Veículos antigos: conheça a cultura que movimenta R$ 32 bilhões no Brasil

A cultura do antigomobilismo, prática de comprar e colecionar veículos antigos, é algo muito forte entre os brasileiros. Levantamento realizado pela JDA Research, a pedido da Federação Internacional de Veículos Antigos (Fiva), aponta que esse segmento movimenta R$ 32,6 bilhões por ano no Brasil.
Esse montante inclui os gastos diretos, como:
- manutenção (R$ 16,1 bilhões);
- comércio de veículos antigos (R$ 12,3 bilhões);
- valores movimentados com eventos (R$ 3,5 bilhões);
- e os gastos indiretos, como as mensalidades de clubes (R$ 768 milhões).
O País conta com 3,2 milhões de veículos históricos pertencentes a 1,2 milhão de colecionadores, com uma média de 2,7 carros antigos por pessoa. A frota de carros antigos equivale a cerca de 3% do total presente no mercado nacional. Quatro em cada dez modelos clássicos são das marcas Volkswagen e Chevrolet.
Segundo o diretor regional da Federação Brasileira de Veículos Antigos (FBVA) na Grande BH, Caio Mário Baptista, o estado de Minas Gerais possui um dos maiores acervos de carros antigos do Brasil. “O acervo de carros raros de Minas Gerais é muito rico”, aponta.



No entanto, segundo ele, São Paulo e os estados da região Sul são os grandes destaques quanto à quantidade de clubes e carros raros. “Eles sempre foram mais conservadores e o movimento de carros antigos é muito forte nesses lugares”, explica.
Memória afetiva e histórica
Baptista ressalta que a paixão do brasileiro pelo carro antigo é muito forte, algo que surge desde o período da infância. Ele lembra que nos anos 1970 e 1980 existia a cultura de manter o mesmo veículo por muitos anos na família. Isso acabou contribuindo para a criação de uma memória afetiva ligada ao carro.
“Tudo isso vai fortalecendo esse movimento para preservar e manter a história do automóvel. Além disso, também tivemos o surgimento de vários clubes de antigomobilismo em todo o Brasil e em Minas Gerais nos últimos 15 anos. São vários encontros realizados nos finais de semana, que ajudam a difundir essa cultura”, completa.
Conforme a pesquisa da JDA Research, os proprietários deste tipo de veículos tendem a ficar, em média, 11 anos com esses automóveis. No caso dos carros antigos, a distância média percorrida é de 779 quilômetros (km) por ano, enquanto no caso das motocicletas históricas, a média é de 361 km/ano.


Perfil dos colecionadores de veículos antigos
Outro dado interessante destacado pelo levantamento é que a média de idade dos colecionadores brasileiros é de 52 anos. Dentre os “antigomobilistas”, 79% são associados a algum clube de veículos antigos e 88% frequentam eventos deste segmento.
“Os carros antigos apresentaram uma valorização muito grande, acima de muitas aplicações no mercado financeiro”, avalia.
O diretor regional da FBVA ressalta que grande parte do público frequentador dos encontros e responsável por aquecer o mercado está na faixa etária entre 30 e 50 anos. Segundo ele, as pessoas com idades superiores a 50 anos possuem menos frequência nos eventos, além de saírem menos com os carros nas ruas.
“Tem mudado muito o perfil nos últimos anos e os carros das décadas de 1970, 1980 e 1990 são os que mais movimentam o mercado. Os veículos de décadas anteriores têm perdido espaço, porque quem já sonhou em ter um carro das décadas de 1950 e 1960, hoje em dia, está com uma idade mais avançada”, explica.


Tradição entre os mineiros
O sócio da Oficina Marca, Arone Eloi dos Santos, destaca que a cultura de colecionar carros antigos é uma tradição entre os mineiros. Para ele, essa tendência tem crescido ainda mais no período pós-pandemia de Covid-19.
“Em Belo Horizonte, por exemplo, essa cultura está em expansão, com muita procura por carros antigos”, afirma.
Na visão de Santos, o perfil do público tem apresentado algumas mudanças ao longo dos últimos anos, principalmente no mercado de restauração. Segundo o empresário, os colecionadores e pessoas de idade avançada estão dando espaço para pessoas jovens em busca de veículos antigos para uso no dia a dia. “Quem realmente investe no mercado de restauração não vai muito para encontros”, relata.
De acordo com a pesquisa encomendada pela Fiva, o proprietário de um veículo antigo possui uma despesa média anual de R$ 27,2 mil. Dentre os diferentes gastos, o destaque fica para a restauração, manutenção e operação do carro, com valor médio de R$ 13,4 mil por ano.


Vantagens e dificuldades enfrentadas
Para o diretor regional da FBVA, os proprietários de carros antigos enfrentam três grandes desafios: falta de mão de obra especializada, de peças e o trânsito intenso das cidades brasileiras.
Ele também ressalta que a melhor maneira de manter um veículo deste tipo em boas condições é usá-lo, pois o carro parado tende a apresentar mais problemas.
Apesar das dificuldades, Baptista avalia que a tendência é de crescimento da cultura do antigomobilismo nos próximos anos. “A tendência do movimento é se organizar e aumentar ainda mais”, completa.
Já do ponto de vista de mercado, Santos destaca que o segmento de restauração tem apresentado grande demanda, o que pode resultar em muitas oportunidades para os empresários do ramo.
“A pessoa que vai trabalhar com restauração precisa ter compromisso, estrutura e profissionais. Quando a pessoa tem essas coisas, só tem a ganhar no mercado, mas, caso contrário, corre o risco de queimar o próprio filme e perder clientes”, alerta.
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