Vale da Eletrônica enfrenta falta de insumo

A falta mundial de componentes eletrônicos continua impactando de forma negativa na produção das empresas do Vale da Eletrônica, em Santa Rita do Sapucaí, no Sul de Minas. As empresas vêm enfrentando dificuldades no abastecimento e recebendo apenas entre 30% e 40% do volume de insumos encomendados. Apesar do desabastecimento, por ser um arranjo produtivo bem estruturado, as indústrias estão conseguindo manter a mão de obra empregada.
De acordo com o presidente do Sindicato das Indústrias de Aparelhos Elétricos, Eletrônicos e Similares do Vale da Eletrônica (Sindvel), Roberto de Souza Pinto, apesar de aquém do demandado, o fornecimento dos insumos está acontecendo, o que permite a manutenção das empresas em funcionamento.
“O abastecimento de matéria-prima está acontecendo regularmente, porém, em doses pequenas. A indústria encomenda 100% do que precisa, mas recebe de 30% a 40% do que se pede. Acho que neste ritmo e da forma que os fabricantes dos insumos estão conseguindo produzir, eles estão abastecendo o mercado com cotas menores, para não deixar ninguém sem. Mas ainda é uma situação muito difícil”.
Ainda segundo Souza Pinto, a chegada de parte dos insumos tem demorado, em média, de três a cinco semanas, mas, em casos mais graves, a espera pode chegar a 20 semanas, como nos chips e semicondutores.
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“O problema mais sério está no abastecimento de chip e semicondutores. Mas também enfrentamos a falta de granulado de injeção plástica, chapas de aço, chapas para circuito impresso”, disse.
Pesa ainda sobre as indústrias do Vale da Eletrônica o aumento dos custos. Além de a alta ser provocada pela escassez de matéria prima, o real desvalorizado frente ao dólar também tem prejudicado as margens. Muitas empresas fecharam contratos com o dólar mais baixo e, com a demora da entrega dos insumos, acabam enfrentando perdas ao concluírem os pedidos.
“Tudo que está cotado em dólar subiu. Ainda enfrentamos alta na logística internacional, que também ficou bem mais cara”.
Com todos os desafios, segundo Souza Pinto, não é possível estimar a evolução do Vale da Eletrônica em 2021. Mas, são esperados resultados mais favoráveis que os registrados em 2020, ano em que a pandemia impactou de forma mais negativa o setor.
“É um momento ainda muito complicado. Com a falta de regularidade no abastecimento da indústria é impossível fazer algum planejamento ou programar a produção. É uma situação que vem desde o ano passado e acredito que só será resolvido em 2022, de forma gradual e lenta. A falta de produtos e o encarecimento não é só no nosso setor, ela acontece no mundo e em vários segmentos. Para que esta situação melhore e os preços caiam, é preciso que a sociedade consuma de forma consciente, para que haja um equilíbrio entre a oferta e a demanda”, explicou.
Ainda segundo o representante do Sindvel, apesar das dificuldades, as empresas do polo estão conseguindo manter os postos de trabalho e existem indústrias contratando.
“Santa Rita do Sapucaí foi a segunda cidade que mais gerou empregos em Minas após o início da pandemia de Covid-19, atrás somente de Extrema. Por sermos um arranjo bem organizado, temos estrutura para enfrentar crises. Nosso polo é formado, principalmente, por médias e pequenas empresas que estão conseguindo manter os empregos e gerando mais. Estamos em franca contratação de mão de obra e recebendo novas indústrias”.
As estimativas em relação ao mercado são positivas e as empresas continuam investindo em novos produtos e inovações. Para o ano que vem, Souza Pinto explica que serão colocados em linha de produção mais de 7 mil produtos desenvolvidos no polo ao longo do ano.
Comenda Sinhá Moreira – Para estimular as inovações, o Sindvel criou a Comenda Sinhá Moreira, que homenageia a inovação, a geração de empregos e uma personalidade ilustre importante para o APL de Santa Rita do Sapucaí. Este ano, o evento será em dezembro e as empresas já estão passando por avaliação da banca do Sindvel.
De acordo com Souza Pinto, a Comenda tem o objetivo de perpetuar a memória e a importância de Sinhá Moreira, precursora do Vale da Eletrônica.
“Sinhá Moreira foi quem implantou o ensino da eletrônica no Brasil. A primeira escola eletrônica da América Latina foi em Santa Rita e foi feita por ela, que investiu o próprio dinheiro, o conhecimento e a estrutura. A escola foi a indutora para a criação de universidades, para formar gente para o setor e para a formação do nosso arranjo produtivo”, explicou.
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