Varejo de alimentos cresce no primeiro semestre, mas volume de vendas cai

O consumidor está mais cuidadoso com os gastos nos últimos meses. É que apesar da inflação dos alimentos ter desacelerado, os clientes ainda não sentiram a queda nos preços. Com isso, no primeiro semestre de 2025, o setor de vendas de alimentos viu o faturamento crescer 5,8%, porém, as vendas em unidades caíram 1,4%, indicando que o avanço foi impulsionado pela inflação. A conclusão é de um estudo elaborado pela Scanntech, sobre o desempenho do varejo alimentar.
Embora o setor tenha registrado alta no faturamento, a alta dos preços dos alimentos na primeira metade de 2025 (7,3%) segurou o consumo, é o que explica o head de Inteligência de Mercado da Scanntech, Felipe Passarelli. De acordo com ele, a inflação de alimentos no domicílio vem retraindo nos últimos meses, mas o volume ainda não voltou a crescer no varejo alimentar.
“Os consumidores seguem preocupados e contendo os gastos, em um cenário de endividamento, inadimplência, alta dos juros e a presença do impacto das bet’s. Dessa forma, ainda não observamos o crescimento em volume no varejo”, comenta.
De acordo com o estudo, a cesta de Perecíveis (com 318 produtos) foi a única que apresentou crescimento em volume. Impulsionado pelo consumo de frutas, legumes, verduras e ovos. Já o que o estudo chamou de mercearia básica (52 itens), foi a que mais retraiu em quantidade, impactada pelo maior aumento de preços, entre eles: café, arroz, feijão, leite, massas e óleo de soja.
Segundo Passarelli, o comportamento de compra reforça essa percepção. Ao analisar a quantidade de itens por cupom fiscal, a quantidade de itens por compra caiu 1% e o número de visitas aos centros comerciais também teve leve retração (-0,4%). Porém, ao avaliar o tíquete-médio, a alta foi de 6,2%, comprovando o aumento dos valores.
Essa tendência se confirma na análise na maioria dos meses analisados. Com exceção de janeiro e abril, esse último, impulsionado positivamente pela Páscoa, todos os demais meses do semestre registraram retração no volume de unidades vendidas. Já em março e junho a queda foi mais acentuada: 4,1% em ambos. Nesses períodos, mesmo com o aumento dos preços, o faturamento cresceu de forma mais modesta, com variações de 1,3% e 3,2%, respectivamente.
Além das altas recorrentes nos preços dos alimentos, o head de Inteligência de Mercado da Scanntech pontua que há outros fatores externos que podem afetar o poder de compra e impactar diretamente o orçamento destinado às compras do mês. Isso faz, segundo ele, com que o consumidor adote estratégias como substituir produtos de determinada marca por outras mais baratas ou levar apenas o essencial.
Ainda conforme avaliação de Passarelli, o ambiente continua marcado por incertezas e o consumidor tem se adaptado mês a mês. “Quem poderia prever, dois meses atrás, que chegaríamos a agosto enfrentando custos tão elevados para exportar para os Estados Unidos?”, questiona.
Por outro lado, ele diz que após um junho “tão fraco” (em faturamento), não era possível imaginar que os primeiros sinais de recuperação surgiriam em julho. Desta maneira avalia que agosto é um mês estratégico. “É hora de revisar o que deu certo com os resultados recentemente e usar esses insights para planejar o restante do ano com mais precisão”, sugere.
Na segunda-feira (4), a Associação Mineira dos Supermercados (Amis), divulgou que a demanda dos consumidores nos supermercados de Minas Gerais cresceu 2,82% no primeiro semestre de 2025, em relação ao mesmo período do ano passado. Procurada, para saber se o crescimento reflete a conclusão da pesquisa, a Amis informou que a pesquisa mensal realizada pela associação não avalia quantidade de itens, e que, desta forma, não teria como avaliar o aumento pelo viés.
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