Saiba como o vai e vem de tarifas pode afetar a economia mineira

As novas tarifas impostas pelo presidente dos Estados Unidos (EUA), Donald Trump, têm promovido uma verdadeira guerra comercial entre as duas maiores economias do mundo. China e Estados Unidos têm anunciado aumento nas taxas recíprocas de produtos importados, elevando as tarifas para 125% no caso dos produtos chineses que chegam aos EUA e 84% no caso dos produtos americanos importados pelos chineses.
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As novas taxas praticadas pelas potências econômicas preocupam o mercado, uma vez que devem provocar efeitos não somente nos países diretamente envolvidos como em toda economia global. A percepção é unânime entre diversos especialistas ouvidos pelo Diário do Comércio. Minas Gerais não fica de fora. Pertencendo a diversas cadeias importantes de produção, a economia mineira também pode ser diretamente impactada, afetando não só mercados financeiros como cadeias de suprimentos e até consumo.
Alta do dólar inibe consumo de produtos essenciais
Na avaliação do CEO da SME The New Economy, escola de capacitação de empresários e investidores, Theo Braga, a decisão de Trump já gerou, como esperado, uma valorização do dólar. Essa valorização acarreta, segundo o gestor, a consequente desvalorização do real que traz implicações diretas para o Brasil, incluindo Minas Gerais. “A alta da moeda norte-americana pressiona ainda mais a inflação no País, encarecendo produtos essenciais importados, como combustíveis e tecnologia”, afirma Braga.
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Segundo o executivo, as taxações causam uma turbulência no comércio global. “A valorização do dólar é imediata e agressiva, penalizando o poder de compra dos consumidores e encarecendo produtos essenciais. O Banco Central acaba se vendo numa encruzilhada: combater a inflação ou sustentar o crescimento?”, ressalta.
Essa “encruzilhada” enfrentada pelo Banco Central do Brasil reflete, na opinião de Braga, o dilema sobre como equilibrar o controle da inflação com o fomento ao crescimento econômico. “A elevação das taxas de juros, uma medida frequentemente adotada para conter a inflação, pode desestimular os investimentos e prejudicar o crescimento econômico”.
Negociações bilaterais podem reduzir incertezas
Para o professor de economia do Ibmec de Belo Horizonte Helio Berni, há uma sensação de que essa guerra comercial esteja indo mais longe do que o esperado, mas na opinião dele, de alguma forma o mercado já previa a situação. “As retaliações já eram esperadas. Agora, a dinâmica é que haja negociações bilaterais para que o nível de ruído e incerteza comece a diminuir nos mercados”, afirma.
Visão semelhante tem a analista de negócios internacionais da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), Verônica Winter. Ela comenta que, nesse momento de alta e retaliações, o mercado acompanha com preocupação e aguarda os impactos reais. “É tudo muito incerto, a gente não consegue ainda fazer um panorama ou uma projeção nesse momento porque as escaladas de tarifas têm sido muito frequentes. Num cenário internacional, isso nunca aconteceu numa história recente”, diz.
Na visão de Verônica Winter, eventualmente, isso pode acarretar uma desorganização da cadeia produtiva mundial em que hoje cada país cumpre seu papel. “No momento, temos mesmo que aguardar”, avalia.
Tarifas podem abrir mercado de oportunidade para Minas Gerais
No entanto, os especialistas avaliam que nem tudo são só desafios. Na visão do professor do Ibmec, como bens e serviços brasileiros serão impactados com tarifas mais baixas, é possível pensar no consumidor comprando bens e serviços internos a preços mais baixos do que daquelas economias que vão ter que pagar tarifas mais elevadas. “Pode existir aí algum ganho competitivo no mercado internacional através de preços”, avalia.
No entanto, pensando no resultado líquido de todo esse processo, Berni pontua que haja necessidade de olhar para o fato do mercado viver uma incerteza muito elevada. “Isso traduz em desempenho ruim de várias bolsas e o resultado líquido final disso tende a não ser bom para a economia no curto prazo”.
Theo Braga, da SME, acredita que o agronegócio, que já é um dos maiores fornecedores de commodities, pode se beneficiar dessa situação. Com a China buscando alternativas para seus fornecedores nos EUA, não só Minas como todo o Brasil, podem ter a chance de se consolidar como parceiros estratégicos, principalmente no fornecimento de soja, carne e outros produtos agrícolas.
“O Brasil, com sua base exportadora forte, pode ampliar sua participação no comércio internacional, especialmente em mercados que buscam alternativas aos produtos chineses e americanos. Minas Gerais, com sua robusta produção de café, soja, açúcar e minério de ferro, está em uma posição estratégica para se beneficiar dessa reconfiguração do comércio global”, avalia.
Verônica Winter da Fiemg cita não só o agronegócio, como os produtos da mineração. “A gente pode ter um ganho tanto no mercado americano quanto no chinês diante da guerra comercial”. Porém, ressalta a incerteza como ponto de atenção.
Essa janela de oportunidade, no entanto, exige, na visão de Braga, uma atuação bem planejada e a superação de desafios logísticos e institucionais. “A chave para o sucesso das empresas brasileiras estará em sua capacidade de se adaptar a um cenário volátil e imprevisível, enquanto buscam novos mercados e estratégias para mitigar os impactos negativos dessa crise econômica global”, finaliza Theo Braga.
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