Usina Jatiboca descarta venda da unidade e garante que não faliu
O conselheiro da Usina Jatiboca, Luiz Custódio, descartou qualquer possibilidade de venda da unidade da empresa, situada em Urucânia, na Zona da Mata mineira, em entrevista exclusiva ao Diário do Comércio. Ele também garantiu que a tradicional produtora de açúcar e álcool não decretou falência, como divulgado por parte da imprensa.
A Jatiboca ganhou os noticiários desde a semana passada, quando informou que encerrará as atividades em novembro. O anúncio trouxe preocupações para a região, visto que a companhia emprega cerca de 1.100 pessoas de forma direta, entre funcionários da indústria e do campo – número que sobe para quase dois mil no período da safra – e é responsável pela renda de centenas de arrendatários de terras e fornecedores de cana-de-açúcar.
Alinhado ao que disse à reportagem os sindicatos dos trabalhadores, o executivo afirmou que a empresa tem enfrentado problemas relacionados à disponibilidade de matéria-prima e à falta de profissionais. Conforme ele, a empresa consegue realizar apenas 35% da colheita da cana com máquinas, devido à topografia da Zona da Mata, cujo declive é de mais de 6%. Custódio ressaltou que o trabalho manual exige mão de obra e gera perda de produtividade.
O conselheiro salientou que há três safras faltam funcionários para o corte da cana, sendo que, na safra deste ano, entre maio e outubro, faltaram 300. Além disso, a Jatiboca produziu 48 toneladas de cana por hectare (t/ha), enquanto no Triângulo Mineiro, região que concentra as principais instalações do segmento, a média de produção chega a 90 t/ha.
“A usina tem condições de moer 900 mil toneladas de cana por safra. Nós terminamos a última safra com 480 mil toneladas”, disse. “Não existe mais área plana na região. Para a cana ser viável, ela precisa estar localizada em um raio de 25 quilômetros da usina, acima disso, o frete pesa e gera prejuízos”, enfatizou, citando ainda que a falta de chuvas na Zona da Mata também tem afetado a produtividade e os resultados da companhia.
Segundo Custódio, a Jatiboca tem sofrido prejuízos financeiros há vários anos, com exceção de um ano no qual os preços internacionais do açúcar e do álcool subiram, melhorando a situação. De acordo com ele, os valores atuais estão baixos e a tendência é continuar pelas projeções realizadas pela empresa, o que em conjunto com os demais problemas mencionados, faria com que a performance na próxima safra fosse novamente negativa.
Nesse sentido, o executivo destacou que a empresa optou por encerrar as atividades porque ainda tem recursos para indenizar todos os trabalhadores, algo que não poderia garantir se continuasse com resultados vermelhos. Ele afirmou que a usina nunca deixou de pagar funcionários ou fornecedores e assegurou que todos os trabalhadores serão indenizados.
Empresa tem estoques e pode vender equipamentos para quitar tudo
O patrimônio da Usina Jatiboca vale três vezes mais do que o passivo da empresa, conforme o conselheiro. Custódio revelou que pelos cálculos da companhia seriam necessários R$ 30 milhões para pagar os direitos trabalhistas de todos os colaboradores que serão demitidos, algo que está garantido com o dinheiro que tem em caixa e com os estoques que ainda serão vendidos – possivelmente até o início da próxima safra. Para quitar os débitos com os fornecedores, ele explica que a empresa pode ter que vender alguns equipamentos.
O conselheiro ainda confirmou que a usina foi alvo de interesse de empresários, contudo, os acionistas não vão vender porque não acreditam que alguém de fato queira comprar “uma empresa sem futuro”, sendo que há outras usinas à venda, por exemplo, no Triângulo Mineiro. Conforme ele, um interessado chegou a oferecer um real para assumir a planta.
Usina Jatiboca ainda não definiu data de fechamento
Nesta quarta-feira (29), aconteceu uma reunião entre a Usina Jatiboca e os sindicatos dos trabalhadores, além de prefeitos, deputados e um representante do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). Segundo Custódio, todos expuseram seus pontos e foi marcado um novo encontro para continuar as negociações. De acordo com ele, a empresa previa fechar as operações no dia 15 de novembro, mas a data dependerá das tratativas.
Ainda conforme o conselheiro, os parlamentares tentam levar a situação para os governos federal e estadual, na tentativa de viabilizar uma continuidade das atividades. Ele disse que o prosseguimento por mais algumas safras só seria possível com recursos governamentais.
Ouça a rádio de Minas