Vale encontra ‘anomalia’ em dreno de barragem em Ouro Preto e ANM fará inspeção

A mineradora Vale encontrou uma anomalia em um dos 131 drenos da barragem Forquilha III, em Ouro Preto, na região Central de Minas Gerais. Desde 2019, a Zona de Autossalvamento (ZAS) foi evacuada e a estrutura está em nível 3 de emergência (quando há risco de rompimento iminente). O nível é o mais alto da escala da classificação da Agência Nacional de Mineração (ANM).
A anomalia consiste no acúmulo de material sedimentado com características ferruginosas junto ao fluxo normal de água na saída do dispositivo de drenagem e, de acordo com a mineradora, não alterou as condições anteriores de segurança. Também não foram observadas alterações em outro instrumento de monitoramento da barragem, como radar e piezômetros, segundo informou o Governo de Minas.
No entanto, ainda conforme o Executivo estadual, a Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam) realizou uma filmagem interna do dreno e constatou alguns furos na tubulação, que podem estar contribuindo para o evento relatado. “Estudos mais detalhados estão em curso para confirmar essa hipótese. Caso seja confirmada, a Feam cobrará para que a Vale tome as devidas providências para correção”, informou o governo.
Em nota enviado ao DIÁRIO DO COMÉRCIO, a mineradora afirma que a alteração foi identificada durante uma inspeção regular realizada em março deste ano e assim que detectada, “a Vale prontamente comunicou aos órgãos competentes e à empresa de auditoria técnica independente, que acompanha as ações na estrutura, e desenvolveu um plano de ação já em implantação para correção da ocorrência”.
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O documento fala ainda que “a estrutura segue monitorada 24 horas por dia, 7 dias por semana, pelo Centro de Monitoramento Geotécnico (CMG) da empresa”. Na nota, a Vale reforça que “empreende todos os esforços visando a redução do nível de emergência da estrutura”.
Barragem Forquila III está sendo descaracterizada
Desde 2019, a área de ZAS, ou seja, aquela que seria imediatamente atingida em caso de um rompimento, encontra-se evacuada, e a barragem, em processo de descaracterização. O Governo de Minas informou que a descaracterização é uma consequência da Lei Mar de Lama Nunca Mais, sancionada em 2019. Atualmente, a barragem já foi descaracterizada em 16%.
Em fevereiro deste ano, dados do boletim mensal da ANM já haviam informado que das 64 barragens de mineração em situação de emergência declarada no País, Minas Gerais concentra 35 nos três níveis da classificação, sendo três no nível 3:
- a de Forquilha III, em Ouro Preto;
- a Sul Superior, em Barão de Cocais, ambas da Vale;
- e a Barragem de Rejeito em Itatiaiuçu, da ArcelorMittal.
Além das barragens com emergência declarada, Minas Gerais, Estado que concentra mais da metade de todas as estruturas em emergência no Brasil, também tem outras 15 em nível de alerta, que é um estágio anterior aos três níveis mais críticos.
Para esta sexta-feira (5), era prevista uma inspeção da Agência Nacional de Mineração, mas de acordo com a assessoria da Vale, a visita, que é periódica, não aconteceu e será remarcada, mas ainda sem data definida.
Procurada, a ANM disse, por nota, que acompanha a execução do plano de ação elaborado pela Vale para tratamento da anomalia na barragem de Forquilha III, em Ouro Preto, por meio de reportes técnicos diários encaminhados pela empresa. E que na segunda e terça-feira (8 e 9/4), juntamente a outros órgãos públicos, realizará diligência à mina de fábrica para averiguar os resultados dos trabalhos efetuados pela Vale e seus consultores.
“Em relação ao histórico da situação da barragem, no último dia 15 de março, foi constatada a saída de sedimentos pelo dreno interno DP2, localizado em um alteamento a montante da barragem Forquilha III. A ANM realizou duas inspeções no local (19/03 e 22/03), exigindo esclarecimentos e estudos, e na última ocasião a Agência verificou que ainda havia um volume pequeno de sedimento saindo pelo dreno, cuja porção líquida apresentava turbidez insignificante, o que afasta a hipótese de agravamento imediato da situação da barragem”, justificou.
Área sujeita à inundação deve ser bloqueada
Segundo o Governo de Minas, diante da anomalia reportada pela Vale, a Defesa Civil Estadual também realizou fiscalização na região, avaliando a ZAS por meio de um sobrevoo em toda a sua extensão, no último dia 25 de março. Um relatório foi enviado à Vale cobrando o esclarecimento de alguns pontos e solicitando correção de inconsistências identificadas no Plano de Ação de Emergência de Barragens de Mineração (PAEBM).
Também foi determinada que a empresa providencie a constante manutenção de bloqueio e interdição das vias de acesso dentro dos limites da área sujeita à inundação, com observação de que as medidas fossem mantidas até que todos os esclarecimentos sejam reportados.
A Vale informou à Defesa Civil que a ZAS está totalmente evacuada e que um plano detalhado de contingência foi elaborado, com o objetivo de minimizar e conter qualquer possível deslocamento de material, e que aguarda autorização do Ministério Público do Trabalho para sua implementação.
(Com Agência Minas)
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