coloca em jogo mais de 3 mil empregos diretos do segmento eletroeletrônico de Contagem no embate comercial. A esperança do secretário por uma saída comercial específica, ainda que o conflito diplomático não se resolva, é o fato da indústria norte-americana também depender muito dos produtos fabricados pela indústria contagense.

“Os Estados Unidos, como já compram esse volume todo desses equipamentos, que são equipamentos muito direcionados para grandes indústrias, também não vão encontrar um outro fornecedor de uma hora para outra”, disse Oliveira. “Por isso acredito que, ainda que não tenha uma saída diplomática, tem uma saída comercial entre comprador e vendedor. Porque eles também precisam dos nossos produtos”, completa.

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