Economia

Veículos elétricos e etanol são opções para redução de CO2

Entenda as vantagens e desvantagens de cada modelo
Veículos elétricos e etanol são opções para redução de CO2
Para especialistas, diante das transformações mundiais, cenário será de várias alternativas | Crédito: Adobe Stock

As mudanças climáticas estão exigindo alterações na matriz energética de vários países na busca pela redução dos impactos ambientais. Entre as opções disponíveis no mercado brasileiro para diminuir as emissões de CO2 estão os biocombustíveis, que inclui o etanol, e o uso de veículos eletrificados (híbrido ou elétrico).

Para os especialistas ouvidos pelo DIÁRIO DO COMÉRCIO, o acesso aos modelos de carros eletrificados hoje no País ainda esbarra no preço, situação que deve se alterar com o passar dos anos, e que pode seguir a lógica dos aparelhos celulares que foram se popularizando com ganho de escala e redução no valor cobrado.

A aquisição desse tipo de veículo também deverá ser acelerada pela concorrência, com a entrada de mais players no mercado. Outro problema destacado pelos especialistas é a questão da infraestrutura para o abastecimento.

A intensificação do uso do carro elétrico no País ganhou destaque na última semana, em razão da fala do governador de Minas, Romeu Zema (Novo), sobre os impactos negativos que poderá gerar no emprego. Além disso, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), vetou um projeto de lei que propunha incentivos à eletromobilidade no Estado.

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Na ocasião, a Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE) ressaltou que as falas de Zema estão em descompasso com a realidade internacional e com o desenvolvimento do próprio mercado brasileiro e criticou a decisão do governador de São Paulo. A entidade ressaltou que a eletromobilidade não é incompatível com o setor de biocombustíveis.

O professor do curso de engenharia elétrica da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Braz de Jesus Cardoso Filho, especialista em propulsão veicular elétrica, observa que o mundo está passando por um período de transição energética e que, possivelmente, o cenário será de várias alternativas energéticas sendo utilizadas.

“É aquela história de que não existe um tamanho que serve todo mundo. Então, em cada nicho de aplicação você vai ver aquela tecnologia que é a mais bem adaptada, que vai levar a mais benefícios e menores custos”, analisa.

Embora a transição energética não aconteça do dia para a noite, Cardoso Filho observa que ela está acontecendo mais rápido que o esperado. “O cenário dos carros elétricos no Brasil mudou significativamente nos últimos meses com a chegada do modelo BYD Dolphin”, diz. Lançado no Brasil em julho, o modelo foi o mais vendido no País, na categoria carros elétricos, em agosto e setembro.

O mercado de eletrificados no Brasil é formado atualmente por 40 montadoras, que, de janeiro a agosto, ofereceram 254 modelos diferentes de veículos leves eletrificados, subdivididos em 208 grupos de modelos, conforme dados da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE).  

Eletrificados em expansão no País

O mercado dos veículos eletrificados deve dobrar de tamanho a cada dois anos no Brasil, segundo o diretor do grupo de veículos leves da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), Thiago Sugahara. Conforme dados da entidade, apenas nos primeiros oito meses de 2023, o mercado de veículos eletrificados (híbrido ou elétrico) leves no Brasil emplacou 49.052 unidades, alta de 76%, na comparação com o mesmo período de 2022 (27.812). É praticamente o total de todo o ano passado (49.245).

Já o marketshare dos veículos leves eletrificados em relação às vendas de veículos convencionais no mercado doméstico nesse período foi de 3,6%.

Neste sentido, levantamento feito pela plataforma de negócios e soluções para o segmento automotivo, Webmotors, atesta o bom momento vivido pelo setor, já que a procura por carros híbridos, veículos alimentados por dois tipos de motores (a combustão e elétrico), novos aumentou 118% em setembro frente ao mesmo mês do ano anterior.

Sugahara ressalta que as baterias dos carros elétricos podem ser recicladas ou ainda ter uma “segunda vida”, que visa dar uma finalidade diferente da original a baterias, cuja capacidade está esgotada ou perto disso. “Já há mais de uma fábrica de reciclagem de bateria no Brasil”, diz. Uma delas é a Energy Source.

De janeiro a agosto, vendas cresceram 76% no Brasil | Crédito: Adobe Stock

Abastecimento

Neste quesito, com o crescimento da participação de mercado dos eletrificados, a rede de eletropostos no Brasil também está sendo impulsionada. Levantamento de empresas do grupo de infraestrutura da ABVE indica que em agosto havia 3.800 eletropostos públicos e semipúblicos no País. Em dezembro de 2022, este número era de 2.955, incremento de 28%.

Vale lembrar ainda que, de janeiro de 2021 a agosto de 2023, o mercado brasileiro emplacou 56.331 veículos eletrificados plug-in (BEV e PHEV). Com esses números, é possível estimar uma relação de cerca de 15 veículos elétricos plug-in para cada eletroposto público ou semipúblico no Brasil, o que, segundo a entidade, não está distante das recomendações internacionais, em torno de 10 por 1.

Preço e recarga são desafios para aquisição dos eletrificados

A opção por um determinado tipo de veículo de levar em conta distância e tipo de carga, segundo o professor de estratégia da Fundação Dom Cabral (FDC), Paulo Vicente. “Os veículos puramente elétricos ainda devem ficar mais restritos a pequenas distâncias e pequenas cargas, isto é, tráfego intraurbano. Para distâncias e cargas médias, os veículos híbridos (com e sem tomada) devem substituir os veículos puramente de combustão”, analisa.

Já para grandes cargas e grandes distâncias, as opções podem ser a de veículos a diesel, e possivelmente de hidrogênio.

O professor observa que para o consumidor, atualmente, as grandes desvantagens dos veículos eletrificados são o custo total de propriedade e a relativa falta de locais para recarga. “Porém, dentro de alguns anos, o custo total de propriedade deve baixar e ficar mais baixo do que os veículos de combustão”, avalia.

De acordo com Vicente, essas mudanças devem começar a ocorrer no final desta década e se estender até 2050. “O preço irá baixar com curva de aprendizado, novas tecnologias de baterias e ganho de escala. Isto aponta para por volta de 2030 o custo total de propriedade ficar competitivo”, observa.

O professor também avalia o uso do etanol, que, segundo ele, já atingiu um patamar competitivo há algumas décadas. “Mas a curva de aprendizado está atingindo um patamar e dificilmente irá melhorar significativamente daqui para frente. Assim como os carros a combustão e híbridos, o etanol continuará sendo viável para cargas médias e distâncias médias”, diz.

Para trajetos e cargas médias, veículos híbridos serão a opção | Crédito: Divulgação VW

Etanol tem como vantagem estrutura de abastecimento já existente

Com o avanço do mercado de veículos eletrificados (EV, na sigla em inglês), uma dúvida seria com relação ao futuro dos biocombustíveis. “Nós temos um combustível com uma pegada de carbono muito menor que o seu concorrente hoje, a gasolina”, observa o presidente da Associação das Indústrias Sucroenergéticas de Minas Gerais (Siamig), Mário Campos.

De e acordo com a Agência Internacional de Energia (IEA, em inglês), o petróleo perderá espaço para biocombustíveis e eletrificação na América Latina até 2050. Já a demanda global por combustíveis fósseis deve atingir pico até 2030.

O dirigente ressalta que, além da vantagem ambiental, o etanol tem como ponto favorável a estrutura de abastecimento que já existe espalhada pelo País, diferente do conceito dos veículos 100% elétricos. Ele lembra ainda que há vários tipos de veículos eletrificados, que podem ser 100% elétricos ou híbridos.

Para o dirigente, o modelo híbrido flex (HEV), equipado com motores elétricos e a combustão, é uma alternativa mais interessante para o Brasil. “Também tem outra possibilidade que é o veículo híbrido somente a etanol. Afinal, tem uma grande montadora que anunciou que em 2024 poderá ter esse veículo.”, diz.

O professor de engenharia mecânica do Insper, Celso Argachoy, afirma que um grande desperdício de recursos deixar de lado os biocombustíveis. “É preciso entender que existem aplicações em que os veículos elétricos são a melhor solução, como em regiões metropolitanas densamente povoadas, com trânsito intenso”, diz.

O etanol de cana-de-açúcar pode ser replicável em outros países | Crédito: REUTERS/Marcelo Texeira

Etanol internacional

Por fim, o presidente da Siamig ressalta outra vantagem dos biocombustíveis, que é o modelo replicável do Brasil em outros países. A Indonésia, por exemplo, vai retomar o programa de mistura de etanol na gasolina como parte da estratégia para expandir renováveis.

A medida foi confirmada pelo ministro de Energia e Recursos Minerais, Arifin Tasrif, durante o seminário Mobilidade Sustentável: Ethanol Talks, no último dia 9, em Jacarta. A Índia, que também participou do evento, compartilhou a experiência de cooperação com o Brasil no desenvolvimento do programa etanol indiano, que antecipou em cinco anos, para 2025, a meta de mistura de 20% na gasolina. Atualmente, o blend de etanol está entre 10% e 12%.

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