Vendas de cimento sobem, e setor espera manter o crescimento

Após ter um bom desempenho na primeira metade do ano, a indústria do cimento espera manter o crescimento nos últimos seis meses, encerrando 2025 com alta nas vendas. O setor enfrenta desafios e preocupações, mas acredita que os fatores positivos devem se sobressair.
Conforme o Sindicato Nacional da Indústria do Cimento (Snic), a comercialização de cimento subiu 3,5% no primeiro semestre em relação a igual intervalo de 2024, totalizando 32 milhões de toneladas. Todas as regiões do País venderam mais no período, com destaque para o Nordeste (7,4%), seguido pelo Sul (5,5%), Norte (4%), Sudeste (1,6%) e Centro-Oeste (1,3%). O Sudeste negociou o maior volume: 14,6 milhões de toneladas.
Segundo o diretor da entidade, Bernardo Jannuzzi, as principais alavancas para o avanço do consumo de cimento foram o setor imobiliário e o mercado de trabalho. O primeiro segue aquecido, impulsionado pelo Minha Casa, Minha Vida (MCMV), cujos lançamentos tiveram alta anual de 32% no primeiro trimestre. O segundo tem apresentado recordes no número de empregos formais e na massa salarial, além de queda na taxa de desemprego.
O aumento das vendas também foi motivado por mais dois fatores, de acordo com o dirigente. Um deles é a base fraca de comparação. O outro se refere ao setor de infraestrutura. Ele ressalta que, embora o Projeto de Aceleração do Crescimento (PAC) ainda não tenha deslanchado como o previsto, o setor observou gastos governamentais em malha viária.
Em viés otimista, setor projeta avanço no consumo entre 3% e 3,5%
Sobre o segundo semestre, Jannuzzi diz que as cimenteiras crêem na manutenção do ritmo de vendas de cimento. Além de a última metade do ano ser, historicamente, melhor do que a primeira, o setor considera que o mercado imobiliário e o mercado de trabalho continuarão impulsionando o consumo do material. Adicionalmente, há espaço para maior inserção do insumo em obras viárias e de saneamento, a depender de impulsos governamentais.
No entanto, o diretor pondera que, assim como ocorreu entre janeiro e junho, há pontos de atenção para o período de julho a dezembro. A Selic, por exemplo, continua elevada, já refletindo no financiamento imobiliário, que apresenta queda no número de unidades contratadas neste ano. A crescente utilização do programa de habitação do governo para a aquisição de imóveis usados também preocupa, pois pode frear a compra de imóveis novos.
No campo das preocupações, estão ainda o possível aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), a provável taxação da Letra de Crédito Imobiliário (LCI) e o comprometimento da renda familiar com as casas de apostas. O economista do Snic, Flávio Guimarães, acrescenta à lista os altos níveis de endividamento e inadimplência das famílias.
Diante desse cenário, o Snic projeta um crescimento de 2,1% nas vendas de cimento em 2025, com viés otimista de que esse percentual ficará entre 3% e 3,5%. “Estamos colocando na balança o que é bom e o que é ruim. O bom ainda pesa mais até o final do ano”, afirma Jannuzzi. “A tendência é que 2026 seja um pouco mais complicado”, ressalta.
Impacto da tarifa dos EUA para a indústria do cimento
A tarifa de 50% imposta pelo governo norte-americano para a importação de produtos brasileiros não afeta diretamente a indústria do cimento. O diretor do Snic, Bernardo Jannuzzi, afirma que o setor não exporta para os Estados Unidos nem realiza importações.
O efeito, no entanto, será indireto, de acordo com ele, uma vez que o dólar pode subir, resultando em aumento da inflação e até mesmo em alta dos juros, o que levaria à diminuição do poder de compra das famílias. Além disso, o coque de petróleo – insumo utilizado pelo setor e responsável por 40% do custo de produção – é dolarizado.
De acordo com o dirigente, as cimenteiras podem sofrer impacto direto caso o governo federal retalie os Estados Unidos com base na Lei de Reciprocidade. Isso porque as traders que enviam o coque ao País são dos EUA. “Se o Brasil também aplicar uma sobretaxa de 50%, teremos o dólar lá em cima e ainda uma taxação adicional de 50%”, enfatiza.
Justamente visando reduzir o uso de coque de petróleo, o setor tem buscado implementar o coprocessamento. “Hoje, a matriz energética da indústria do cimento já substitui 32% do combustível fóssil. Temos a meta de alcançar 55% até 2050, chegando perto de países que são referência, com mais de 70%”, destaca o economista do Snic, Flávio Guimarães.
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