Transmissão e armazenamento desafiam aumento do consumo de energia no País

Em um país com oferta muito superior frente à demanda, a infraestrutura para transmissão e armazenamento de energia será o grande desafio para conseguir suprir o crescimento do consumo de eletricidade no Brasil, projetado para os próximos anos, apontam especialistas.
O consumo de energia no País deverá crescer 17,8% até 2029, segundo projeção da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) e da Empresa de Pesquisa Energética (EPE). O subsistema Sudeste/Centro-Oeste, em que Minas Gerais está inserido, puxará o crescimento nacional, com alta prevista de 16%.
As projeções das entidades estão nas previsões de carga do Sistema Interligado Nacional (SIN), para o Planejamento Anual da Operação Energética – 2025-2029, divulgado esta semana. A perspectiva é de expansão de 3,3% em média, por ano, da carga do SIN no período. Para este ano, os estudos apontam crescimento de 5,3% em relação a 2023.
Assim, o consumo de energia no Brasil, ao final do ano, chegará a 79,8 mil megawatts-médios (MW médios). No próximo ano, a estimativa é que o consumo brasileiro de eletricidade cresça 3,5% em relação a este ano, o que resultaria em 82,6 mil MW médios. Em 2029, a carga prevista no SIN será de 94,1 MW médios.
O consultor de mercado e energia da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), Sérgio Pataca, aponta que, atualmente, o setor já tem energia mais do que suficiente para atender a demanda e, nos próximos cinco anos, com a construção dos empreendimentos em geração de energia autorizados pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), a oferta brasileira de eletricidade conseguirá atender o crescimento da demanda projetada.
Mas ele ressalta que o estudo é baseado, entre outros fatores, no crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). “Se a gente tiver alguma crise nesse período, a demanda de energia tende a cair”, disse Pataca. “Para o estudo se consolidar, depende da conjuntura macroeconômica, e a gente tem de fazer esses esforços agora para ter esse crescimento estimado”, completa.
Sérgio Pataca aponta uma “hegemonia” solar e eólica nos empreendimentos autorizados pela Aneel, o que fará que as hidrelétricas reduzam suas participações na matriz elétrica brasileira e, ao mesmo tempo, seja injetado um volume maior de energia intermitente no SIN, que pode causar instabilidade durante os picos de consumo. “A gente precisa começar a discutir de como vamos tratar a intermitência e estabilidade no sistema elétrico brasileiro”, pontua.
Transmissão e armazenamento
O CEO da AXS Energia, Rodolfo de Sousa Pinto, aponta a necessidade de muitas linhas de transmissão no SIN, por conta de uma geração de energia muito alta nas regiões Norte e Nordeste do Brasil, com um consumo central no Sudeste. O problema também ocorre no subsistema Sudeste/Centro-Oeste, aponta o coordenador estadual da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), Bruno Catta Preta.
“A transmissão de energia é uma demanda que, em Minas, estamos sofrendo com isso, porque tem grandes usinas de energia solar no Norte de Minas e o grande consumo é em Belo Horizonte, São Paulo, Rio de Janeiro. No momento, a rede já está estrangulada, por isso que, em alguns momentos, eles pedem para não injetar mais energia na rede”, explica.
Mesmo com os maiores leilões de concessão de linhões da história da Aneel nos últimos dois anos, o prazo para construir essa infraestrutura – em média, cinco anos – faz com que mais investimentos sejam imperativos. A solução apontada pelos especialistas para equilibrar o Sistema Interligado Nacional é o investimento em armazenamento de energia. Essa vantagem das hidrelétricas com os reservatórios, é alcançada na usina solar e eólica apenas com baterias.
O CEO da AXS afirma que a instalação de plantas de baterias de grande porte é feita em muitos países e deve ser o novo passo do País. “A hidrelétrica seria uma grande solução se a gente não tivesse descontinuado a construção delas no Brasil como aconteceu nos últimos anos”, declarou Sousa Pinto. “Do ponto de visto do custo/benefício, a configuração de eólica-solar com baterias pode ser a nova grande tendência, como a gente já enxerga fora do Brasil”, completa.
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