Tragédia do Rio Grande do Sul pode refletir na indústria mineira

A tragédia ambiental e humanitária que o Rio Grande do Sul vivencia devido às chuvas, pode refletir negativamente na indústria mineira, ainda que seja cedo para mensurar os possíveis impactos. Os efeitos vão depender de quanto tempo as atividades econômicas ficarão paralisadas na região e da capacidade das empresas de Minas Gerais encontrar novas fontes de insumos.
O economista-chefe da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), João Pio, diz que a parceria entre os estados é relevante. Ele evidencia isso mostrando que a corrente comercial atingiu cerca de R$ 47 bilhões em 2022, conforme dados da Fundação João Pinheiro (FJP), baseado em notas fiscais da Secretaria de Estado de Fazenda de Minas Gerais (Sefaz-MG).
Para explicar como o cenário do Rio Grande do Sul pode afetar a produção industrial mineira, ele aponta os principais itens da relação. Ferro fundido, ferro e aço e veículos automotores representaram quase 30% do total exportado por Minas Gerais para o Rio Grande do Sul no período. Na direção oposta, aproximadamente metade das importações mineiras enviadas por gaúchos foram compostas por veículos, máquinas, aparelhos e instrumentos mecânicos e cereais.
“Nesse momento é muito difícil falar como a situação transbordará para as empresas mineiras. Certamente haverá um impacto, o que vai depender da capacidade das indústrias de conseguirem outras fontes de insumos. Como disse, Minas Gerais ‘exportou’ cerca de R$ 23 bilhões para o Rio Grande do Sul e ‘importou’ R$ 24 bilhões em bens e insumos, substituir isso é difícil”, afirmou.
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“Evidentemente temos que mensurar também a quantidade de tempo que as atividades produtivas ficarão interrompidas no Rio Grande do Sul. Supondo que fiquem suspensas por um longo período, é evidente que o impacto será muito maior. Como ainda não temos uma dimensão do tempo dessa interrupção e para a normalização, é difícil estimar o tamanho do impacto”, ressaltou.
Participação do Rio Grande do Sul na produção da indústria nacional
Conforme o economista-chefe da Fiemg, o Rio Grande do Sul é responsável por 7,8% da produção industrial brasileira. Além disso, possui uma participação importante em vários segmentos, como preparação de couros e fabricação de artefatos de couros, com 30,5%, fabricação de móveis, com 21,7%, e fabricação de máquinas e equipamentos”, com 20,2%.
Com todos esses números, ele avalia que, interrupções prolongadas na produção gaúcha, principalmente nesses segmentos de maior relevância para o estado, podem repercutir ao nível nacional, afetando tanto a atividade econômica como um todo quanto a taxa inflacionária.
Adicionalmente, Pio ressalta que o Rio Grande do Sul contribui com cerca de 8,6% no peso atual da inflação e representa em torno de 6,5% do Produto Interno Bruto (PIB) do País – quarto colocado, atrás apenas de São Paulo (30,2%), Rio de Janeiro (10,5%) e Minas Gerais (9,5%), de acordo com dados de 2021 levantados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Por ter essas características relevantes, ele reitera que um agravamento no cenário de paralisação das atividades no estado em decorrência da tragédia pode reverberar na economia em geral.
A maior preocupação, segundo o economista, é com relação à escalada dos preços dos alimentos, visto que os gaúchos possuem uma participação significativa no setor agrícola, especialmente na produção de arroz, com cerca de 70% do total produzido nacionalmente, além de soja e milho.
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