Economia

Vendas de veículos impulsionam comércio em Minas Gerais, que cresceu 3,7% em 2024

Mercado de trabalho aquecido e aumento real de renda contribuíram para o maior gastos das famílias
Vendas de veículos impulsionam comércio em Minas Gerais, que cresceu 3,7% em 2024
Crédito: Reprodução AdobeStock

As vendas do comércio varejista em Minas Gerais cresceram 3,7% no ano de 2024 se comparadas ao ano anterior (2023). A alta foi puxada, principalmente, pelo setor de veículos e motocicletas.

Os dados são da Pesquisa Mensal de Comércio (PMC), divulgada nesta quinta-feira (13) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No Brasil, as vendas do comércio varejista cresceram 4,7%.

Segundo o estudo, oito atividades das 11 pesquisadas contribuíram para o desempenho do comércio varejista mineiro durante o ano.

A maior elevação foi observada nas negociações de equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação, de 43,4%. Entretanto, o setor que mais influenciou o desempenho positivo do comércio no Estado, conforme explicação do analista do IBGE responsável pela pesquisa em Minas Gerais, Daniel Dutra, foi o de veículos, motocicletas, partes e peças, que cresceu 11,7%.

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As demais atividades que refletiram no índice foram:

  • artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos (11,7%);
  • outros artigos de uso pessoal e doméstico (9,9%);
  • móveis e eletrodomésticos (4,5%);
  • tecidos vestuários e calçados (4,1%);
  • material de construção (3,9%);
  • hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (3,5%).

Daniel Dutra esclarece que o setor de comunicação e informática não tem um peso tão alto para o indicador, e que a alta observada é em decorrência de uma empresa que passou a operar no Estado em 2024.

“Esse setor é muito rarefeito e tem poucas empresas, diferentemente dos supermercados, por exemplo, que têm muitas. Então, nesse mercado, uma só empresa impacta muito”, explica. 

Dutra esclarece, portanto, que a principal influência positiva para o resultado mineiro do ano passado veio do setor de veículos, motocicletas, partes e peças, que registrou recordes de vendas, e do setor de hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo.

“Supermercados têm um peso grande em Minas e o segundo maior peso é o de veículos e motocicletas. O Estado possui um mercado de revendedoras e aluguéis muito fortes, o que contribuiu com este desempenho. Ano passado Minas Gerais teve venda recordes de veículos e o setor cresceu em todos os meses do ano”, pontuou.

Ao analisar o índice pelos setores, o economista do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG), Erico Grossi, acredita, porém, que o crescimento maior do segmento de informática e comunicação é reflexo da digitalização da economia e da implantação do 5G.

No Brasil, entretanto, o crescimento deste segmento é mais tímido, de 0,7%. Quanto a esse ponto, Grossi atribui ao fato de Minas Gerais ter um polo e uma indústria forte de tecnologia e informação.

“Estamos entre os três estados com maior número de empresas nessa área e existem investimentos importantes nesse segmento por aqui. Por isso, esse destaque na economia mineira”, avalia.

Na contramão do crescimento, a demanda pelo atacado especializado em produtos alimentícios, bebidas e fumo caiu significativamente, com redução de 14,9%. Também registraram quedas nas vendas os segmentos de combustíveis e lubrificantes, com uma baixa de 8,2%, e o de livros, jornais, revistas e papelarias, com redução de 7,5% em comparação a 2023.

Mercado de trabalho aquecido e aumento da renda real elevam o consumo

Ao analisar os motivos do Estado e de todo o Brasil estarem vendendo mais, a economista da Fecomércio-MG, Gabriela Martins, explica que boa parte dessa influência positiva no comércio varejista mineiro e até nacional vem do mercado de trabalho aquecido e da maior disponibilidade de renda por parte das famílias.

“Isso, seja por conta das transferências feitas pelo governo federal, seja pelo ganho real obtido na correção do salário mínimo ano passado e até mesmo pela própria dinâmica do mercado de trabalho”, avalia.

Erico Grossi acrescenta ainda a este dois fatores o fato de o governo federal ter pagado, em 2024, R$ 80 bilhões em precatórios. “Isso gera maior disponibilidade de recurso para a população, o que reflete no consumo”, informa.

Crescimento de 4,7% do comércio no Brasil é o maior em 13 anos

Em todo o País,  as vendas do comércio cresceram 4,7% com relação a 2023. A alta foi a oitava consecutiva (desde 2017, quando o crescimento registrado foi de 2,1%), e o maior crescimento desde 2012, quando as vendas aumentaram 8,4%, conforme dados do IBGE.

Em 2024, todos os estados registraram crescimento nas vendas no comércio varejista, sendo o maior deles no Amapá (15,5%) e na Paraíba (11,4%). Minas Gerais ficou abaixo da média nacional (3,7%) representando o sexto menor crescimento no período entre as unidades da federação, abaixo de estados como São Paulo (4,6%) e Bahia (7,6%).

Na passagem de novembro para dezembro de 2024, 20 das 27 unidades da federação apresentaram recuos, com destaque para Ceará (-3,2%), Rio Grande do Sul (-1,7%) e São Paulo (-1%). Minas Gerais foi uma das sete unidades da federação que registraram avanço no período (1,3%). O destaque foi o Rio de Janeiro (2,9%).

Em comparação com o mesmo período do ano anterior (2023), houve predomínio de taxas positivas, com 22 unidades da federação apresentando variações positivas. Os destaques foram o Rio Grande do Sul (8,1%), Pernambuco (6,3%) e Distrito Federal (6,3%), enquanto Minas Gerais apresentou avanço de 1,9% nesse comparativo. O resultado nacional foi um crescimento de 2%.

Taxas de juros podem ser empecilho para o comércio em 2025

Com o aumento da taxa de juros (hoje, em 13,25%), a economista da Fecomércio, Gabriela Martins, avalia que a tendência é que o comércio comece a desacelerar o crescimento.

Juntamente com a inflação dos alimentos e de outros produtos de subsistência, como os combustíveis, haverá, segundo a economista, um comprometimento substancial do poder de compra das famílias, o que afeta negativamente as vendas do comércio.

Outro fator que pode influenciar a desaceleração do comércio neste ano é a desvalorização do Real, que encarece os produtos importados e eleva o custo de produção de alguns produtos nacionais, gerando um impacto negativo para o varejo.

“Apesar desses fatores, a desaceleração do crescimento do comércio em 2025 não deve significar uma ‘recessão’ do setor. Em 2025, o comércio deve encerrar o ano com resultados positivos, mas não tão expressivos quanto os observados em 2024”, conclui.

O economista do BDMG, Erico Grossi, também avalia que em 2025 os resultados não devem se repetir na mesma intensidade.

“Esperamos um arrefecimento da economia como um todo por causa dos juros. Isso vai impactar todos os setores. O comércio principalmente, porque é muito sensível às questões econômicas. Então, acredito que neste ano a economia cresça, porém, com um mercado menos pujante do que aconteceu em 2024”, diz.

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