Valorização do minério prejudica o parque guseiro de Minas Gerais

Tanto a alta do preço do minério no mercado internacional como a lenta retomada da economia brasileira tem prejudicado os negócios do setor de gusa em Minas Gerais. De acordo com o presidente do Sindicato da Indústria do Ferro no Estado de Minas Gerais (Sindifer-MG), Fausto Varela Cançado, somente as exportações têm beneficiado a indústria neste exercício.
Segundo ele, com o rompimento da barragem da Vale na Mina do Córrego do Feijão, em Brumadinho, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), no início de 2019, a situação do setor piorou. É que além das siderúrgicas terem convivido inicialmente com o temor de desabastecimento, posteriormente houve o aumento do preço da commodity no mercado internacional.
Para se ter uma ideia, o minério que era comercializado a cerca de US$ 65 a tonelada antes do colapso da estrutura na mina da Vale, hoje situa em patamares superiores a US$ 90 no mercado internacional. No entanto, nos últimos meses, chegou a bater na casa dos US$ 120.
A apreensão do setor guseiro dizia respeito ao encarecimento do custo do produto e à falta de margem para repasses.
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“Esse cenário ainda permanece. Porque mesmo tendo reduzido um pouco, o nível continua bem acima dos preços praticados no período anterior ao colapso e as siderúrgicas não conseguiram reajustar seus produtos, reduzindo ainda mais as margens”, explicou.
Outro ponto que preocupa, segundo Cançado, diz respeito à qualidade do minério de ferro recebido pelas indústrias. Segundo ele, embora isso venha sendo observado há mais tempo, a inquietação diz respeito a venda de minério de menor qualidade, em função da paralisação parcial das minas do Estado.
“A verdade é que a qualidade já vinha caindo há algum tempo e o rompimento da barragem e seus desdobramentos agravaram essa situação. Não sabemos em que medida o que antes era refugo agora está sendo comercializado”, ponderou.
Diante do cenário, as empresas seguem inseguras e continuam vendo com preocupação o desempenho do setor no decorrer deste exercício. Conforme o dirigente do Sindifer-MG , os níveis produtivos continuam nos mesmos patamares, indicando elevação para o encerramento do ano, mas os cenários nacional e internacional não têm contribuído positivamente, exceto pelas exportações.
“Embora o balanço de janeiro a setembro ainda não tenha sido fechado, estimamos que a produção tenha mantido os mesmos níveis de 2018”, citou.
Projeções – A expectativa é que o cenário somente mude com a aprovação efetiva das tão esperadas reformas estruturais, como a da Previdência, recentemente aprovada em primeiro turno no Senado. Segundo o empresário, o aquecimento do mercado interno nos próximos meses poderá beneficiar o setor produtivo como um todo.
“Caso as projeções se confirmem, o setor conseguirá, pelo menos, empatar com o ano passado”, reiterou. Em 2018, o setor produziu 3,16 milhões de toneladas de gusa, representando um avanço de cerca de 15% sobre o ano anterior. O crescimento foi possível, graças à retomada de alguns fornos no decorrer daquele exercício.
Japão se prepara para produzir aço carbono zero
Em todo o mundo, a pressão pela redução de emissões de gases do efeito estufa tem impulsionado as siderúrgicas a buscarem soluções que consigam reduzir os impactos da produção industrial no meio ambiente sem perda de competitividade. No Japão, onde as metas de redução de emissões estão entre as mais audaciosas do planeta, as empresas parecem estar mais perto de zerar as emissões deste poluente na produção do aço. Tudo graças a uma série de tecnologias, já em operação, segundo Koji Saito, líder da área de pesquisa e desenvolvimento da Nippon Steel Corporation (NSC).
O especialista da maior siderúrgica nipônica esteve no Brasil para participar da plenária “Desafios da Indústria Siderúrgica e de Mineração”, realizada na quarta (2) dentro da programação da ABM Week 2019, em São Paulo. Na ocasião ele citou algumas inovações que vêm permitindo às usinas do seu país reduzir drasticamente a redução de emissões de CO2.
Entre elas, um processo que permite a utilização de resíduos plásticos como insumo para adição na câmara do alto-forno. Outra técnica que se destaca é a RHF (Rotary Hearth furnace), que consiste em um processo de redução direta em forno rotativo. Com essa solução, é possível recuperar metais valiosos como o zinco do pó produzido durante o processo de fabricação de aço, além de diminuir o consumo de agentes redutores, como o coque.
Para Saito, o desenvolvimento tecnológico é a chave para solucionar a necessidade de reduzir as emissões globais de gás carbônico. No Japão, a redução de emissões de gases do efeito estufa são uma questão de estado e setorial. Em 2007 o governo criou a iniciativa Cool Earth 50 para incentivar o uso de tecnologias economizadoras de energia e compatibilizar proteção ambiental e crescimento econômico. Em complemento a isso, foi criado o Course 50 (em inglês, CO2 Ultimate Reduction in Steelmaking Process by Innovative Technology for Cool Earth 50).
Reunindo as cinco maiores usinas integradas do país, o Course 50 trabalha para reduzir as emissões dos alto-fornos japoneses em pelo menos 30% até 2030.“Trata-se do primeiro passo importante para chegar ao aço zero carbono”, afirma o pesquisador da Nippon Steel.
Além de soluções para reaproveitar materiais, Saito aposta na utilização de gás hidrogênio no processo de redução direta como a principal medida capaz de impactar positivamente as emissões de gases do efeito estufa na siderurgia. Afinal, diferente de outros materiais combustíveis, o hidrogênio quando queimado produz basicamente vapor de água.
Saito explica que os processos convencionais de fabricação de aço baseados em alto-forno usam gás CO para remover o oxigênio do minério de ferro. Como o gás CO tem um tamanho molecular maior, é difícil para as moléculas penetrarem no minério de ferro. Por outro lado, o gás H2, com um tamanho molecular muito menor, tem uma taxa de penetração maior no minério de ferro, agregando mais eficiência ao processo de redução nos alto-fornos. (Da Redação)
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