Especial

Agronegócio busca redução de impactos

Crédito: Divulgação/Senar

O agronegócio é, sem dúvida, uma das atividades com maior potencial de emissão de carbono. A tecnologia, porém, é a maior aliada na solução do problema. O gargalo está na democratização da solução através de informação e barateamento do custo.

O presidente da Comissão Nacional de Bovinocultura de Corte da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA) e vice-presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg), Antônio Pitangui de Salvo, é um entusiasta dos Sistemas de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), trabalhando em suas propriedades dentro do protocolo Carne Carbono Neutro (CCN).

“A solução é simples e direta: quanto mais tecnologia for utilizada em todas as fases – melhorar a pastagem, proteger o solo, cuidar da saúde do animal, melhorar a genética – maior será o sequestro de carbono. Se fizermos a integração lavoura-pecuária-floresta a eficiência aumenta muito. Além de aumentar a sustentabilidade, a tecnologia evita a abertura de novas áreas. Isso já chega aos médios e pequenos produtores. A dificuldade ainda é a assistência técnica e gerencial. A Embrapa vem trabalhando nisso de maneira muito forte”, afirma Salvo.

Formação

Para atender essa demanda, o Sistema Faemg/Senar/Inaes oferece cursos de Agricultura de Carbono Neutro (ACN): Recuperação de Pastagens; Plantio Direto – Adubação Verde; ILPF. Os treinamentos foram desenvolvidos com o objetivo de fomentar o uso das tecnologias de baixa emissão de gases para combater os efeitos do aquecimento global.

Responsabilidade compartilhada

Além de cuidar das emissões pertinentes diretamente às suas atividades, a indústria de alimentos deve também contribuir para que os produtores rurais sejam ambientalmente responsáveis. Sediada em Lagoa da Prata, na região Central, a Embaré Alimentos trabalha a qualificação dos seus fornecedores, especialmente os responsáveis pelo leite.

Para o gerente de Garantia da Qualidade da Embaré, Luiz Augusto Rezende Lima, o produtor carece de recursos e conhecimentos que podem ser compartilhados pela indústria. “Temos equipes no campo, avaliando qualidades do produto, boas práticas de produção, manuseio e higiene. Isso é importante porque os ajuda a alcançar suas metas e também as nossas, já que as medições são realizadas ao longo da cadeia. Além disso, nos garante um insumo de melhor qualidade, capaz de melhorar a performance do nosso processo como um todo”, pontua Lima.

Outra ação importante da empresa é o projeto de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL). Nele, parte do biogás, gerado na Estação de Tratamento de Efluentes Industriais (ETEI), é conduzido a um gerador e transformado em energia elétrica. São gerados 500 mil kWh/ano. Outra parte retorna para a fábrica e é utilizada como combustível para a geração de vapor na caldeira biomassa. Com essas ações, a Embaré deixa de emitir 795.200 m³ de metano na atmosfera.

“A questão do custo é delicada. Você só consegue mudar esse cenário quando a sustentabilidade passa a ser estratégica para a companhia. Não pode ser avaliada pelo viés do lucro imediato. Muitas vezes o retorno é intangível. Em uma estação de efluente foram investidos R$ 10 milhões em cinco anos, por exemplo. A empresa será vista como responsável por um mercado cada vez mais exigente, inclusive fora do Brasil”, destaca o gerente de Garantia da Qualidade da Embaré.

Inter possui modelo de negócio baixo carbono e escalável

Algumas atividades parecem emitir pouco carbono e, assim, teoricamente, não precisariam se preocupar com o aquecimento global. Mas não é simples assim. O que uma empresa digital pode fazer para diminuir esse passivo é uma pergunta que o Inter – com sede em Belo Horizonte – se faz.

De acordo com o gerente de sustentabilidade do Inter, Christiano Rohlfs Coelho, escalar o negócio sem a necessidade de abrir agências físicas já ajuda a alcançar as metas, mas não é o suficiente.

“Em 2015, demos um passo importante escalando nosso modelo de negócios. Isso via agências teria um impacto ambiental muito maior. Concomitantemente lançamos os dados todos para a nuvem, consumindo 84% menos energia e 24% menos carbono. Não precisamos criar CPDs (centros de processamento de dados). É um modelo de negócio inclusivo, baixo carbono e escalável”, explica Coelho.

Coelho: gerar mais impactos bons | Crédito: Divulgação

Hoje, o Inter não se define mais como um banco digital, mas como uma plataforma de negócios que além de serviços financeiros oferece seguros e atua no varejo, através de um marketplace. Para os clientes de Minas Gerais, já está disponível o aplicativo Inter Energia, em parceria com a Alsol, que promete reduzir o valor da conta de energia e transformar a matriz energética em ecoeficiente.

“Buscamos atuar em cada uma dessas avenidas tecnológicas aumentando a eficiência dos processos, seja digitalizando a carteira de crédito, por exemplo, economizando 1,9 tonelada de papel/ano. Com a assinatura eletrônica dos documentos internos, evitamos lançar 89 mil quilos de carbono na natureza. Estudamos formas através da nossa materialidade para gerar mais impactos bons”, completa o gerente de sustentabilidade do Inter.

Movimento coordenado

Segundo o presidente da WayCarbon, Henrique Pereira, a iniciativa privada tem um papel fundamental na condução das políticas de combate às mudanças do clima, especialmente em momentos de negação da ciência como o que aconteceu nos Estados Unidos, durante o Governo Trump, e agora no Brasil. Sediada também na Capital, a WayCarbon presta consultoria no desenvolvimento de soluções de tecnologia e inovação voltadas para a sustentabilidade, gestão de ativos ambientais e no desenvolvimento de estratégias visando à ecoeficiência e a economia de baixo carbono.

Pereira: resposta tem que ser forte | Crédito: Divulgação

“Sempre que as lideranças nacionais afrouxam a agenda ambiental, é preciso ter uma resposta forte e positiva de responsabilização partindo das empresas para uma agenda verde e inclusiva. Com a mudança do cenário internacional, as empresas brasileiras que já vinham com um comportamento responsável, começam a ver a relevância estratégica dessa agenda. Temos visto muitas ações interessantes. A China está lançando o maior mercado de carbono do mundo. Um outro agente importante é o setor financeiro, cada vez mais em cima. Os planos de investimento da Europa e EUA têm elementos sociais e ambientais muito fortes. Aqui em Minas, temos indústrias que são grandes emissoras, mas também temos muitas oportunidades porque elas têm grandes projetos de mitigação”, afirma Pereira.

Rádio Itatiaia

Ouça a rádio de Minas