Tarifas dos Estados Unidos entram em vigor nesta quarta-feira e podem gerar prejuízo bilionário para Minas Gerais

O “Dia D” da entrada em vigor das tarifas dos Estados Unidos aos produtos brasileiros está previsto para esta quarta-feira (6). Se de fato acontecer conforme foi anunciado, o impacto, mesmo com as exceções, para a economia mineira deve significar uma perda de R$ 4,7 bilhões no Produto Interno Bruto (PIB) e redução de mais de 30 mil empregos num prazo de até dois anos, conforme estudo divulgado pela Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg).
A economista da entidade, Juliana Gagliardi, explica que o levantamento leva em consideração dois cenários, sendo um a curto prazo e outro a longo prazo. Em um horizonte de cinco a dez anos, os impactos podem ultrapassar R$ 15,8 bilhões no PIB estadual e eliminar mais de 172 mil postos de trabalho.
O Estado terá cerca de 37% de suas exportações isentas, com destaque para itens como ferro fundido, ferro-nióbio e aeronaves. No entanto, 63% da pauta mineira permanecem sujeitos à tarifa, atingindo produtos como café, que representou 33% do total exportado por Minas Gerais aos Estados Unidos em 2024.
Na siderurgia, embora alguns produtos tenham sido contemplados com a isenção, uma parcela da cadeia produtiva segue sujeita às tarifas, como é o caso dos tubos de aço e do fio-máquina de ferro ou aço. A carne bovina, outro item de destaque na pauta exportadora mineira, também permanece sem isenção.
O presidente da Fiemg, Flávio Roscoe, revela que há notícias de vários cancelamentos e de rompimentos unilaterais de contratos que alegam motivo de força maior. “Já há transtornos e discussões para a negociação de rompimentos de contratos”, conta. Ele acrescenta que também já há relatos de férias coletivas. “Demissões ainda são precoces, pois as empresas estão avaliando que estratégias irão tomar, mas, com certeza, elas virão”, diz.
Para o dirigente, o momento exige maturidade e diálogo institucional. “A imposição dessas tarifas, ainda que parcialmente suavizada pelas isenções, foi unilateral e sem negociação com o governo brasileiro. É fundamental que o Brasil atue diplomaticamente para ampliar o número de produtos isentos, preservar sua competitividade no mercado internacional e proteger empregos e investimentos nacionais”, avalia.
A assessora técnica do Sistema Faemg Senar, Aline Veloso, afirma que a situação é bastante delicada, já que várias cadeias produtivas não entraram na lista de exceções de produtos que são exportados pelo Brasil aos Estados Unidos, com destaque para o café, o setor de carnes, em especial as carnes bovinas, além de algumas frutas, entre outros produtos da cadeia agropecuária.
Ela conta que a entidade está acompanhando vários setores, com destaque para o café e carnes, e que ainda não foi identificado impactos, como férias coletivas, pelo setor produtivo. “O que tem se notado desde a semana retrasada é uma readequação nas escalas de abate de alguns frigoríficos. Mas isso não somente aqui em Minas Gerais, mas em nível Brasil”, diz.
Saída para o impasse nas tarifas: diplomacia e diversificação de mercado
A saída para a atual situação, conforme especialistas ouvidos pelo Diário do Comércio, passa pela diplomacia, diversificação de mercados no exterior ou mesmo o fortalecimento do mercado doméstico para alguns segmentos. No entanto, Roscoe destaca que o cenário é de dificuldade para abrir novos mercados, em razão de um momento de “distúrbio no comércio internacional criado pelos embates geopolíticos”.
A coordenadora da coordenação de análise insumo-produto da Fundação João Pinheiro (FJP), a professora Carla Aguilar, observa que os impactos dos produtos são diferenciados dependendo da relevância do mercado dos Estados Unidos. “No caso do mel, cerca de 75% são destinados ao mercado americano. Então, esse é um produto que vai sentir de maneira significativa a questão das tarifas estabelecidas pelos Estados Unidos”, observa.
O professor de administração do Centro Universitário Newton Paiva Wyden, Franz Petrucelli, destaca que, além da diplomacia para resolver o impasse das tarifas, o País deve buscar diversificar a atuação em outros mercados, além de fortalecer o mercado doméstico.
A presidente do Conselho Regional de Economia de Minas Gerais (Corecon-MG), Carolina Rocha Batista, ressalta que, apesar da perspectiva de que 63% da pauta de Minas seja tarifada, “há sinais de respiro que podem orientar estratégias de mitigação”. “Os dez principais produtos mineiros isentos da nova tarifa respondem por aproximadamente 98% do valor total das exportações isentas, o que aponta caminhos viáveis para minimizar os danos econômicos”, diz.
Para ela, uma das principais saídas para Minas Gerais é fortalecer e expandir a exportação dos produtos isentos, promovendo ganhos de escala, melhorias tecnológicas e competitividade internacional. “Além disso, é fundamental a diversificação dos destinos comerciais. Reduzir a dependência dos Estados Unidos significa buscar maior inserção em mercados alternativos”, frisa.
A professora de relações internacionais do Centro Universitário Una, Andrea Resende, ressalta que a opção para enfrentar a questão das tarifas deve ser encarada da mesma forma que uma crise nos Estados Unidos: a diversificação.
“China e México já sinalizaram que estão abertos a importar produtos brasileiros, inclusive, o México se tornou o segundo maior exportador de carne bovinas. O consumo de café na China tem crescido muito nos últimos meses e, o Brasil, enquanto maior exportador de café do mundo pode e deve abocanhar este mercado”, destaca.
O economista e presidente do Sindicato dos Despachantes Aduaneiros de Minas Gerais (Sdamg), Marcelo Antônio Belisário, entende que a diplomacia é o caminho mais eficaz para se encontrar uma solução para a questão das tarifas. Ele ressalta que uma retaliação por parte do governo brasileiro também tem impactos, já que há setores no Brasil que dependem de insumos provenientes dos Estados Unidos.
Reflexo das tarifas no País
A Fiemg também fez uma simulação nacional dos impactos das tarifas impostas pelos Estados Unidos aos produtos brasileiros. A estimativa é de uma redução no PIB brasileiro em R$ 25,8 bilhões no curto prazo e até R$ 110 bilhões no longo prazo. A perda de renda das famílias poderá alcançar R$ 2,74 bilhões em até dois anos, além da redução de 146 mil postos de trabalho formais e informais.
Os Estados Unidos é o segundo maior consumidor dos produtos brasileiros, ficando atrás apenas da China. Atualmente, dos US$ 337 bilhões exportados, o país norte-americano contribuiu com 12% desse comércio.
Em 2024, São Paulo liderou as exportações brasileiras para os Estados Unidos, respondendo por 33,6% do total, seguido pelo Rio de Janeiro, com 18,4%. Minas Gerais ocupa a terceira posição no ranking nacional, representando 11,4% das exportações destinadas ao país norte-americano.
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