Terminal fechado no Espírito Santo impacta setor de ferro-gusa em Minas Gerais

A produção de ferro-gusa das usinas independentes de Minas Gerais, que crescia anualmente há uma década até recuar em 2023, deve cair pela segunda vez consecutiva. A entidade que representa as 53 empresas em operação no Estado estima uma queda de 5% no fechamento deste ano – ou mais, a depender do movimento de novembro e dezembro.
O Sindicato da Indústria do Ferro no Estado de Minas Gerais (Sindifer-MG) previa manter neste exercício o volume produzido no ano anterior, de 3,9 milhões de toneladas. No entanto, as vendas internas em 2024 seguiram em baixa e, embora as exportações tenham dado sinais de que ajudariam o setor a reverter o quadro negativo, isso não aconteceu.
O presidente da entidade, Fausto Varela Cançado, afirma que, até setembro, as usinas mineiras produziram 2,7 milhões de toneladas de ferro-gusa, um decréscimo de 5% em relação a igual período do ano passado. Segundo ele, 72% do montante foram exportados – a relevância dos embarques explica o motivo do otimismo que a instituição teve.
Conforme o executivo, as negociações do mercado doméstico estão fracas porque falta demanda. “Nós vendemos para aciarias e fundições, mas elas também produzem e, possivelmente, a produção delas está suprindo a necessidade, pois talvez o consumo não esteja tão alto. Além disso, elas podem usar sucata, que estava muito barata”, esclarece.
Quanto às exportações, as empresas enfrentam outro tipo de problema que tem elevado os custos, afetado a produtividade e refletido na produção. A adversidade está relacionada à interrupção das atividades do terminal de Aroaba, próximo de Vitória, no Espírito Santo.
O terminal multimodal é utilizado para armazenar o ferro-gusa – que sai das usinas de Minas Gerais para serem exportados – até a chegada do navio. De lá, é transportado para o porto de Paul, em Vila Velha, onde é embarcado. Assim, Aroaba funciona como uma “retroárea”, uma vez que a zona portuária não dispõe de área para tal.
Cançado diz que as indústrias mineiras do setor usam mais portos capixabas e do Rio de Janeiro para exportar os produtos; contudo, o de Paul é o mais importante devido às suas características, adequadas para embarcar esse tipo de produto. O setor utiliza a estrutura há cinco décadas e chegou a enviar remessas apenas por lá durante certo tempo.
Impactos do fechamento de Aroaba
Com o fechamento de Aroaba, que apoia Paul, as produtoras de Minas Gerais precisaram armazenar ferro-gusa em outro terminal. A estrutura, porém, não estava – e não está –preparada para receber o produto, impactando na perda de produtividade das empresas, com tempo de carregamento e, por consequência, criando custos adicionais, como demurrage –indenização que deve ser paga diante do atraso ao carregar/descarregar mercadorias.
“Como sabíamos que isso ia acontecer e tínhamos navios fretados, também tivemos que achar vagas em outros portos para transferir alguns navios, a fim de aliviar o trabalho, com medo de não conseguir cumprir as entregas para o exterior. Isso também gerou custos mais altos, porque redirecionar navios que já estavam fretados é muito caro”, diz Cançado.
De acordo com ele, como as produtoras de ferro-gusa raramente trabalham com estoque, ou seja, produzem conforme vendem, os problemas com os embarques refletem na produção.
O presidente do Sindifer ressalta que Aroaba foi fechado em agosto por conta de um litígio na Justiça envolvendo a Vale, proprietária, e a empresa arrendatária da operação. Procurada pela reportagem, a mineradora disse, em nota, que “não comenta ações judiciais em curso”.
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