Economia

Com pressão sobre bens duráveis, varejo acumula dois meses de retração em Minas Gerais

Recuo estaria atrelado ao movimento de desaceleração da economia brasileira
Com pressão sobre bens duráveis, varejo acumula dois meses de retração em Minas Gerais
As taxas de juros elevadas e o endividamento das famílias refletem na redução do consumo de bens duráveis em Minas Gerais, impactando a venda de produtos eletrodomésticos | Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom / Agência Brasil

Pelo segundo mês consecutivo, o varejo em Minas Gerais apresentou retração, com quedas de 1,6% e 0,8% em junho e julho, respectivamente na comparação com os mesmos meses do ano passado. O desempenho negativo foi puxado, sobretudo, pelo segmento de bens duráveis, como eletrodomésticos, móveis, automóveis, imóveis e eletrônicos.

A categoria é considerada uma das mais sensíveis à renda e ao crédito, fatores que seguem pressionados pelo nível elevado da taxa de juros e alto endividamento das famílias. Os dados fazem parte do Índice do Varejo Stone (IVS), divulgado na terça-feira, 19.

O recuo no Estado, segundo o economista e pesquisador da Stone, Guilherme Freitas, faz parte do movimento de desaceleração da economia brasileira. Embora sustente o consumo, o mercado de trabalho começa a dar sinais de perda de ritmo de crescimento, o que impacta diretamente o varejo. “Em Minas, alguns segmentos mais sensíveis à renda e ao crédito, como bens duráveis, acabaram sentindo mais essa pressão, o que ajuda a explicar o resultado negativo de julho”, pontua.

Por outro lado, setores ligados a bens essenciais, como supermercados e farmácias, tendem a apresentar maior resiliência. Ambos os segmentos são capazes de atender a demandas de consumo com maior estabilidade, mesmo em um cenário marcado por altos juros e desaceleração econômica.

Diferente de outros grandes centros no País, indústrias, como extrativa e agropecuária, possuem um papel central na economia de Minas Gerais. Para o economista, as oscilações nesses mercados tendem a afetar de forma significativa o emprego e renda em diversas regiões do Estado, refletindo no desempenho do comércio local.

“Minas possui uma base de consumo bastante diversificada, com cidades médias que desempenham papel relevante no dinamismo regional do varejo. Essa heterogeneidade pode fazer com que os impactos sejam sentidos de forma distinta dentro do próprio Estado”, observa.

Embora elevada, a inflação, hoje em 5,2% – acima da meta de 3% -, demonstra sinais de moderação, apesar de estar mais atrelada a perda de fôlego da atividade do que a uma melhora nos preços. Ao mesmo tempo, o economista frisa que o crédito, hoje em patamares restritivos, contribui para o endividamento das famílias e limita a capacidade de expansão do consumo.

Vendas do varejo crescem no País, mas cenário de incertezas prevalece

Para os próximos meses, o cenário é considerado desafiador para o varejo, tanto em Minas Gerais, quanto no Brasil. Em julho, no entanto, o varejo nacional registrou crescimento de 1% frente ao mesmo período do ano passado, com nove estados em alta no volume de vendas, dentre eles Acre (6,5%), Tocantins (6,4%), Mato Grosso (4,2%) e Amapá (3%).

Com exceção de São Paulo, que encerrou o mês em estabilidade (+0,2%), os demais estados das regiões Sudeste e Sul apresentaram retração. Cinco dos oito segmentos analisados pelo IVS nacional registraram crescimento em julho frente a junho, com destaque para os segmentos de material de construção (3,8%), outros artigos de uso pessoal e doméstico (1,2%) e artigos farmacêuticos (1,1%).

Entretanto, na comparação com julho do ano passado, apenas o setor de combustíveis e lubrificantes encerrou em alta. Entre os resultados negativos, o segmento de móveis e eletrodomésticos, registrou a maior queda, de 8% – o que confirma a menor procura por bens duráveis no período.

Para Freitas, o resultado nacional positivo em julho, puxado especialmente pelo Norte do País, é relevante, mas ainda não indica uma reversão consistente da tendência de desaceleração observada ao longo do ano. “Será necessário observar os próximos meses para entender se estamos diante de um início de recuperação mais sólida ou apenas de uma oscilação pontual”, conclui.

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