Vendas do comércio varejista têm queda de 7,7% em Minas Gerais

O volume de vendas do comércio varejista em Minas Gerais recuou 7,7% de maio para junho, registrando a segunda queda do ano. No Brasil, este recuo foi mais tímido, de 1,4%, segundo a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
“Este recuo é melhor analisado se atentarmos que os últimos dois meses tiveram indicadores atípicos, com forte alta em maio (8,9%), seguida de intensa queda em junho (-7,7%). Quando em um mês o número é muito alto, o outro tem maiores chances de queda diante desta base de comparação”, informa o analista do IBGE Daniel Dutra.
A pesquisa teve uma correção expressiva: inicialmente, a alta divulgada foi de 3,6% em maio. O motivo dela ter sido consolidada em 8,9% ainda não foi explicado pelo IBGE.
Ao longo dos últimos meses, o varejo de Minas, com pequenas variações, tem vendido mais do que o brasileiro. De janeiro a junho de 2022, Minas Gerais apresentou avanço de 7,3% (4 taxas positivas e 2 negativas), sendo que no Brasil foi verificado um avanço de 3,6% desde o início do ano.
“De fato, se considerarmos somente os dados de 2022, Minas Gerais ainda tem crescimento maior que o do Brasil. De janeiro a junho, o comércio varejista mineiro teve um avanço de 7,3% (4 taxas positivas e 2 negativas), enquanto no Brasil este índice, desde o início do ano, foi de 3,6%”, aponta Dutra.
“O comércio vai além da recuperação, ao registrar um volume de vendas 12,4% acima do patamar pré-pandemia”, acrescenta.
Quando comparado ao mesmo mês do ano passado, o desempenho do comércio varejista em Minas foi influenciado principalmente pelas vendas no grupo de artigos farmacêuticos (22,8%), seguido por combustíveis e lubrificantes (8,8%), únicas categorias que tiveram crescimento nas vendas.
A performance do primeiro grupo reflete a alta dos medicamentos, um produto que dificilmente pode ser substituído. Pelo contrário, o consumidor tende a reduzir outros gastos para não deixar de comprar seus remédios.
A retração geral na comparação com maio foi disseminada por seis das oito atividades investigadas pela pesquisa. Duas delas tiveram grande influência sobre o índice geral do varejo: tecidos, vestuário e calçados, com queda de 8,4%, e hiper e supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo, segmento que recuou 0,5% no período.
Em números, porém, a atividade que mais recuou foi a de móveis e eletrodomésticos (-21,2%), seguida por equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação (-12,3%). No comércio varejista ampliado, o setor de veículos, motocicletas, partes e peças apresentou queda de 2,5%.
Material de construção
As vendas de material de construção, que explodiram na pandemia devido às reformas domésticas durante o isolamento social, continuam em queda. Comparadas às de junho do ano passado, as vendas do mês neste ano tiveram redução de 11,4%. Quando se compara o primeiro semestre de 2022 com o mesmo período do ano passado, a queda do setor foi de 11,2%.
“A inflação da construção está maior do que o IPCA, o que refreia o consumo e o volume de vendas cai, inclusive pela perda de poder aquisitivo da população”, analisa Daniel Dutra.
“Em alguns segmentos, vende-se menos, mas a receita é maior, o que indica o impacto da inflação. Podemos ver isso ainda no setor de combustíveis, mas principalmente na venda de artigos farmacêuticos e nos próprios supermercados”, complementa o analista.
Na passagem de maio para junho, 23 das 27 Unidades da Federação apresentaram recuos, com destaque para Minas Gerais (-7,7%, a maior entre os estados), Espírito Santo (-2,5%) e São Paulo (-2,5%). Por outro lado, apenas quatro unidades federativas tiveram resultados positivos, com destaque para a Paraíba, com alta de 2,5%.
Na comparação com o mesmo mês do ano anterior (junho de 2021), houve predomínio de taxas positivas, com 14 das 27 unidades federativas com vendas no varejo em crescimento. Os destaques foram Roraima (13,3%), Alagoas (11,4%), Mato Grosso do Sul (9,5%) e Rio Grande do Sul (7,1%). Minas Gerais registrou discreto recuo de 0,1%.
No acumulado do ano, janeiro a junho de 2022, em relação ao mesmo período do ano anterior, 18 das 27 UFs apresentaram indicadores positivos, com destaque para Roraima (11,8%), Espírito Santo (8,6%), Rio Grande do Sul (8,5%) e Mato Grosso (7,5%). Minas Gerais apresentou avanço de 1,6%.
No acumulado dos últimos 12 meses, em relação ao mesmo período do ano anterior, 18 das 27 unidades federativas apresentam indicadores negativos, com destaque para Bahia (-6,8%) e Sergipe (-6,3%). Em Minas Gerais, as vendas do comércio varejista apresentaram recuo de 0,4%.
A Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) produz indicadores que permitem acompanhar o comportamento conjuntural do comércio varejista no País, investigando a receita bruta de revenda nas empresas formalmente constituídas, com 20 ou mais pessoas ocupadas, e cuja atividade principal é o comércio varejista.
País tem maior queda mensal desde 2021
São Paulo/Rio de Janeiro – As vendas no varejo do Brasil chegaram ao fim do segundo trimestre com a maior queda mensal desde o final do ano passado, recuando mais do que o esperado em junho, com perdas disseminadas entre as atividades em meio à inflação elevada e o crédito apertado.
Em junho o setor registrou contração de 1,4% nas vendas na comparação com o mês anterior, de acordo com os dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O resultado é o segundo seguido no vermelho, com o setor acumulando nesses dois meses perda de 0,8% na comparação com o bimestre anterior. Também foi a contração mais intensa desde dezembro do ano passado (-2,9%) e mais forte do que a expectativa em pesquisa da Reuters de recuo de 1,0%.
Apesar das duas leituras negativas seguidas, as vendas varejistas encerraram o segundo trimestre com ganho de 1,1% na comparação com os três primeiros meses do ano.
“Há uma perda de fôlego no terceiro bimestre frente aos anteriores. O segundo trimestre ainda tem um abril positivo que destoa e fica distinto do movimento da ponta”, explicou o gerente da pesquisa, Cristiano Santos.
“O que está por trás disso…é o crédito mais caro com juros elevados. A inflação continua fazendo muita pressão nas atividades, uma vez que em junho ela era ainda muito pronunciada para combustíveis e alimentos”, completou Santos.
Na comparação com o mesmo mês do ano anterior, as vendas recuaram 0,3%, também pior do que a expectativa de estabilidade.
O desempenho do setor varejista brasileiro veio mostrando perda de força ao longo do ano, com medidas de auxílio do governo e a recuperação do emprego sendo compensadas pela inflação elevada e pelo aperto de crédito.
De acordo com o IBGE e com analistas, a renda adicional proporcionada por medidas do governo na primeira metade do ano acabaram sendo usadas para pagamento de dívidas e eventualmente para poupança.
“Boa parte desses recursos não vão para o consumo dessa vez, vão para … esse endividamento. Diferente do ano passado, de 2020, não vai dar aquela sensação de compras muito mais fortes”, disse o estrategista da RB Investimentos Gustavo Cruz.
O segundo semestre, entretanto, pode registrar novo fôlego, com a combinação da redução do ICMS de itens essenciais e aumento da renda das famílias com a PEC dos Benefícios, que tem por objetivo aumentar ou criar novos benefícios sociais. (Reuters)
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