Tecelagens em Minas mostram apreensão com Shein

A empresa chinesa Shein fechou um acordo com a Springs Global, que detém a marca de duas empresas mineiras da indústria têxtil, a Coteminas e a Santanense. Ela também anunciou um investimento de R$ 750 milhões no Brasil.
Essa ação pode alavancar o setor no Estado, mas também traz algumas preocupações à indústria nacional. É o que conta o presidente do Sindicato das Indústrias de Fiação e Tecelagem no Estado de Minas Gerais (Sift-MG), Rogério Mascarenhas.
O presidente do Sift-MG destaca que o fato de o governo federal ter voltado atrás e mantido a isenção de tributação para encomendas do exterior entre pessoas físicas até US$ 50 não é algo interessante para o setor, já que a cadeia de abastecimento têxtil dentro do País já sofre com uma cobrança de até 70% de impostos.
“Com a isenção de tributação que a Shein está tendo, ela vai criar uma vantagem muito perigosa”, contesta. Na visão de Mascarenhas, essa vantagem para empresas que exportam para o Brasil preocupa, porque ela pode se estender a outros aplicativos e outros produtos importados.
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Ele lembra que, em um primeiro momento, o governo federal tomou uma decisão política de agradar a sociedade, mas em médio e longo prazos isso poderá levar o País para uma situação de desemprego.
Mascarenhas ainda destaca que se o governo não quiser aumentar a tributação vai ter que fazer uma reforma tributária mais audaciosa, que desonere as empresas brasileiras.
“Essa reforma tributária atual é boa, mas é mais para uma reorganização dos modelos tributários atuais. Ela não consegue buscar o crescimento da capacidade competitiva dos negócios”, avalia. Portanto, se o governo optar por manter a isenção de impostos para os produtos vindos da China, terá que buscar alternativas para a indústria e para os negócios nacionais.
Ele também revela que há uma expectativa de crescimento da indústria têxtil em 2023. Mas ressalta que diante dessa questão envolvendo as exportações, o setor deve dar uma pausa para analisar o tamanho do impacto na indústria, já que essa situação acaba gerando mais incerteza e instabilidade ao setor.
O presidente do sindicato explica que aproximadamente 90% dos produtos importados utilizam matéria prima artificial, enquanto a indústria têxtil mineira produz, principalmente, a partir do algodão.
“A indústria têxtil mineira é forte no mercado de jeans, mas você consegue encontrar no site da Shein uma calça muito barata que pode substituir”, contesta.
Mercado de trabalho
Quanto à mão de obra, Mascarenhas garante que a indústria têxtil não está demitindo, apesar dos problemas ligados à inflação e à perda do poder de compra. Ele explica ainda que a criação de postos de trabalho nessa área é muito demorada: “Para você demitir o pessoal da área têxtil e depois contratar é algo muito complexo”.
Por outro lado, também não há contratações. O presidente do Sift-MG destaca que, nos últimos quatro meses, a Shein já vem atuando e fazendo uma competição muito forte com a indústria têxtil, que não está crescendo e, por isso, não está admitindo novos profissionais.
Já sobre os investimentos, Mascarenhas conta que a indústria segue investindo em modernização, tecnologia, gestão e governança. Porém, as empresas não fazem aportes para crescimento devido à apreensão do mercado quanto a atitude do governo em relação a Shein.
Desempenho do setor têxtil
O presidente do Sift-MG relata que no primeiro trimestre deste ano, a indústria têxtil conseguiu igualar o faturamento ao obtido no mesmo período em 2022, apesar da queda de aproximadamente 25% na produção. Isso ocorreu em função da alta do preço do algodão durante o ano anterior e uma troca de produtos feita pela indústria por itens de maior valor agregado.
Ele lembra que 2022 foi um ano muito difícil para o setor, com a inflação reduzindo uma parte do poder aquisitivo das pessoas e a produção decaindo ao longo do ano. O presidente do sindicato que representa a indústria ainda reforça que a entrada da Shein no mercado, no final do ano, acentuou essa queda.
Mascarenhas conta que a indústria têxtil de Minas vem sofisticando sua produção para conseguir escapar da concorrência de produtos baratos. Com isso, a expectativa do setor é para um crescimento de 5% na produção física até o final de 2023. “Há toda uma insegurança em relação ao início de governo, mas a indústria está se mexendo para poder reduzir a competição e atingir os patamares previstos”, afirma.
Setor de vestuário também fica inseguro
O presidente do Sindicato da Indústria do Vestuário de Minas Gerais (Sindvest-MG), Rogério Márcio, definiu a chegada da Shein ao Brasil como algo muito preocupante, já que ao mesmo tempo em que ela gerará muitos empregos, na visão dele, a empresa asiática vai tirar empregos da indústria nacional. Ele ainda questiona sobre o tipo e a qualidade desse emprego que será gerado.
Márcio também fala do risco de quebra de muitas empresas que não poderão competir com a chinesa e dos riscos da Shein dominar o mercado nacional: “Você olha para uma empresa do tamanho de uma Coteminas e da Santanense e coloca na mão dos chineses. A Contanese detém mais de 50% do mercado do produto que ela fabrica, então essa detenção vai para a mão dos chineses”.
O presidente do Sindvest-MG ainda acredita que o setor de vestuários será muito prejudicado e talvez até o mais prejudicado com essa chegada. “Para mim, o setor de vestuários não é beneficiado em momento algum com a vinda da Shein ao Brasil”, completa.
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