UFMG busca R$ 100 milhões para vacina contra a Covid-19

Os testes clínicos em humanos da vacina SpiN-TEC para a Covid-19, desenvolvida pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), terão início nos próximos dias. O imunizante recebeu nesta semana a autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para o começo das aplicações. Enquanto isso, prevendo já a etapa para a circulação da vacina, a universidade está submetendo, junto do setor privado, um edital lançado pelo governo federal, cuja necessidade é de R$ 100 milhões.
O coordenador do Centro de Tecnologia de Vacinas da instituição, professor Ricardo Gazzinelli, explica que dentre os investimentos obtidos há um aporte de R$ 30 milhões repassados pela Prefeitura de Belo Horizonte. “Deste total, até a primeira fase, já utilizamos entre R$ 6 milhões e R$ 7 milhões. Até a segunda fase, já soma em torno de R$ 20 milhões o que já utilizamos. Agora, para a terceira fase, estamos com o nosso edital em aberto com o objetivo de contar com a participação do setor privado, cuja necessidade é de um investimentos R$ 100 milhões para o ensaio clínico entre 2 mil e 3 mil indivíduos”, contabiliza.
Ricardo Gazzinelli explica que, à medida que vão avançando os ensaios clínicos, o processo vai obtendo um custo cada vez mais elevado. “Estamos contando com dois grandes investidores nesta pesquisa. A Prefeitura de Belo Horizonte e o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações foram fundamentais para essa realização. E para o desenvolvimento desta vacina, assim como para as etapas laboratoriais, documentais e estudos clínicos individuais, são necessários 30 profissionais, o que exige também treinamentos e todo um aparato tecnológico”.
Ensaios
Gazzinelli explica que os ensaios clínicos serão realizados em 432 pessoas com diferentes perfis e idades. Porém, terá início assim que a Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) validar as solicitações recomendadas pela Anvisa.
O conteúdo continua após o "Você pode gostar".
Segundo o docente, que também é pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), para chegar ao momento de aplicação das vacinas em humanos existe um processo muito rigoroso. “Assim que idealizamos a vacina, elaboramos um formulário com uma série de informações compostas por meio de testes realizados em animais. Feito isso, foi feito um processo minucioso para o controle de qualidade”, conta.
Dentre os aspectos para se chegar à exatidão do processo, são avaliados, segundo Gazzinelli, a estabilidade do produto, os contaminantes, assim como a segurança e efeitos tóxicos em animais. “Essas são algumas das etapas, que, após realizadas, enviamos à Anvisa para que pudessem analisar os resultados com o objetivo de aprovação. Uma vez que a Anvisa e a Conep aprovem, iniciaremos três fases importantes”, elenca.
Próximos passos
O coordenador de pesquisas vacinais detalha que a primeira fase compreende a realização de ensaios clínicos. “Em primeiro momento, esse ensaio será conduzido no formato de escalonamento em idosos. Se todos os pacientes não tiverem efeitos colaterais significativos, baseado nessa resposta, definiremos qual será a dosagem ideal. Após essa definição, partiremos para a segunda fase, que avalia a segurança ampliada e a dose imunológica”.
A segunda fase será avaliada em 432 pessoas, por meio do Estudo de Não Inferioridade. De acordo com Ricardo Gazzinelli, este estudo tem que garantir qualidade similar ou superior às demais vacinas que já estão em circulação no mercado. Por último, a terceira fase envolverá o estudo que viabiliza o registro do produto para a sua devida comercialização e distribuição.
A vacina, conforme já previsto pela UFMG, terá um custo estimado em cerca de um quinto quando comparado com as demais vacinas em utilização no País. “Prevemos que seja um custo bem menor justamente porque ela passa por uma tecnologia que é mais simples. Portanto, tem um custo bem aquém do que é praticado pelas empresas que desenvolveram as vacinas já existentes. O preço, por mais que seja definido pela indústria, se baseará diante do processo de tecnologia utilizado”, afirma o coordenador.
Convênio
Nesse processo de avanço da SpiN-TEC, a UFMG firmou uma parceria com o governo de Minas Gerais e o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações para criar o Centro Nacional de Vacinas. “Acreditamos que seremos, em breve, uma referência no País na produção e inovação de vacinas. E, por sinal, além da vacina para a Covid, estamos com outras três vacinas em andamento, sendo elas as vacinas para a malária, leishmaniose humana e a monkeypox”, ressalta.
O financiamento por meio do convênio prevê a construção de um prédio avaliado na ordem de R$ 80 milhões. O prédio com 5 mil metros quadrados deverá ser erguido no mesmo terreno que hoje opera também o BHTec, parque tecnológico da prefeitura da Capital. O professor Ricardo Gazinelli adianta que o projeto segue em andamento, contando com investimentos recebidos pelo governo federal, já com a autorização do Instituto Estadual de Florestas (IEF) para a execução de etapas da obra, dentre elas a terraplanagem e as fundações que devem começar ainda neste mês.
Ouça a rádio de Minas