Visita de Lula pode ser um recomeço para reaproximar Minas Gerais e Japão

Distanciada recentemente, a relação comercial entre Minas Gerais e Japão pode iniciar um capítulo de retomada com a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à potência nipônica. O Estado e o País podem, inclusive, aproveitar espaços na economia da Terra do Sol Nascente, criados pela guerra comercial provocada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Mas até pela cautela japonesa, algum resultado levará tempo para acontecer.
No ano passado, as exportações do Estado para o país asiático movimentaram US$ 1,1 bilhão, um aumento de 1,26% em relação ao montante movimentado em 2023, e foram lideradas, principalmente, pelo café, ligas metálicas, minério de ferro e celulose.
Já as importações de Minas Gerais do Japão, em 2024, cresceram 5,19% em relação ao ano anterior e movimentaram US$ 372,5 milhões, lideradas sobretudo pelo setor automotivo – autopeças e veículos – e máquinas e equipamentos. Com isso, houve um superávit de US$ 740 milhões na balança comercial do Estado com a quarta maior economia do mundo.
O economista e professor associado da Fundação Dom Cabral (FDC), Eduardo Menicucci, destaca que, até por limitações territoriais, os japoneses são “exportadores de indústrias” e investem em plantas industriais ao redor do mundo. E nos últimos anos, o Japão diversificou seus aportes, só que distante do Brasil.
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Até mesmo dentro do território brasileiro, o empresariado japonês recentemente tem apostado em estados como Amazonas e Pará, enquanto em Minas Gerais prefere se desfazer dos investimentos, como no caso da Usiminas, em que o grupo ítalo-argentino Ternium assumiu o controle da empresa após comprar uma fatia da Nippon Steel.
Segundo o economista, há uma menor atratividade na cadeia produtiva mineira em relação aos outros estados. “Minas ficava focado em ter uma siderúrgica e esquecia que tinha também mais coisas, de tecnologia com outras indústrias, das tradings japonesas, que eles são muito bons e conseguem abrir mercado, que a gente deixou passar”, explica.
O cônsul honorário do Japão em Belo Horizonte, Wilson Brumer, com vasta experiência profissional com os japoneses, aponta também uma questão nacional para a parceria entre os dois países não viver mais os seus melhores dias. “A relação já foi maior do que é hoje. Em função de um momento que o País viveu, de muita inflação, a complexidade tributária afugentou muitos japoneses. São pontos que para os japoneses são difíceis de entender”, disse.
O professor de Administração do Centro Universitário Newton Paiva Wyden, Franz Petrucelli, adiciona ainda que a guerra comercial provocada por Trump pode gerar oportunidades para a economia do País e do Estado, principalmente em relação às carnes, em que pese o rígido controle de qualidade do Japão, na pauta de negociações da comitiva brasileira. Os Estados Unidos são um dos maiores fornecedores de carne do Japão.
“Com essa guerra comercial que o Trump está provocando, na verdade o que está proporcionando por outro lado? Que os países procurem novas relações comerciais”, declarou Petrucelli.
Visita de empresários de Minas à exposição no Japão
O economista da FDC está otimista que a visita do presidente Lula ao Japão dê resultado, mas ressalta que é preciso verificar a participação mineira na comitiva para ver se efetivamente um resultado nacional seria compartilhado com o Estado.
“Vejo com excelentes olhos essa missão e ainda mais levando quem levou, mas se a gente não for lá e falar que temos café, minério de ferro, outros minerais, outras culturas do agronegócio, uma agroindústria aqui, infelizmente Minas não vai estar na lista de prioridade do japonês. Quem não é visto não é lembrado”, argumenta Menicucci.
Wilson Brumer destacou que é importante a visita presidencial ter um foco voltado ao mercado das médias empresas japonesas. Elas ainda têm um contato muito incipiente com as médias empresas brasileiras, dificultado pela distância, língua e a complexidade do Brasil.
Ele afirma que há um grande espaço a ser ampliado nesse campo, mas que será necessário ter paciência. “O japonês, por natureza, é mais lento para decisões. A gente não pode esperar que, no dia seguinte à visita, teremos vários investimentos aqui. É uma questão de ir criando um ambiente favorável”, pontua Brumer.
Ele revelou que, em junho, a Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg) levará uma comitiva com cerca de 230 empresários brasileiros, em sua maioria de médias e pequenas empresas, até a Expo Osaka 2025, no Japão, evento que promove soluções inovadoras para desafios globais. A feira deve receber 28 milhões de visitantes de 158 países neste ano.
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