Venda de eletroeletrônicos cresce 13% no 1º semestre, mas ainda não recupera perdas

A indústria nacional de eletroeletrônicos fechou o primeiro semestre com crescimento de 13% nas vendas frente ao mesmo período de 2022, segundo levantamento divulgado ontem pela Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros), que monitora os indicadores de comercialização da indústria para o varejo.
Foram vendidas 44,02 milhões de unidades nos seis primeiros meses de 2023, ante 39,07 milhões de produtos registrados no mesmo período do ano anterior. Minas Gerais é o segundo maior mercado consumidor do País, atrás apenas de São Paulo.
Em 2022, o cenário era bem diferente, já que no intervalo de janeiro a junho de 2022 na comparação com igual período de 2021, o resultado foi de queda de 15%.
O crescimento contínuo do setor neste ano, registrado a partir de janeiro, interrompeu um dos piores ciclos históricos da atividade que vinha registrando 18 meses de quedas consecutivas e que tiveram como consequência altos níveis de ociosidade.
O resultado do primeiro semestre de 2023 foi puxado pelo segmento de portáteis, que conta com mais de 30 linhas de produtos e, consequentemente, detém o maior portfólio do setor eletroeletrônico. Foram 30,99 milhões de unidades desses produtos nos primeiros seis meses de 2023 em relação ao mesmo período de 2022, quando o setor comercializou 27,31 milhões de unidades, o que representa um crescimento de 13%.
O produto que apresentou o maior crescimento neste segmento nos seis primeiros meses deste ano foi a Air Fryer, com vendas 85% acima das registradas entre janeiro e junho de 2022.
O setor de linha branca, representado, principalmente por geladeiras, fogões e máquinas de lavar roupas, teve alta de 4% nas vendas nesse período. Apesar do crescimento, é, segundo a entidade, um dos piores períodos da década.
Apesar do desempenho positivo, a entidade mantém a cautela. A principal incerteza por parte dos fabricantes é se este ciclo positivo irá se manter no segundo semestre ou se os resultados refletem estritamente um forte movimento de reposição de estoque pelo varejo, visto que o segundo semestre de 2022 trouxe volumes muito baixos.
O presidente executivo da Eletros, Jorge Nascimento, explica que setembro será um mês importante para a análise mais profunda do ano de 2023, já que é o período que começam as entregas da indústria para o varejo em função da Black Friday e Natal.
De acordo com ele, se o segundo semestre se mantiver dentro da média histórica de desempenho do segmento, é possível prever um crescimento anual entre 4% e 6% frente ao resultado do ano passado.
Vendas de eletroeletrônicos devem se beneficiar de corte na Selic
Para o coordenador do curso de Ciências Contábeis da Estácio Venda Nova, Alisson Batista, as perspectivas para o segundo semestre são positivas, já que o Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central (BC), já sinalizou a possibilidade de que haja a diminuição da taxa de juros. “Com isso, os financiamentos dos eletroeletrônicos devem ficar ainda mais acessíveis. Então, a chance do setor continuar com o crescimento face 2022 é de fato uma tendência”, analisa.
O especialista acrescenta que ainda não é possível dizer que o segmento deve conseguir resultados no mesmo patamar de antes da pandemia, mas possivelmente 2023 deverá fechar com desempenho melhor que o verificado em 2022.
Entrave
Para o executivo, a redução da taxa básica de juros, a Selic, é necessária para impulsionar as vendas no setor. “Com maior estabilidade na inflação, nos custos das matérias-primas e do frete, reduzir os juros passa a ser uma prioridade para todo o setor produtivo”, frisa.
A Selic, que é definida pelo Copom, do BC, está em 13,75% ao ano. A taxa está nesse nível desde agosto do ano passado, e é o maior nível desde janeiro de 2017, quando também estava nesse patamar.
Nascimento explica que a alta nos juros impacta especialmente nas vendas dos produtos de grande porte, como geladeiras, fogões, máquinas de lavar roupas e televisores com telas maiores, já que a maior parte das vendas é feita por meio de financiamento pelo consumidor. “As dificuldades no acesso e o custo do crédito prejudicam a indústria e o varejo”, diz.
Ritmo ainda está abaixo do período pré-pandemia
Apesar das 44,02 milhões de unidades vendidas no acumulado dos seis primeiros meses de 2023, o nível de atividade industrial do setor de eletroeletrônicos ficou abaixo do registrado no mesmo período de 2019, antes da pandemia, em que foram comercializados 47,13 milhões de unidades de produtos pelo setor.
Em 2022, o desempenho da indústria de eletroeletrônicos foi particularmente ruim, segundo a entidade. O volume produzido no ano passado projeta um retrocesso de mais uma década. Em algumas linhas de vendas como a de televisores, por exemplo, o volume ficou semelhante ao registrado em 2017.
O presidente da Eletros também destacou a importância da reforma tributária na redução do custo Brasil a partir de um modelo mais simples, mais eficiente e menos burocrático e frisou a importância do desenvolvimento de uma política nacional para o setor. A Eletros tem participado das discussões sobre a neoindustrialização, nova política industrial anunciada pelo governo federal.
Nascimento diz que a indústria oferece produtos muito mais eficientes que no passado, o que impacta positivamente o meio ambiente. “Seria importante equacionarmos políticas públicas voltadas para substituição dos eletroeletrônicos com muitos anos de uso, em especial, para consumidores de baixa renda, classe média, empresas e órgãos públicos. Mais do que impulsionar a indústria, a medida seria benéfica ao meio ambiente e proporcionaria economia na conta de água e luz das famílias brasileiras”, argumenta.
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