Trégua comercial entre EUA e China não deve afetar Minas Gerais significativamente; entenda
O acordo comercial entre Estados Unidos (EUA) e China, selado entre o presidente norte-americano, Donald Trump, e o presidente chinês, Xi Jinping, com a volta das exportações chinesas de terras-raras para a superpotência norte-americana, bem como a retomada dos embarques de soja dos EUA para o gigante asiático, economistas avaliam que Minas Gerais fica em uma posição um pouco mais delicada, mas sem alterações significativas.
A lista dos produtos mineiros exportados para o país de Xi Jinping começa pelo minério de ferro, com distância relevante para a segunda posição, ocupada pela soja. Em seguida, em patamares bem inferiores, vêm o ferronióbio e a carne bovina.
A economista do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Diana Chaib, afirma que a volta da soja norte-americana ao mercado chinês tende a deslocar parte das compras no pico da safra dos Estados Unidos e pressionar os prêmios e as margens de lucro no mercado.
Mas ao olhar friamente, aponta, não há perda estrutural para Minas Gerais. O efeito tende a ser mais pontual, afetado por questões como eficiência logística, do que alterar a realidade do mercado. A superpotência asiática continua muito dependente do País em relação à soja e, na pauta exportadora do Estado, a principal questão é mesmo o minério de ferro, ditado pelo desempenho econômico da China e pelas condições da indústria extrativa.
“Na mineração, o acordo reduz ruído geopolítico, mas preço e volume do minério seguem ditados pelo ciclo do aço na China, estoques e qualidade do produto. Sem mudança nesses fundamentos, o canal físico de Minas Gerais fica estável. O que pode oscilar são prêmios e frete. É mais ‘humor’ de mercado do que alteração estrutural”, analisa a economista.
O professor de Administração do Centro Universitário Newton Paiva Wyden, Franz Petrucelli, faz um adendo de que, ao ficar em uma posição nebulosa com o tarifaço imposto por Trump, com muita incerteza, Minas Gerais fica novamente em situação delicada com a trégua entre as maiores economias do mundo, após o Estado começar a conquistar novos parceiros comerciais.
A reinserção de um fornecedor como os Estados Unidos na disputa, com estrutura e volume para atender o mercado chinês, aumenta as possibilidades de os chineses negociarem com o Brasil e Minas Gerais em busca de condições mais vantajosas. “Essa barganha, de certa forma, vai diminuir um pouco o poder de venda do nosso produto para a China. Um pouco, porque é muito cedo, são muitas narrativas e poucos fatos nesse primeiro momento”, disse.
Trégua gera “alívio momentâneo” para escassez de chips
Petrucelli destaca que, apesar de ser uma posição delicada, na mineração do Estado o impacto do acordo comercial não deverá ser grande, já que o minério de ferro exportado por Minas Gerais tem muito mais qualidade do que o mesmo mineral vendido pelos Estados Unidos. A situação será definida mais pela negociação das mineradoras mineiras junto à China e da infraestrutura do Estado e do País.
“Temos uma qualidade de minério de ferro que é muito considerável. A questão é o custo que pode ter alguma influência. O custo de logística hoje em dia, independente do produto, acaba gerando valores maiores de compra por parte do comprador”, analisa.
O professor da Newton Paiva ressalta ainda que a guerra comercial fez os Estados Unidos partirem em busca de fornecedores de insumos essenciais para a indústria de tecnologia, como as terras-raras, e diminuir sua dependência da China. A distensão entre as maiores economias do mundo, aponta Diana Chaib, gerou um alívio momentâneo em relação à escassez de chips, mas sem revelar um horizonte de plena paz no comércio internacional.
“A disputa tecnológica segue, a cadeia segue concentrada na Ásia e gargalos podem voltar. Para Minas Gerais, isso significa menos risco de parada na indústria automotiva agora, e a lição estratégica de sempre: diversificar fornecedores e tocar política industrial, Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), compras públicas, conteúdo local, para reduzir vulnerabilidades”, argumenta a economista da UFMG.
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