Economia

Unitec não atenderia a atual demanda por semicondutores

Unitec não atenderia a atual demanda por semicondutores
Representante da empresa informou em debate na ALMG que Estado não honrou dívidas | Crédito: Divulgação

Tamanho o desequilíbrio global entre a oferta e a demanda por semicondutores que nem mesmo a instalação da Unitec, em Ribeirão das Neves, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), que ficou apenas no papel, seria capaz de reverter parte da situação e colocar Minas Gerais em situação de vantagem nesse mercado. Lançada em 2012, a indústria era apresentada como marco tecnológico e a primeira brasileira a produzir chips, sob investimentos de R$ 1 bilhão.

No entanto, passados quase dez anos, o projeto não deslanchou, acumulou dívidas e ainda enfrenta ações de ex-funcionários na Justiça, que buscam receber salários e outros direitos trabalhistas em atraso.  As estimativas são de que a dívida chegue a R$ 600 milhões. Paralelamente, seus sócios – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG) e Corporacion America – seguem em busca de um novo sócio-investidor estratégico.

O professor de inovação da Fundação Dom Cabral (FDC), Hugo Tadeu, explica que o mercado global de semicondutores vive uma tempestade perfeita, com excesso de demanda e pouca oferta em todo mundo. Isso, segundo ele, é resultado da pandemia de Covid-19, com pedidos de produção de semicondutores sendo paralisados e retomados nos últimos meses.

“A produção de semicondutores é lenta, com pedidos para anos e aí está o problema. Os dados disponíveis no núcleo de inovação e empreendedorismo da FDC sugerem uma demanda reprimida para a produção de carros e devices (computadores, celulares, tablets e equipamentos com sensores IoT)”, revelou.

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Ainda segundo o professor, o setor automotivo é o que mais sofre com esta escassez, considerando os ciclos de produção e demanda por eletrônicos. “Uma fábrica própria em Minas Gerais não atenderia uma demanda global. Além disso, a Unitec tem problemas desde 2012. Outro aspecto sobre a Unitec seria o investimento necessário para retomar o projeto, destacando o momento atual não favorável sobre o aumento da inflação, juros, queda possível da atividade econômica e investidores internacionais evitando o risco Brasil”, afirma.

Atualização e adequação

Da mesma maneira, o presidente do Sindicato das Indústrias de Autopeças de Minas Gerais (Sindipeças-MG), Fabio Alexandre Sacioto, diz que o projeto precisaria ser atualizado e adequado às necessidades atuais, uma vez que os chips projetados em 2012 talvez já não atendessem às especificidades do mundo atual.

“Os chips já mudaram muito de lá para cá. Além disso, alguns componentes não resolveriam o problema por si só. Precisaria de outros que não seriam fabricados na unidade para atender à demanda reprimida”, avalia.

Sacioto destaca que há anúncios bilionários de produção de semicondutores mundo afora, como os Estados Unidos, que estão investindo mais de R$ 250 bilhões em vistas de ampliar a produção e reduzir a dependência de outros países. E que o Brasil deveria fazer o mesmo.

“A demanda só vai aumentar. O Brasil precisava de uma estrutura industrial para nacionalizar a produção e diminuir a dependência também”, sugere. Mas, ao contrário, o governo federal optou por fechar a única fábrica de semicondutores do hemisfério Sul, localizada em Porto Alegre, com a justificativa de ser muito custosa aos cofres públicos. No entanto, o TCU pediu mais informações ao Ministério da Economia antes de votar a liquidação da Ceitec (Centro de Excelência em Tecnologia Eletrônica Avançada).

Debates

A situação da Unitec chegou a ser debatida na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) no mês passado. Na ocasião, o sócio da Tauá Partners, empresa contratada para a reestruturação financeira companhia, Marco Barreto, que assumiu a gestão da Unitec em julho do ano passado, citou que estava sendo fechado um acordo com o Governo do Estado para o pagamento de dívidas com a empresa pela construção de uma subestação de energia por ela financiada sob a promessa de ressarcimento do Tesouro estadual. 

Mas, segundo ele, o Estado “suspendeu o pagamento sem aviso e sem explicação”. Conforme Barreto, o acordo previa o pagamento de R$ 16 milhões em 24 parcelas de R$ 675 mil, mas apenas as três primeiras prestações foram liquidadas.

Ainda conforme dito pelo presidente da Unitec na audiência na ALMG, o ativo atual gira entre R$ 500 milhões e R$1 bilhão. Os cálculos são de que a planta já instalada custaria, hoje, mais de R$ 1,5 bilhão para ser construída. E, caso entrasse em funcionamento, poderia faturar até R$ 500 milhões anuais, com um lucro médio de R$ 100 milhões. “O mundo todo quer comprar semicondutores. É um mercado em expansão que não vai parar de crescer nunca”, disse à época. 

O governo de Minas e os acionistas da Unitec foram procurados para comentar a possibilidade de retomada do projeto. A Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico (Sede) informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que a pasta se reuniu com a diretoria da empresa nos últimos dias e reforçou que vai ajudá-la a encontrar algum possível investidor.

O BDMG disse, por nota, que é acionista minoritário da Unitec, com 6,5% de participação, e que não participa de sua gestão executiva, mas que apoia os sócios controladores na busca por um plano de reestruturação da companhia que envolva a atração de novos investidores. Já o BNDES declarou que não pode se pronunciar sobre o caso.

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