Economia

Vendas do comércio no Estado caem em meio a incertezas na economia

Vendas do comércio no Estado caem em meio a incertezas na economia
Crédito: Charles Silva Duarte/Arquivo DC

O volume de vendas no comércio varejista em Minas Gerais apresentou um recuo de 1,9% na passagem de julho para agosto, conforme pesquisa divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Na comparação com o mesmo mês do ano anterior, a variação das vendas do comércio no Estado foi de -2,8%, seguindo a queda nacional, que foi de 4,1%. Os impactos causados pela alta na inflação, desemprego, queda na renda familiar, elevação no combustível e o setor político do País são fatores que estão desacelerando o poder de compra dos consumidores.

No acumulado do ano até agosto, o indicador do comércio varejista em Minas Gerais apresentou alta de 7,3%. Na variação dos últimos 12 meses, a elevação foi de 7,6%.

A coordenadora de pesquisas econômicas do IBGE em Minas Gerais, Cláudia Pinelli, explica que a queda de agosto reflete o cenário de incerteza vivido no País. “A alta da inflação, o desemprego, a queda da renda das famílias, além do (cenário) político, resultou em um recuo nas vendas no setor varejista em Minas Gerais”.

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Pinelli esclarece que uma das atividades que mais sentiu baixa nas vendas foram as de bens duráveis. “Durante a pandemia, com as famílias mais em casa, o home office, grande parte das pessoas investiram no conforto da casa, em compra de móveis e de eletroeletrônicos. Agora, com a ampliação da vacinação e da flexibilização, as pessoas voltaram a sair de casa e retomaram os trabalhos e, isso, mudou o perfil de consumo, porém com recuo nas vendas”, pontua. Em síntese, o volume de vendas, na passagem de julho para agosto de 2021, registrou queda de 3,1%, compensando a alta de 2,7% na passagem de junho para julho.

A coordenadora de pesquisas econômicas avalia que nem mesmo a sazonalidade da data comemorativa, do Dia dos Pais, em agosto, foi capaz de impulsionar as vendas. “As datas comemorativas são indicadores positivos para as vendas no varejo, porém a inflação alta e a baixa na renda das famílias têm prejudicado o consumo. Acreditamos que datas como a Black Friday e o Natal aquecem as vendas novamente”, salienta Cláudia Pinelli.

Segundo o IBGE, as atividades que apresentaram destaque no comércio varejista são livros, jornais, revistas e papelarias (30,7%), artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos (19,1%) e tecidos, vestuário e calçados (8,4%).

Já no comércio varejista ampliado, o setor de veículos, motocicletas, partes e peças apresentou avanço de 15,2% e o setor de material de construção apresentou recuo de 7,9%.

O economista-chefe da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Minas Gerais (Fecomércio-MG), Guilherme Almeida, analisa que em linhas gerais o comércio varejista no Estado, no acumulado em 12 meses, vem apresentando resultado positivo.

“Pensando na macroeconomia, a inflação está pressionando a renda das famílias, o que impacta diretamente o poder de compra das pessoas, além disso, temos a crise hídrica, as eleições ano que vem, e essas questões acabam gerando incerteza nos consumidores”, explica.

Almeida esclarece que as datas comemorativas são sazonais, porém importantes para o varejo. “Essas datas aumentam o volume de vendas seja pelo valor emotivo, como no caso do Dia das Mães ou das Crianças, ou comercial, como a Black Friday. O segundo semestre é um período melhor para o comércio pois são datas em que há geração de vagas de empregos temporários, pagamentos de 13° salário, o que acaba incrementando a renda das famílias”, avalia.

O economista-chefe da Fecomércio-MG aponta que entre os segmentos de maior destaque de compra no mercado varejista estão os brinquedos, livros, além de supermercados, hipermercados e medicamentos.

Para quem planeja fazer compras neste fim de ano, o ideal é o planejamento. “Faça um planejamento adequado. Coloque na lista as contas rotineiras, depois as que você já se comprometeu. Se há possibilidade de pagamento à vista, peça desconto. Se for parcelar, veja as melhores condições e não deixe de pagar até o vencimento para que não pague juros depois”, salienta Almeida.  

Setor mostra pessimismo para o resto do ano

O superintendente da Associação dos Lojistas de Shopping de Minas Gerais (AloShopping), Alexandre Dolabella, disse que os empresários e comerciantes foram pegos de surpresa com a pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que indicou recuo de 1,9% nas vendas no varejo em Minas Gerais. 

“Achávamos que o comércio estava melhorando, porém em setembro os lojistas já estavam sentindo a queda nas vendas. Apesar de recebermos com surpresa essa pesquisa, estamos sentindo essa queda nas vendas”.

Dolabella esclareceu ainda que um dos setores que teve as piores vendas para o mês de setembro foi o setor de artigos pessoais e utilidades. “Uma queda de 16%, ou seja, os lojistas não venderam nada. Sinal que teremos um resto de ano péssimo. Não acredito que a Black Friday e nem o Natal sejam datas de um bom volume de vendas”, avalia.

O superintendente da AloShopping, que estimava um crescimento para o fim de ano, aponta que o setor varejista está com grande dificuldade para compra de mercadoria e reposição de estoques. 

“Além disso, quando conseguimos fazer essa reposição, os produtos estão vindo com valores altos, que acabam sendo repassados para os consumidores. As famílias estão com a renda impactada com a alta da inflação, energia elétrica, crise hídrica e elevação do combustível. Isso faz com que apenas os produtos essenciais sejam consumidos”, opina.

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