Setor calçadista mineiro teme impactos indiretos das tarifas de Trump

Responsável por 4% das exportações de calçados de todo o País no ano passado, o setor calçadista de Minas Gerais, a princípio, não deve sofrer impactos bruscos pelas tarifas impostas pelo presidente dos Estados Unidos Donald Trump. Ao assinar o decreto na quinta-feira (30), Trump não isentou os calçados brasileiros e, a partir de 6 de agosto, se não houver mais alterações, os produtos serão taxados em 50%.
O presidente do Sindicato das Indústrias de Calçados, Bolsas e Cintos de Minas Gerais (Sindicalçados), Luiz Barcelos, alega que, num primeiro momento, o impacto será pequeno porque as empresas que estão na base do sindicato exportam pouco para os Estados Unidos. Entretanto, não nega que o setor, assim como toda a indústria, não só mineira como brasileira, será afetado. “Só na minha empresa, dois pedidos de clientes americanos que acumulavam um montante de US$ 100 mil foram cancelados”, exemplifica.
Segundo Barcelos, o Rio Grande do Sul é responsável pela maior parte da produção dos calçados brasileiros. De acordo com dados da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), a indústria calçadista gaúcha é responsável por cerca de 50% das exportações dos calçados no País. “Para eles o impacto será direto e maior. No Rio Grande do Sul há fábricas que exportam 100% dos seus produtos e são mais dependentes do mercado americano”, pontua o dirigente.
Em 2024, enquanto o Rio Grande do Sul exportou US$ 485 milhões, tendo uma participação de 49,7% do mercado nacional, Minas Gerais respondeu por US$ 40 milhões, participando em 4% das exportações totais do País no setor.
Desta forma, a preocupação do mercado calçadista mineiro, conforme ressalta o presidente do Sindicalçados, é com o aumento da concorrência interna. “Caso a indústria gaúcha realmente não consiga inserir sua produção nos EUA, ela vai precisar colocar os produtos dela em algum lugar e podem passar a vender para nossos clientes”, diz.
A Alpargatas, responsável pela produção das sandálias Havaianas, que possui unidade fabril em Montes Claros, no Norte de Minas, alega que, a curto prazo, não será impactada. Conforme informações da empresa, apesar de 10% dos produtos que exportam ir para os EUA, os calçados produzidos para o segundo semestre já foram entregues. Por isso, nada será alterado nesse primeiro momento. Entretanto, não avaliam ainda como serão as negociações para 2026.
No Centro-Oeste do Estado, a região de Nova Serrana, importante polo calçadista, com 1,2 mil fábricas instaladas nas 13 cidades que compõem o polo industrial, o presidente do Sindicato Intermunicipal das Indústrias de Calçados de Nova Serrana (Sindinova), Rodrigo Martins, comenta que a taxação preocupa os empresários, mas que os impactos devem vir de forma indireta.
Martins explica que desde o anúncio das novas tarifas, o sindicato têm feito mapeamento de mercado, identificando possíveis riscos e impactos. Entretanto, ele alega que polo não possui uma exportação significativa para o país norte-americano. “Hoje, a maior parte do que exportamos, mais de 80%, vai para a América Latina, em especial para a Argentina”, conta.
Assim, o presidente do Sindinova acredita que os impactos serão indiretos. Segundo ele, em consonância com o presidente do Sindicalçados, as empresas que até então exportavam para os EUA, perderão competitividade devido às taxas e precisarão escoar a mercadoria para outros mercados como o interno.
“Teremos um cenário desafiador que, junto à situação econômica, às altas taxas de juros que prejudicam o varejo, ao endividamento das famílias e ao aumento da concorrência, tornará tudo ainda mais difícil”, lamenta.
O que Rodrigo Martins teme é que, sem estrutura comercial, no “desespero” as empresas acabem baixando o preço de mercadorias, às vezes até abaixo do custo, desestabilizando o mercado. “Aí sim, poderá haver impactos significativos nas indústrias, tanto do nosso polo como do setor nacional”.
Expectativa do setor é a perda de 8 mil postos de trabalho
Outra preocupação do setor calçadista é a forma como o tarifaço dos EUA pode impactar os postos de trabalho. Em todo o País, as 5.203 fábricas de calçados existentes, (997 em Minas), geram 282 mil empregos, sendo 10,3% deles (29 mil empregos) no Estado.
Na última quinta-feira (30), o presidente-executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), Haroldo Ferreira, declarou que estima uma perda de 8 mil empregos diretos no setor com a taxação de Trump. E defendeu que medidas governamentais são cruciais para mitigar os efeitos nas indústrias. “Agora, o poder público terá um papel fundamental para a preservação das empresas e dos milhares de empregos gerados por ela”, pontuou.

Como medidas de solução, o presidente da Abicalçados defendeu também a implantação de linhas para cobrir o Adiantamento sobre Contrato de Câmbio (ACC) em dólar com juros do mercado externo, a ampliação do Reintegra para exportadores, a liberação imediata de créditos acumulados do ICMS nos estados e a reedição do Benefício Emergencial de Preservação do Emprego e da Renda, que foi oferecido em 2020, como medidas trabalhistas para enfrentamento do coronavírus.
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