Economia

Vendas do varejo de materiais de construção continuam em queda

Juros altos, renda comprimida e adiamento das compras em meio a expectativa da reforma tributária impulsionaram os resultados negativos
Vendas do varejo de materiais de construção continuam em queda
No Sudeste, vendas de cimento caíram 1,1% no primeiro semestre frente a 2022, segundo Sindicato Nacional da Indústria | Crédito: Alisson J. Silva

O setor de materiais de construção segue registrando resultados negativos em 2023. Os motivos do declínio são, sobretudo, a manutenção dos juros em 13,75% ao ano e a queda da renda . O adiamento das compras da população, por consequência de uma espera de como a economia brasileira vai se comportar após a reforma tributária, também é um motivador para a queda.

As explicações são de Wagner Mattos, diretor do Sindicato do Comércio Varejista e Atacadista de Material de Construção, Tintas, Ferragens e Maquinismos de Belo Horizonte e Região (Sindimaco BH e Região) e da Associação do Comércio de Materiais de Construção de Minas Gerais (Acomac-MG). Conforme ele, o faturamento apurado pelo setor no Estado no primeiro semestre deste ano foi aquém do registrado no mesmo intervalo de tempo em 2022.

Embora não informe o percentual, Mattos afirma que o cenário de juros altos e de renda limitada continuam pressionando o mercado todo para baixo, mesmo o setor sendo amplo, com produtos variados e impactados de forma distinta. Segundo o diretor, o ritmo da construção diminuiu e as pessoas estão aguardando para saber se a taxa Selic vai cair nos próximos meses.

Ainda conforme ele, a discussão sobre a reforma tributária, aprovada em dois turnos na Câmara dos Deputados na última sexta-feira (7), deixa o setor sobressaltado. Isso porque os consumidores preferem aguardar o desenrolar da história para ver se os preços dos produtos vão encarecer ou baratear. Sendo assim, há um movimento de postergação de início de obras e de vendas.

Apesar do otimismo para o segundo semestre, ano deve fechar estável

A queda de janeiro a junho não deve se repetir no período de julho a dezembro. Segundo Mattos, com o governo conseguindo arrumar a “casa” e direcionar as reformas, deve haver uma redução de risco e o bom movimento tende a voltar. Ele explica que as medidas governamentais e a redução dos juros não terão efeito imediato no setor, mas terão resultados a médio e longo prazos.

“Começando uma queda de juros, dentro de três meses, as pessoas vão pensar em começar a obra porque na hora que estiverem precisando de dinheiro lá na frente, os juros vão estar mais baixos. Então, estou otimista com relação ao segundo semestre”, acredita.

Apesar do otimismo para os últimos seis meses, o diretor salienta que não sabe se os resultados positivos compensarão as perdas do início do ano. Segundo ele, se o setor de materiais de construção conseguir fechar no “zero a zero” ou com um pequeno crescimento já será razoável.

Indústria brasileira também apura queda

Ontem, a Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção (Abramat) divulgou o Índice Abramat de junho. A pesquisa, elaborada pela Fundação Getulio Vargas (FGV) com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostrou que o faturamento do setor caiu 3,3% no primeiro semestre de 2023 frente ao mesmo período de 2022.

O levantamento ainda aponta que, em junho, a indústria brasileira de materiais de construção registrou um faturamento 3,8% inferior ao observado no mesmo intervalo do ano passado. Em relação a maio deste ano, o indicador também apurou queda, porém um pouco menor, de 1,9%.

Segundo o presidente da Abramat, Rodrigo Navarro, o segundo semestre será desafiador, com uma taxa de juros ainda em patamar elevado. Para ele, medidas como o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), com foco em obras de infraestrutura, e a efetivação do Minha Casa, Minha Vida (MCMV), voltado para o setor habitacional de interesse social, são pontos positivos a serem considerados na busca de reverter a estimativa de queda de 1,0% para este ano.

Rádio Itatiaia

Ouça a rádio de Minas