Economia

Taxa básica de juros deve ser mantida em 13,75%

Banco Central define a Selic em meio a um cenário de incertezas em relação a 2023
Taxa básica de juros deve ser mantida em 13,75%
Crédito: REUTERS/Adriano Machado

Representantes do Banco Central reúnem-se em duas sessões, hoje  e amanhã, para decidir sobre a taxa básica de juros no País. O mercado espera que a Selic se mantenha estável em 13,75% ao ano, em meio a uma conjuntura marcada por deflação em alguns bens e serviços, números de inflações favoráveis em outros, e incertezas para o próximo ano. 

Para a pauta, vários fatores entram em análise, e o principal deles é de que a inflação tenha um perfil mais conservador. O economista-chefe e sócio da Monte Bravo Investimentos, Luciano Costa, pontua que a expectativa é que exista um consenso do mercado: “Esperamos uma estabilidade para essa semana na reunião do Copom, e provavelmente é o que vai acontecer na decisão do Banco Central”. 

Provavelmente o que vai acontecer no encontro, segundo Costa, é que o banco pretenda enfatizar sobre o balanço de riscos em plena simetria. “Desde a última reunião, tivemos uma sequência de números favoráveis de uma inflação em três meses consecutivos. O mês agora de outubro, provavelmente volta até alguma inflação, mas ainda uma inflação relativamente baixa”, pondera. 

O especialista pontua também sobre a dinâmica da inflação: “Ao mesmo tempo, durante esse período, a gente teve na dinâmica da inflação, não só a deflação vinda de combustíveis, do impacto do ICMS sobre a taxa de energia e telefonia, mas também as medidas que cederam desse período também saindo dos picos, a inflação de bens principalmente de bens duráveis, que é bastante relacionada com a parte de crédito”.

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O economista do Terra Investimentos, João Maurício Lemos Rosal, também acredita que a reunião não tenha alterações no cenário que justifiquem qualquer mudança no curso do Banco Central. “Em particular, entre a evolução passada à reunião que vamos ter, mostrou-se muito alinhada ao que foi esperado pelo Banco Central. Além do não movimento da taxa Selic, a gente espera que o banco mantenha o seu discurso de vigilância, como é típico nessa situação do ciclo monetário”.

Para Rosal, espera-se que esse discurso não altere também as quedas da Selic que possam se materializar já a partir do final do segundo trimestre de 2023, conforme ele estima. “Obviamente que há uma incerteza quanto a isso, e ela (a Selic) continua sendo bastante relevante, particularmente se considerarmos a questão fiscal aqui no Brasil, que permanece ainda sem uma solução definitiva. Tudo vai depender das negociações que o próximo governo venha conduzir no pós-eleição”, aponta.

Por outro lado, existe uma incerteza grande em relação à questão fiscal que, segundo Luciano Costa, é o principal risco internamente. “Lá fora, os riscos também continuam. Em parte, continuamos com a questão da guerra na Ucrânia, que tem impactado a cotação do petróleo. Também temos um mundo que teoricamente está apertando os juros, que resultará em menor crescimento. Isso faz com que o balanço seja simétrico. E, por isso,  faz sentido o Banco Central manter a estabilidade, obviamente mantendo o grau de liberdade que já foi colocada na última reunião. Ou seja, de manter vigilante e na eventualidade de algum choque, ele reagir, apesar de que seja um cenário pouco provável de acontecer daqui até o final do ano”.

Na presidência da Belo Investment Research, Paulino Oliveira afirma que o mercado prevê que o ano de 2023 tenha um cenário de incertezas. “O motivo disso é justamente essa dificuldade no ajuste do tamanho da política contracionista, que tem que ser implementada para o controle de preços. É quando se tem um momento muito prolongado de juros bastante baixos e que depois isso vai gerar um aumento, ou seja, um efeito riqueza de aumentar o valor dos ativos diversos. Caso isso ocorra por muito tempo, em algum momento, isso vai gerar um excesso de demanda que, consequentemente, resultará em inflação. É exatamente o que tivemos recentemente”, analisa.

“Tivemos a situação da Covid que era realmente necessário. Daí errou-se a mão,  a inflação subiu e, agora,  a gente está tentando segurar de novo. Os bancos centrais sempre fazem esse tipo de trabalho. Na prática, quando você começa a aumentar muito o juro, é o momento onde acontece o contrário, onde ocorre a redução do valor dos ativos. As pessoas ficam mais pobres porque os seus ativos caem de preço. O efeito riqueza tem o consumo, investimento cai e você tem situações de maior risco, que é quando as empresas não conseguem honrar os compromissos e as coisas podem virar um efeito bola de neve”, pontua Oliveira.

Futuro desfavorável

Os especialistas ouvidos pelo DIÁRIO DO COMÉRCIO também enfatizam que, dependendo desse efeito de ajuste de juros globalmente, é possível que, em 2023, o mercado enfrente um cenário globalmente muito mais desfavorável. Em relação ao Brasil especificamente, os especialistas acreditam que o País não terá como fugir, caso essa conjuntura aconteça. 

“O cenário para o ano que vem é de provável queda da inflação, mas pagando um preço caro. O impacto disso está no crescimento e com um risco bastante importante de recessão global, a depender de como vai ser esse ajuste da política monetária, não só no Brasil, mas em particular no mundo desenvolvido”, avalia Paulino Oliveira.

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