Usina de biodiesel em MG pode ser fechada

Anunciada em meados do ano passado, a venda da subsidiária integral de biocombustíveis da Petrobras, PBio, incluindo as três usinas de biodiesel, uma delas localizada em Montes Claros, no Norte de Minas, foi tema de audiência pública da Comissão de Administração Pública da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). Entre os pontos debatidos entre os parlamentares, especialistas e representantes dos petroleiros, estão os impactos de um possível fechamento da Usina de Biodiesel Darcy Ribeiro.
Autora do requerimento, a deputada Beatriz Cerqueira (PT) questionou os motivos da privatização da Petrobras Biocombustível S.A. (PBio), incluindo as três usinas de biodiesel localizadas em Montes Claros, Candeias (BA) e Quixadá (CE). As usinas produzem biodiesel a partir de óleo de soja, algodão, palma, gordura animal e óleos residuais.
Para ela, a privatização da Petrobras por meio da venda de suas subsidiárias significa perda de valor estratégico para o País. “Dá a ideia que de tudo que é público é ruim e precisa ser privatizado. Esse é um posicionamento ideológico que precisa ser combatido, pois quem vai pagar a conta, aliás, já tem pago, é o brasileiro, com os altos preços do gás de cozinha e do combustível”, declarou.
A deputada ressaltou ainda a importância da estatal para a economia brasileira, citando que representa significativa parte do Produto Interno Bruto (PIB) e de postos de trabalho. “Daí a importância deste debate em vistas de esclarecer os motivos e as consequências dessa privatização”, completou.
O conteúdo continua após o "Você pode gostar".
Por meio de participação remota, o coordenador do Sindicato dos Petroleiros de Minas Gerais (Sindipetro-MG), Alexandre Finamori França Baptista, destacou que os mais de 150 trabalhadores da usina de Montes Claros estão em greve junto com demais integrantes da categoria das demais unidades, desde o último dia 20, em um movimento conjunto contra a privatização da PBio e em defesa dos empregos.
“Todos estão sucateados, assim como a usina e os equipamentos. Não apenas a região de Montes Claros, mas a de Candeias e a de Quixadá sofrerão os impactos dos fechamentos destas unidades. Após o fechamento de Quixadá, a economia da cidade já quase morreu. Cadeias inteiras de produção serão prejudicadas e em Montes Claros não será diferente”, alertou.
Somente a Usina de Biodiesel de Montes Claros gera renda para aproximadamente 9 mil famílias da região na produção de energia limpa. Além do investimento econômico e ecológico, a Petrobras, como empresa estatal, desempenhou um importante papel social com a subsidiária. Gerou empregos e desenvolveu a economia de locais sem grandes investimentos em indústria.
Segundo a nota divulgada pelo sindicato no início da greve, o movimento foi deflagrado após várias tentativas de negociação entre o sindicato e a direção da Petrobras com o objetivo de garantir a absorção dos trabalhadores da unidade. Porém, a “empresa se mostrou irredutível, usando como argumento uma impossibilidade jurídica para a transferência interna dos petroleiros concursados”.
Procurada, a Petrobras não se manifestou até o fechamento desta edição. Em outras oportunidades, a estatal já informou que com o desinvestimento da PBio ocorrerá a sucessão trabalhista, ou seja, os empregados permanecerão na empresa, que terá um novo operador.
“Meros exportadores” – Outro participante da audiência pública, o deputado Rogério Correia (PT) comparou a desestatização das refinarias ao que ocorreu com a Vale do Rio Doce (atual Vale) há anos. “Com a súbita exportação do minério, nossas siderúrgicas perderam valor. A produção de aço dava ao Brasil condições estratégicas de mercado que hoje não existem mais. Assim ocorrerá com o petróleo. Vamos virar meros exportadores de óleo bruto. É uma política equivocada e na contramão da tendência mundial”, avaliou.
Da mesma forma, o advogado no Escritório Garcez e Pesquisador do Setor de Petróleo, Felipe Vono, que também participou por videochamada, afirmou que a Petrobras está seguindo o caminho oposto não apenas da própria história, mas dos demais operadores, transformando-se em um simples explorador de petróleo com a saída de importantes segmentos de biodiesel, refino, gás e outros.
“Desde 2016 a empresa vem sendo desintegrada. E agora, com a venda da PBio, teremos impactos no desenvolvimento regional de Minas Gerais e, consequentemente, no desempenho econômico do País. A venda das refinarias significa a saída da Petrobras do mercado de biocombustíveis, enquanto o mundo inteiro discute e converge para a exploração de energias renováveis”, alertou.
Ouça a rádio de Minas