Turbulências afetam a bolsa de valores
O aumento da inflação mundial e a queda dos preços das commodities no mercado internacional aliadas ao cenário econômico e político instável no Brasil fizeram com que a Ibovespa encerrasse setembro com baixa de 6,57%, a pior queda mensal desde março de 2020, quando o índice despencou 29,9% em função da crise gerada pela pandemia de Covid-19. Com o resultado mensal, a desvalorização na bolsa nacional até setembro é de 6,75%. Para outubro, as incertezas ainda são muitas e podem haver novas quedas.
O analista da Terra Investimentos, Regis Chinchila, explica que setembro foi marcado pela queda dos preços das commodities, aumento da inflação e tendência de redução dos estímulos do Fed (banco central dos EUA). Fatores que deixam o mercado mais cauteloso.
“O mercado internacional segue com muitas indefinições. Entre elas, o timer com que os estímulos monetários serão reduzidos, o Fed falando por volta de novembro e de forma gradual. Outra coisa que o mercado vem monitorando são os estímulos fiscais e a velocidade com que os juros nos Estados Unidos serão aumentados e quando”.
Outros fatores de preocupação global e que afetam o desempenho das bolsas são a inflação no mundo e a desigualdade no processo de vacinação contra a Covid-19 em diversos países, o que dificulta e traz problemas na oferta e demanda de alguns produtos. A inflação também é resultado da questão da energia, do petróleo, carvão e gás natural que estão com os preços subindo bastante.
Ainda segundo Chinchila, a desaceleração chinesa, assunto que é importante acompanhar, mexe com as commodities de maneira geral, mas, principalmente, com o minério de ferro, já que a China está segurando a produção de aço. A situação da Evergrande, que ainda está sem solução e com dívida de US$ 300 bilhões, é outro fator que pode interferir no mercado.
“Não é um cenário fácil e simples. Até final do ano terá muita discussão sobre a recuperação das economias mundial e da situação dos estímulos. Não é um movimento fácil”, disse.
No que se refere ao mercado nacional, muitas são as incertezas econômicas e políticas que acabam deixando o cenário instável e afetando o Ibovespa. “Ainda temos problemas no campo político, lembrando que 2022 será ano eleitoral. Há também muitas questões indefinidas no radar, como a reforma do Imposto de Renda, PEC dos Precatórios, Novo Bolsa Família, Orçamento de 2022 com teto de gastos e fundo eleitoral, além do monitoramento com a inflação e a crise hídrica que o País vem passando”.
Toda esta incerteza, segundo Chinchila, reflete na movimentação mais contida do Ibovespa, já que o investidor está com maior cautela. “A Bovespa fechou setembro com 6,57% de baixa, não foi um trimestre fácil. Houve deterioração do cenário de maneira geral. O mercado segue esperando a recuperação do PIB em 2021 e 2022 e a gente já teve o cenário sendo corroído com a pressão de combustíveis, custo de energia e inflação. Além disso, há o aumento dos juros. Então, o cenário local é difícil também”.
Chinchila explica que com todas as incertezas e volatilidade do mercado, há uma tendência de migração dos investimentos de renda variável para a fixa, fomentada também pelos juros mais altos e o menor risco.
Cenário turbulento
O diretor de Estratégia da Belo Investment Research, Rafael Foscarini, ressalta que é difícil prever o comportamento da economia brasileira. Segundo ele, nos últimos três meses houve um descolamento do Brasil em relação às demais economias emergentes, com os demais países se recuperando e o Brasil ficando para trás.
“O cenário internacional turbulento afeta o Brasil e o Ibovespa. Estamos com o dólar mais forte. Tem as incertezas geradas pelas importações da China e a crise da Evergrande, que afetam o aço e o minério de ferro. Aqui, isto reflete muito nas ações da Vale, papéis importantes no Ibovespa e que despencaram muito em setembro”.
Ainda segundo Foscarini, este mês os Estados Unidos já relataram o não cumprimento, por parte da China, de acordos comerciais.
“Com estas incertezas os investidores recuam. Quem tiver lucro faz a realização. Além disso, existe maior migração para os investimentos mais seguros, como o dólar. Sai da bolsa e vai para os títulos públicos, renda fixa ou bolsa americana”.
Para Foscarini, o cenário nacional também é instável, com risco fiscal altíssimo e discussões sobre a manutenção do auxílio emergencial em 2022 e pressão eleitoral. Há ainda os precatórios, que tem um valor altíssimo para ser pago.
“Quando tem aumento da dívida por conta dos gastos do governo, os investidores ficam com receio, vão para aplicações mais seguras e força a bolsa para baixo”.
O aumento da inflação e das taxas de juros para conter o custo de vida também são fatores que interferem de forma negativa nos investimentos da bolsa, já que as empresas podem perder valor e ter maior dificuldade de acessar o crédito, que também fica mais caro.
Segundo Foscarini, apesar das incertezas, o momento, dependendo do perfil do investidor, pode ser oportuno para a compra de papéis interessantes que hoje estão com valores mais baixos mas que podem valorizar em 2022. Entre as empresas apontadas como interessantes para se investir estão a Vale, as ligadas ao setor de proteína animal (JBS, Marfrig, BRF e Minerva) e PetroRio,que se beneficiou da alta do petróleo em setembro e deve se manter em alta,mesmo que em níveis menores que o visto no último mês.
Dólar avança 1,4% em meio ao pessimismo
São Paulo – O dólar começou a semana sob forte pressão, em alta de mais de 1,4% e fechando perto das máximas do dia, com investidores em busca da segurança da moeda norte-americana diante de novo dia de forte pessimismo nos mercados externos e com o Brasil ainda inspirando cautela do lado fiscal.
Na B3, o dólar futuro, cujos negócios vão até as 18h (de Brasília), acelerou a alta para mais de R$ 5,48, após a Procuradoria-Geral da República (PGR) informar que vai abrir apuração preliminar para investigar offshores ligadas ao ministro da Economia, Paulo Guedes, e ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, ambos citados no caso Pandora Papers.
As manchetes podem ser lidas por investidores como potenciais dificultadores para a evolução no Congresso das pautas econômicas do governo.
O mercado demonstrou, ainda, mais medo de descumprimento de regras que seguram as contas públicas depois de a Comissão Mista do Orçamento (CMO) pautar para hoje a análise de projeto de lei de crédito suplementar de pouco mais de R$ 164 bilhões, num momento em que paira constantemente entre investidores temor de aumento desenfreado de gastos conforme o ano eleitoral de 2022 se aproxima.
Falas de Campos Neto ontem foram na linha de apontar que o problema fiscal segue como uma preocupação latente. Mas o chefe do BC afirmou também que a depreciação do real neste ano está na média e até “um pouquinho melhor” na comparação com outros países, o que esfriou expectativas de que o BC possa intervir mais pesado no câmbio à medida que o dólar se aproxima de R$ 5,50.
Mas, segundo analistas, foi o dia negativo no exterior que determinou a alta do dólar por aqui. “A falta de transparência no mercado imobiliário chinês e a urgência para os EUA elevarem o teto da dívida estão no foco dos mercados”, disse Victor Lima, analista da Toro Investimentos, citando ainda o rali nas taxas dos títulos do governo dos EUA, que elevam a atratividade do dólar como ativo de investimento.
O dólar à vista subiu 1,43% ontem, a R$ 5,4465, depois de variar entre R$ 5,374 (+0,08%) e R$ 5,4573 (+1,63%).
Com isso, a cotação devolveu quase toda a baixa de 1,47% da sexta-feira (1º). No dia anterior, quinta-feira, o dólar havia fechado em R$ 5,4496, valor mais alto desde 27 de abril (R$ 5,4625).
Bolsa – O principal índice brasileiro de ações acompanhou a tendência amplamente negativa dos mercados internacionais, diante da escalada dos preços do petróleo, receios de piora nas tensões comerciais entre Estados Unidos e China, além da volta de temores envolvendo efeitos de outro calote da chinesa Evergrande.
De acordo com dados preliminares, o Ibovespa fechou em baixa de 2,35%, a 110.244,96 pontos. O giro financeiro da sessão na bolsa paulista somou R$ 29,6 bilhões.
Os negócio na B3 ainda repercutiram uma agenda extensa de notícias de empresas domésticas, incluindo a compra da Mosaico pelo Banco Pan, o ataque cibernético à CVC e nova encomenda de táxis aéreos para a Embraer, entre outras. (Reuters)
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